EUA: Declaração de Fundação do Partido pelo Socialismo e Libertação (PSL)

1 de agosto de 2004

Vivemos em um período os pobres e a classe trabalhadora do mundo toda estão travando uma luta heroica contra as guerras imperialistas e a exploração.

Milhões de pessoas foram as ruas nos últimos anos para prevenir a corrida de Bush e Cheney para entrar em guerra contra o Iraque, para só descobrir que essa guerra imperialista tinha o apoio de ambos os partidos políticos do imperialismo estadunidense, da mídia dos grandes negócios, das corporações e dos bancos.

Os protestos foram enormes – as maiores demonstrações anti-guerra já vistas. O movimento anti-guerra se expandiu ao redor do globo. Foi uma histórica demonstração da unidade das pessoas de todos os continentes se unindo contra o imperialismo estadunidense.

Entretanto, a máquina de guerra continuou a avançar. Hoje, dezenas de milhares de iraquianos estão mortos. Milhares de trabalhadores em uniformes, foram mortos ou feridos, com mais sendo enviados as suas mortes diariamente. Políticos de todas as estirpes prometem “uma guerra sem fim” – e isso acontece justamente pela forte resistência iraquiana a ocupação do Pentágono que ficou mais divagar, mas que, porém, não parou, os planos de uma nova guerra por seu império.

Se o movimento de massa dessa magnitude dos últimos anos não conseguiu prevenir uma guerra imperialista, o que pode fazer isso? O que vai parar a próxima guerra? Ou a guerra após essa?

Desde 1945, todas as gerações chamaram seus filhos e filhos e enviaram eles para invadir países estrangeiros: Coreia, Vietnam, República Dominicana, Camboja, Laos, Líbano, Granada, Panamá, Iraque, Somalia, Haiti, Ioguslavia, Afeganistão. Esses países não incluem as guerras financiadas pelos EUA contra Cuba, Nicaragua, Congo, Angola, Moçambique, Colombia, Filipinas, Venezuela e outros. Nem inclui as duas guerras mundiais imperialistas da primeira metade do século 20.

Hoje é o Iraque. Amanhã serão outros países. O senado dos EUA aprovou por unanimidade a adoção de um novo orçamento militar – 416 bilhões – em preparação para novas invasões, novos bombardeios, novas ocupações, novas chacinas. O Pentagono agora tem uma rede de 750 bases militares localizadas em 130 países – para não mencionar as 6 mil bases militares dentro dos EUA e seus territórios.

O Partido pelo Socialismo e a Libertação emerge desse movimento de massa anti-guerra com a firme convicção de que a fonte dessas guerras sem fim é o próprio capitalismo nos EUA. A solução para a guerra – para finalmente acabar com as “guerras sem fim” – é acabar com o sistema do capitalismo. Nós precisamos de uma revolução.

Socialismo é a única resposta

Disfarçado sob o rótulo de uma economia de livre mercado, o capitalismo nos EUA se desenvolveu na mais forte centralizada forma de capitalismo monopolista de Estado. Os bancos, os monopólios de mídias concentrados, as corporações transnacionais – especialmente as de óleo e os conglomerados de energia – junto ao Pentágono emergiram num permanente estado de guerra.

Há uma única solução para essa crise colocada pelo capitalismo monopolista de Estado: o socialismo. Para assegurar uma paz duradoura é necessário que a ditadura controlada por essa plutocracia e que está em estado de guerra seja abolida.

Pacifistas apelam para que a política externa da classe dominante seja “pacífica” ou “mais gentil”, isso é o pior engano promovido pelos sociais democratas e pelos oportunistas. Trabalhar para eleger um novo líder para presidir sobre as prioridades desse Estado de Guerra vai ter zero impacto em reduzir as chances de uma nova guerra. Como Lênin escreveu em 1916, dentro do sistema do imperialismo a paz é meramente um prelúdio para uma próxima guerra.

Guerras imperialistas como a invasão e a ocupação do Iraque são guerras feitas para os ricos, para os bancos, para as corporações. Os imperialistas se colocam envoltos de suas bandeiras, trazendo a tona chauvinismo e racismo contra os países que estão em sua mira.

A mensagem de nosso Partido é de que a classe trabalhadora desses países invadidos não é nossa inimiga. Se, por exemplo, a resistência no Iraque derrota a ocupação estadunidense de seu país, as pessoas trabalhadoras nos EUA não irão perder nada. Quando o imperialismo estadunidenses foi finalmente derrotado na sua ocupação do Vietnã, as pessoas trabalhadoras dos EUA não perderam nada.

Há 130 milhões de pessoas trabalhadoras nos EUA – incluindo os trabalhadores sem emprego, o exercito industrial de reserva do capitalismo. Nós trabalhamos todos os dias, produzindo toda a riqueza da sociedade com o nosso trabalho. Porém a realidade para aqueles que não são enviados para as guerras todos os dias está cada vez mais escassa: salários menores, sem planos de saúde, crescente pobreza, violência policial racista, perseguição a sindicatos, racismo estrutural, machismo e a opressão a comunidade LGBT.

Nosso partido foi criado para ser o veículo de uma classe trabalhadora multinacional na luta pela reorganização socialista da sociedade – uma sociedade baseada nos interesses da vasta maioria das pessoas, com base nas necessidades humanas, não no lucro privado. A ideia de que patrões e o capitalismo podem ser abolidos sem nenhum outro meio a não ser uma revolução é uma fantasia utópica.

Existem centenas, e realmente milhares, de organizações progressistas que fazem admiráveis e essenciais trabalhos, que lutam para mitigar os horrores produzidos pela pobreza, pela guerra, exploração, machismo, racismo, homofobia e outras “realidades” impostas pela dominação dos direitos de propriedade privada. Mas um caminho revolucionário é único em sua perspectiva de que a transformação da ordem social só pode tomar jeito por uma revolucionária reconstituição da sociedade.

Enquanto nós energicamente participamos em todos os movimentos de massas e organizações progressistas, nossa prioridade maior é construir um partido socialista e revolucionário. Todas as experiencias históricas provam que a criação de um partido revolucionário, feito de organizadores experientes com sua base na classe trabalhadora, é um fator indispensável para a revolução socialista.

Nós aderimos a analise do capitalismo e da sociedade de classes incialmente formulada e colocada em evidencia por Karl Marx e Friederich Engels, 150 anos atrás. O marxismo revolucionário, em contraste com todas as formas atuais de interpretações sociais-democratas do marxismo, foca em colocar em avanço a atual luta de classes como o único caminho para a classe trabalhadora tirar do lugar o poder político e econômico da classe dos bilionários.

Nós precisamos de um partido revolucionário

O marxismo revolucionário precisa de um partido revolucionário para florescer e prosperar. Marxismo não é uma doutrina abstrata, mas sim um guia para ação. Deve ser constantemente testado pela ação e pelo debate.

Sem um partido revolucionário da classe trabalhadora, a conquista do socialismo e do comunismo vão continuar um sonho. Ao contrário da burguesia, quando ainda estava crescendo, mas ainda sendo a classe oprimida na Europa sob o feudalismo, a classe trabalhadora não está acumulando sempre a riqueza em suas mãos. Foi a espontânea acumulação de riqueza na forma do capital que fez eventualmente triunfar de modo inevitável a classe capitalista.

Porém, como Marx mostrou, o processo de extração de mais-valor – a fundação da riqueza capitalista – faz a classe trabalhadora continuamente mais pobre em relação a sua classe inimiga. Os ricos realmente ficam mais ricos e os pobres mais pobres.

A pequena classe de grandes proprietários de propriedades privadas buscava poder político para si, à medida que acumulavam poder econômico. A classe trabalhadora só aparece como classe no cenário histórico quando atinge a consciência revolucionária de classe quando os trabalhadores percebem que devem ser o poder político da sociedade.

A força histórica da classe trabalhadora é seu número cada vez maior e sua posição estratégica na sociedade. No entanto, essas vantagens permanecem apenas em potencial, a menos que a classe trabalhadora esteja consciente e organizada. Hoje, a classe trabalhadora dos EUA, muito numerosa e diversificada, ainda é amplamente atomizada e desorganizada.

Uma revolução não pode ocorrer sem a sociedade entrar em uma crise revolucionária, uma crise que abala os fundamentos do governo burguês, levando uma grande parte do povo a se recusar a continuar com os “negócios como sempre”. Como e quando essa crise ocorre está fora do controle de revolucionários ou políticos e generais da classe dominante. Na maioria das vezes, no século passado, foi um subproduto da guerra.

O que os revolucionários têm algum controle não é quando uma nova crise social ocorrerá, mas que tipo de organização estará disponível quando surgir uma crise revolucionária, como inevitavelmente ocorrerá. Quão forte será o partido revolucionário, multinacional, experiente, difundido, numeroso e unido? Quão forte será em muitas e variadas lutas? Como ele se comporta aos desafios, especialmente em tempos de crise anteriores?

Para a pergunta, o que os revolucionários fazem em tempos não revolucionários, a resposta de Lenin foi construir o partido, construir a organização que pode transformar a oportunidade revolucionária em uma vitória revolucionária. Crie agora, porque se você esperar, será tarde demais. Do ponto de vista de Lenin, toda a razão do partido desde o início era a preparação para a oportunidade revolucionária.

Preparação significa muitas coisas. Significa estar envolvido nas lutas mais críticas do dia, em pontos de grandes conflitos entre classes. Significa estar lutando para vencer os movimentos que espontaneamente respondem a menores crises na sociedade capitalista com uma perspectiva realmente progressista e revolucionária. Significa ler e estudar, absorvendo as lições da luta revolucionária ao redor do mundo – da experiencia da revolucionários da Ásia, da África, Oriente Médio e América Latina, junto de Marx, Engels, Lênin e outros líderes teóricos e práticos da classe trabalhadora e dos oprimidos.

Preparação significa organizar o partido para a multiplicidade de desafios que ele irá encarar. Significa o comprometimento de recrutar um novo quadro entre os vários novos camaradas, e não somente novos militantes, particularmente entre os trabalhadores explorados e oprimidos.

A longa e corrosiva história da escravidão e do racismo nos Estados Unidos impõe exigências especiais ao partido da classe trabalhadora. Em toda a nossa preparação, nos esforçamos para construir a unidade da classe trabalhadora, colocando a luta contra o racismo como uma prioridade central no dia-a-dia do Partido e do movimento e afirmando na prática os princípios de Lenin dos direitos das nações a autodeterminação e internacionalismo revolucionário da classe trabalhadora. Somente um partido multinacional pode criar a unidade necessária para derrotar a classe capitalista mais poderosa que o mundo já viu.

Acima de tudo, significa a dedicação para empreender a mais importante e mais necessária de todas as tarefas – a construção de um novo partido revolucionário no coração do imperialismo mundial.

Enquanto estamos no primeiro estágio de criar um novo partido revolucionário, temos uma longa tradição de lideres e organizadores dentro do movimento marxistas nos Estados Unidos, tanto quanto de movimentos anti-guerra e antirracistas, no movimento sindical, e em outros movimentos de massas nos Estados Unidos. Como antigos lideres e membros do Partido dos Trabalhadores do Mundo (Workers World Party), defendemos a tradição histórica desse grupo e também a missão, particularmente de seu fundador Sam Marcy. Embora acreditamos que a liderança do Partido dos Trabalhadores do Mundo não tenha mais as capacidades de alcançar aquela missão, nós ainda consideramos uma organização progressista com muitos militantes honestos.

O prognóstico de Karl Marx, há 150 anos, era que o socialismo seria alcançado primeiro nas sociedades capitalistas mais avançadas industrialmente. É aí que a base material do socialismo era mais forte. A alocação racional de recursos abundantes para atender às necessidades da sociedade era possível com a propriedade pública dos meios de produção.

O prognóstico de Marx foi alterado pela luta de classes vivas. As revoluções socialistas ocorreram em economias subdesenvolvidas onde o sofrimento humano era maior e onde as contradições sociais atingiram um ponto de ebulição primeiro, especialmente como resultado da guerra. Enquanto a classe trabalhadora nessas sociedades derrotou suas classes dominantes primeiro, elas foram confrontadas com uma série de obstáculos para alcançar o socialismo que resultavam diretamente do legado de subdesenvolvimento econômico, colonialismo e um ambiente mundial dominado por hostilidade imperialista, sanções e guerra.

A derradeira degeneração e derrota das revoluções na antiga União Soviética e no Leste Europeu, além de ser uma derrota histórica para os trabalhadores desses países, abriu um período de intensa expansão militar do imperialismo americano, com a intenção de monopolizar os novos mercados e recursos com base em seu status de única superpotência militar do mundo.

Uma nova fase do renascimento socialista

Estamos convencidos de que agora entramos em uma nova fase. A globalização econômica capitalista e seu assalto à classe trabalhadora em casa se combinam com a rápida marcha global da máquina militar dos EUA para criar novas contradições sociais e de classe que levarão a um renascimento do movimento socialista e operário dentro dos Estados Unidos.

A maioria das pessoas no mundo hoje está sofrendo com a depressão econômica e a recessão. A classe dominante dos EUA está prendendo a respiração, ciente de que quando a economia capitalista dos EUA for tomada pela próxima crise severa ou desaceleração, é provável que precipite uma crise econômica global de proporções históricas. Nessas circunstâncias, o domínio do capitalismo deve enfrentar o desafio inevitável de um movimento revivido pelo socialismo. Essa é a orientação do nosso partido. O prognóstico e a teoria da revolução de Marx nas sociedades capitalistas avançadas serão validados pelo renascimento do socialismo revolucionário no próprio centro do imperialismo.

Ao mesmo tempo em que visamos a revolução nos Estados Unidos, defendemos a defesa dos Estados dos trabalhadores existentes, os movimentos de libertação nacional e as pessoas oprimidas em todo o mundo que estão na mira do imperialismo dos EUA. Somente um partido preparado para o internacionalismo da classe trabalhadora pode esperar liderar uma revolução nos Estados Unidos, a prisão de nações do século XXI.

A magnitude de nossas tarefas será igual à nossa determinação em vencer. Trabalhadores e pessoas oprimidas do mundo, uni-vos!


O texto original pode ser encontrado no site oficial do PSL, disponível neste link.

Tradução por Andrey  Santiago

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