Lendo teoria com TDAH

Thread de Ryan (@charli_marxcx) no Twitter.
Tradução por Pedro Côrtes


As compreensões neurotípicas de TDAH preferem que você acredite que pessoas com TDAH são capazes de funcionar da mesma forma que indivíduos sem desabilidades[1] mentais na sociedade capitalista. A concepção popular de TDAH está mais para quase uma piada do que um transtorno real.

Isso não poderia estar mais distante da verdade. Assim como outras desabilidades neurológicas como autismo e TOC, o TDAH torna a vida na sociedade capitalista extremamente desafiadora. O capitalismo demanda produtividade constante, e suas instituições são incapazes de prover às pessoas desabilitadas os recursos comunitários que facilmente permitiriam que vivêssemos vidas felizes, realizadas e produtivas. É por isso que está no nosso interesse destruir e substituir o capitalismo. Para tanto, precisamos destruir nossas tendências liberais, algo que só pode ocorrer através do estudo da teoria.

O TDAH torna o estudo da teoria particularmente difícil, mas não impossível. Aqui vão algumas dicas de alguém com TDAH para melhor estabelecer hábitos de leitura e tornar a leitura mais agradável.

Essa aqui é grande: pessoas com TDAH precisam de uma experiência tátil. Gastar um monte de dinheiro pode ser necessário para conseguir uma cópia física do texto. Uma que seja nossa, para guardar, deixar à mostra e, especialmente, anotar.

Anotação também é uma estratégia-chave. Ela nos permite facilmente retornar e encontrar informações importantes, assim como nos permite registrar os pensamentos que tivemos no momento.

Meu conselho predileto é fazer uma leitura leve como aquecimento antes de ler algo difícil. Pessoalmente, eu costumo sentar e ler algumas páginas de livros de receitas, ou algum artigo engraçado sem qualquer relação com o comunismo para começar o processo.

Na minha experiência, também é bom ler dois livros no mesmo período. Eu costumo ler um texto longo e desafiador no mesmo período que um mais breve e fácil, alternando entre os livros a cada capítulo. Isso impede que os textos se tornem desestimulantes. 

Apesar da leitura ser o método primário e mais eficaz para o estudo, mídias suplementares são muito benéficas para aqueles com dificuldade de processar informação. Isso inclui escutar podcasts, assistir vídeos, ou ler breves resumos de livros difíceis.

Eu amo escutar ao podcast @Red_Menace_Pod como material suplementar enquanto faço limpeza ou dirijo.

Cabe adicionar que pessoas desabilitadas não deveriam comparar aqueles com mais facilidade em ler a si mesmas e às suas habilidades. Não há problema em ler devagar, em não conseguir ler em voz alta, em ter de voltar e ler passagens múltiplas vezes!!! Nós precisamos ler do nosso próprio jeito.

Por ora, finalmente: entendemos melhor a teoria quando a entendemos comunitariamente. Eu encorajo aqueles com desabilidades de leitura a encontrar camaradas para ler junto, discutir livros seção por seção. Está tudo bem em perguntar para seus camaradas quaisquer questões que você possa ter sobre o texto. Estruturas são benéficas.

Ler é difícil, e está tudo bem. Faça pausas durante a leitura. Tire proveito do seu hiperfoco. Peça ajuda. O mais importante é que você está lendo. É um hábito que leva tempo para se desenvolver.

Última coisa: não deixe ninguém te dizer que ler teoria é capacitista. Camaradas literalmente ensinaram a si mesmos a ler para poderem usar a teoria comunista para lutar pela sua libertação. É um desafio, mas ler é nosso dever. Ajude camaradas desabilitados a ler.


[1] Este tradutor acredita que algumas palavras atualmente utilizadas para descrever questões de neurodivergência em português como “deficiência” e “incapacidade” são equivocadas, além de distanciar-se dos termos em inglês como “disability” e “disabled”. Estas palavras em inglês permitem uma compreensão onde a pessoa neurodivergente não é necessariamente uma pessoa transtornada ou deficiente, mas sim des-abilitada (dis-abled) pela sociedade excludente à sua volta, visão corroborada pelo paradigma da neurodiversidade. Por este motivo, optei por uma aproximação portuguesa das palavras usadas em inglês.

Um comentário em “Lendo teoria com TDAH

  1. Me ajudou muito!

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