Carmen Soler – Entre os Muros Fechados

Poema originalmente publicado no livro “Poesias de Luta da América Latina” organizado por Jeff Vasques, disponível no TraduAgindo.

Segue o perfil de Carmen Soler contido no livro e sua poesia:

Carmen foi professora, poeta e militante do Partido Comunista Paraguaio. Foi várias vezes presa e exilada por lutar contra a ditadura de Alfredo Stroessner. Em seus poemas estão suas definições estéticas, seu compromisso, a nostalgia por sua pátria. Os poemas de 55, 60 e 68 contém seu testemunho desde o calabouço. Carmen Soler raramente vai ser encontrada nos textos de história ou de crítica literária. Por vários motivos: em primeiro lugar, pelo feito de ter lutado toda sua vida contra uma das ditaduras mais profundas e cruéis de nossa América, a do general Stroessner (1954-1989), com posições ideológicas revolucionárias. Sofreu, assim, cárcere, tortura, desterro. Naturalmente, a difusão de suas criações poéticas, fortemente ligadas as suas experiência de vida e a sua militância, foram bloqueadas pelo aparato repressivo do ditador fascista. Carmen também expressou-se nas artes plásticas, principalmente em pinturas.


Entre os muros fechados

Um pouco antes caminhavas
levando o ar azul contra a cara,
cumprindo tuas tarefas,
sentindo-se viver calidamente.

Depois, bem pouco depois,
torturadores, armas, golpes, sangue.
Uma porta de ferro e te tiraram a luz,
a dignidade do vento.

Passar esse momento é o difícil,
e tens pouco tempo,
o medo acossa.

Bem, aconteceu, estou aqui,
é preciso enfrentar isso como outros sempre
enfrentaram.

E assim volta a luz ao calabouço.
A humilhação termina,
a sensação tremenda de impotência acaba.
Ali, entre esses muros,
sobre esse piso sujo de salivas,
ratos, baratas e excrementos,
ali vês abrir-se
como uma flor bonita tua tarefa:
ganhar a grande batalha do silêncio!

Que arma poderosa teu silêncio!
Com teu silêncio afora seguem trabalhando
e tu com eles prossegue na tarefa.
Tua dignidade volta a te vestir como um traje;
termina a vergonha de ter sentido medo.
E te olhas de novo.
E levantas o rosto.

Então sabes
que tua pequena luta não é pequena,
que é uma parte da grande tormenta!
E sentes
que são os muros, as armas, impotentes.
Os torturadores
brutais com seu medo,
totalmente impotentes!

Que força tão tremenda
nossa força!

E assim é como descobres
essa bela maneira de renascer ali,
no calabouço.

Teus companheiros seguem trabalhando.
Você está realizando tua tarefa.
Uma semente mais está plantada
e seguem tremulando as bandeiras.

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