Texto por Andrey Santiago.
O falecimento de Pelé marca um momento de diversos sentimentos para o povo brasileiro.
De um lado, temos o maior jogador de futebol do Brasil e do mundo inteiro com inúmeros acertos em campo, de outro, um homem com inúmeras contradições e falhas em sua vida pessoal.
Pelé, um homem negro que veio da periferia, alcançou a ascensão social através do futebol e suas habilidades inigualáveis, se consagrando líder em campo e garantindo a felicidade de torcedores do Santos, da Seleção Brasileira e do New York Cosmos durante toda sua carreira.
Ao mesmo tempo, se eximiu politicamente em um momento trágico da história brasileira e raramente fez questão de utilizar sua posição para alavancar as lutas populares.
Durante a ditadura militar, o “Rei” viveu de maneira conivente com o regime, inclusive se encontrando e até posando para fotos com o ditador Médici após ser tricampeão da Copa do Mundo.
Ainda assim, Pelé, com todas as contradições, foi sutilmente modificando sua postura política em relação ao regime. Após vencer a Copa do Mundo de 1970, o jogador havia decidido pela sua aposentadoria da Seleção. O governo militar considerou isso um “ato de indisciplina esportiva” e fez diversas movimentações para convencê-lo a permanecer. Pelé recusou enfaticamente.
Anos mais tarde, em 1984, o ex “atleta-modelo” do regime militar posaria com uma camisa das Diretas Já e declararia para a Revista Placar: “O governo atual já teve a oportunidade dele. A pressão é muito grande e acho que todo mundo deve ter essa oportunidade (de votar). Essa é outra Copa que a gente tem de ganhar e foi por isso que ergui a minha réplica da Jules Rimet pelas eleições diretas.”
Pelé representaria o mito da democracia racial no Brasil, sendo utilizado enquanto arma de propaganda da ditadura, mas ignorar seus embates finais com o regime é também incorrer em omissões.
O TraduAgindo registra seu falecimento e destaca essa constatação central: Pelé foi um grande jogador e um complexo ser humano, seus acertos permanecem, assim como seus erros.
Essa contradição faz parte do maior jogador de futebol de todos os tempos.
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