Liu Shaoqi – “Manifestações de Luta Mecânica e Excessiva Dentro do Partido”

Trecho do discurso de Liu Shaoqi (também escrito como Liao Chao-Tsi) realizado em 2 de julho de 1941, na Escola do PCCh na China Central. O texto completo pode ser encontrado neste link.

Foram feitas pequenas alterações na forma do texto para melhor experiência de leitura, nenhum conteúdo foi alterado.

Camaradas!

Hoje não vou discutir o desvio do liberalismo, que é o primeiro dos três tipos de desvio mencionados acima, das lutas internas no Partido. Se bem considere que no presente momento o desvio do liberalismo dentro do Partido seja sério e que seja importante lutar contra o liberalismo, se bem não acredite que nossos camaradas estejam inteiramente esclarecidos sobre a tendência do liberalismo e suas manifestações em vários problemas concretos — acredito antes que muitos camaradas ainda não estejam inteiramente esclarecidos — mesmo assim não vou falar hoje sobre esse assunto. Falarei sobre isso em outra ocasião, quando tiver oportunidade.

Aqui quero apenas fazer ver que a tendência do liberalismo dentro do Partido tem-se desenvolvido recentemente e, em muitos casos, se tem tornado a principal tendência na luta interna no Partido, e que a luta ideológica dentro do Partido não se tem desenvolvido suficientemente. Por essa razão, muitas tendências errôneas e fenômenos indesejáveis não foram eficientemente corrigidos em tempo oportuno, e a disciplina do Partido tem-se afrouxado gradativamente. Isso é muito ruim. Isso acontece porque nosso Partido tem admitido ultimamente em suas fileiras um grande número de intelectuais e membros novos, fortemente imbuídos da ideologia do liberalismo burguês, e que ainda não foram ideológica, política e organicamente temperados pela disciplina férrea do proletariado. Entrementes, muitos camaradas que no passado cometeram erros de “esquerda” e eram favoráveis a uma excessiva luta interna no Partido, passaram agora para o terreno oposto e cometeram o erro direitista do liberalismo. Nas circunstâncias de um longo período de frente única aumentou também a possibilidade de a burguesia exercer influência dentro do Partido. Os elementos contrarrevolucionários disfarçados nas fileiras do Partido utilizaram-se de todos os meios para desenvolver e apoiar o liberalismo dentro do Partido. Como resultado, desenvolveu-se no Partido a tendência ao liberalismo. Essa tendência deve ser fortemente combatida em nossa luta para fortalecer nosso trabalho de forjar o espírito de partido.

Por exemplo, alguns camaradas mantiveram-se em silêncio quantos a erros de outros camaradas, com medo de represálias. Não apontavam os erros de seus amigos íntimos, a fim de esconderem os erros uns dos outros. Não falavam pela frente, mas pelas costas comentavam com irresponsabilidade. Permitiam-se fazer críticas irresponsáveis, externavam suas queixas, cochichavam, etc. — coisas que frequentemente acontecem no Partido.

Além disso, surgiu recentemente no Partido um fenômeno especialmente sério. Um certo grupo de pessoas receia que outros denunciem suas deficiências e erros ao Partido ou aos seus superiores. Têm um medo terrível de ser acusados por outros. De um lado não podem deixar de cometer erros, que eles próprios sabem que são erros; cometem esses erros deliberadamente, embora estejam cientes de que o fazem. Mas, por outro lado, querem impedir que outros membros do Partido os denunciem ao Partido ou aos seus superiores e que os critiquem nas reuniões. Fizeram coisas erradas e impróprias, mas não estão dispostos a revelar seus erros, a fim de que estes sejam corrigidos. Escondem suas doenças e mostram-se relutantes em ser curados. Não apreciam a verdade de que só quando os erros são denunciados é que podem ser corrigidos. Querem encobri-los e escondê-los como se esses erros fossem mais preciosos do que qualquer tesouro do mundo.

Por essa razão, não só tentam proibir outros de focalizar seus erros, mas também tentam fazer calar os outros e proibi-los de denunciar esses erros ao Partido ou a seus superiores, privando assim outros do direito de criticar e falar dentro do Partido pelos canais competentes da organização. Intimidam outros camaradas dizendo: “Se você ousar denunciar-me aos superiores farei com que se arrependa. Hei de dar-lhe uma surra, seu intrigante.” Odeiam profundamente os camaradas que os denunciaram aos superiores e falaram sobre seus erros. Levam isso a peito e pensam em vingança. Esses fenômenos são indicações funestas de que perderam por completo o espírito de membros do Partido. Tentam cortar a ligação entre os órgãos dirigentes do Partido e a base, a fim de poderem agir no sentido de perturbar e prejudicar o Partido. Tais fatos devem ser rigorosamente proibidos.

Quando qualquer membro do Partido tiver visto outros membros cometerem erros ou coisas prejudiciais ao Partido, deve informar ao Partido e aos seus superiores. É incorreto não apresentar tais informes e absolutamente certo fazê-lo. Impedir que alguém denuncie ao Partido os erros de uma pessoa é absolutamente ilícito. E nunca será tolerado no Partido. Naturalmente, o órgão dirigente do Partido, ao receber tais informes, deve fazer uma investigação completa dos fatos e tratar com cuidado do caso, abstendo-se de fazer qualquer julgamento apressado, baseado numa única versão do caso.

Já decidimos que no presente momento a luta ideológica dentro do Partido deve ser impulsionada. Portanto, devemos opor-nos ao liberalismo. Em certos organismos do Partido, onde foram cometidos erros particularmente graves de liberalismo, devemos levar avante, na base de fatos, uma luta completa contra o liberalismo, a fim de eliminar tais erros.

Há alguns anos, o camarada Mao Tse-tung escreveu um artigo contra o liberalismo em que enumerava onze manifestações de liberalismo dentro do Partido. Seu artigo ainda é atual; devíamos estudá-lo cuidadosamente, tentar corrigir o liberalismo e lutar contra ele de acordo com esse artigo. Ao mesmo tempo, o liberalismo vai ser amplamente discutido no Curso sobre a construção do Partido. Por isso não tratarei do assunto hoje. Falarei sobre o segundo e o terceiro desvios, porque até agora ninguém ainda discutiu sistematicamente esses dois desvios, dentro do Partido.

Quais são as manifestações de luta mecânica e excessiva dentro do Partido? São as seguintes:

Primeiro, nos organismos locais do Partido e nos organismos do Partido no Exército, as chamadas “reuniões de luta” são realizadas regularmente. Mesmo nas organizações não partidárias, tais como órgãos do governo e organizações de massas, as “reuniões de luta” também são organizadas regularmente. Tais reuniões são organizadas previamente. Elas não são realizadas com a principal finalidade de proceder a um balanço do trabalho. São realizadas com o intuito de atacar determinada pessoa. Em vez de, em primeiro lugar, desenvolverem uma luta sobre o “ponto em debate”, a luta é dirigida “contra a pessoa”. Em outras palavras, essa luta é realizada não fundamentalmente contra certas incorreções de ideologia e de princípios, mas contra uma determinada pessoa. O intuito da chamada “luta contra um certo Li ou um certo Chang” é desferir um golpe em determinado camarada que cometeu erros. A “reunião de luta” é, em essência, uma reunião de julgamento de um determinado camarada. Não visa antes de tudo solucionar problemas ideológicos, mas solucionar problemas de organização. Sua intenção é forçar a que certos perturbadores ou alguns camaradas que ousam manter suas opiniões divergentes se submetam — e tais opiniões não são necessariamente erradas. Além disso, em cada “reunião de luta” chega-se invariavelmente a conclusões orgânicas sobre a maioria das pessoas contra as quais se abriu luta. É evidente que tal forma de luta não é correta.

E por que não é correta?

Em primeiro lugar, o próprio termo “reunião de luta” é incorreto. Isso não tem nenhum sentido. Desde que existem as chamadas “reuniões de luta”, por que não há também as chamadas “reuniões não-de-luta”? Causará confusão ideológica, se considerarmos que há certas reuniões que são especificamente dedicadas a abrir luta e que há outras reuniões em que nenhuma luta se verifica. Isso prova que muitos camaradas não compreendem o caráter absoluto e universal da luta. Divorciam mecanicamente a luta da educação.

O objetivo da luta interna no Partido é educar o Partido e os camaradas que cometerem erros. Portanto, a luta interna é, em si, uma espécie de educação indispensável dentro do Partido. Educação dentro do Partido é também uma espécie de luta interna no Partido, uma luta relativamente branda. Portanto, educação e luta não podem ser consideradas separadamente. A luta é uma forma de educação e a educação uma forma de luta. Qualquer separação mecânica das duas é incorreta.

Além do mais, as “reuniões de luta” são uma manifestação concreta dentro do Partido de sectarismo e da política errônea de atacar quadros e camaradas. Destinam-se ao ataque de camaradas contra quem a luta é aberta, e não ao auxílio, educação e recuperação de camaradas que cometeram erros. Elas têm como objetivo principal lutar contra a pessoa, ao passo que a divergência e o antagonismo ideológicos são subestimados. Daí, tais “reuniões de luta” deixarem tão frequentemente de fortalecer a unidade ideológica, política, orgânica e de ação dentro do Partido. Ao contrário, frequentemente aprofundam as divergências sobre ideologia, política, organização e ação dentro do Partido. Intensificam a desunião e disputas sem princípios dentro do Partido. Ajudam o crescimento do sectarismo. É ainda mais incorreto é realizar tais “reuniões de luta” em organizações não partidárias.

Segundo, a luta mecânica e excessiva dentro do Partido também se manifesta de outras maneiras. Alguns camaradas mantêm o ponto de vista de que quanto mais violenta a luta interna, melhor. Para eles, quanto mais seriamente o problema for apresentado, melhor. Quanto mais faltas se encontrarem, melhor. Quanto mais empolados os termos, melhor. Quanto mais desaforos, melhor. Quanto mais violentas as críticas, melhor. Quanto mais severas e rudes a maneira e a atitude, melhor. Quanto mais berros, melhor. Quanto mais cara fechada, melhor. Quanto mais ferocidade, melhor. Agindo desse modo, eles se consideram “tão revolucionários quanto possível”. Na luta dentro do Partido e na autocrítica não dão a menor atenção à justeza e à moderação e não se detêm nos limites adequados. Lutam sem controle. É claro que isso está inteiramente errado.

Terceiro, alguns camaradas ainda não compreendem que a luta interna no Partido é essencialmente uma luta ideológica. Nem tampouco compreendem que só atingindo a unidade ideológica poderá ser mantida e reforçada a unidade do Partido, politicamente, organicamente e na ação, e que os problemas devem ser solucionados do ponto de vista da ideologia e dos princípios, antes de serem solucionados do ponto de vista da organização e da ação. No entanto, não é fácil conseguir a unidade, solucionar problemas ideologicamente e na base de princípios, reformar a ideologia dos outros e corrigir princípios, pontos de vista e preconceitos mantidos muito tempo por outros. Isso não pode ser feito facilmente, com poucas palavras ou através de simples “reuniões de luta”. Nem pode ser realizado só por meios autoritários ou medidas compulsórias. Isso só pode ser conseguido através de paciente persuasão e educação, através de lutas complexas de várias espécies, e de um período considerável de educação, de luta e de prática na revolução. Alguns camaradas não apreciam a essência da luta interna no Partido sob esse aspecto, mas, ao invés, simplificam, mecanizam e vulgarizam a luta interna no Partido. Consideram-na como uma espécie de contradição de organização ou de forma, ou então como brigas, imprecações, querelas e lutas corporais. Não procuram a verdadeira unidade e não solucionam os problemas na base de princípios e de ideologia. Pensam que as divergências de ideologia e princípios dentro do Partido podem ser solucionadas por esses métodos simples, mecânicos e vulgares. É evidente que isso está completamente errado.

Esses camaradas não defendem nem objetivam a unidade dentro do Partido pela solução das divergências de princípio e de ideologia e pela correção de certas tendências e fenômenos errôneos. Ao contrário, tentam defender e objetivar a unidade do Partido por simples meios orgânicos ou medidas arbitrárias, por uma política de ataque, por um sistema de punições contra os membros do Partido. Como resultado, eles provocam várias lutas internas no Partido, errôneas e excessivas.

Assim, em lugar de persuadir com cuidado e consideração os camaradas, na base de princípios e de ideologia, fazem calar e perseguem os companheiros, valendo-se de simples medidas orgânicas, métodos hostis e até mesmo de medidas administrativas. Aprovam ao acaso resoluções orgânicas sobre camaradas e aplicam medidas punitivas contra estes. Além disso, punem impiedosamente camaradas do Partido, baseando-se no ponto de vista burguês de igualdade perante a lei, isto é, aplicam as mais severas punições previstas pelos Estatutos do Partido, sem levar em consideração que espécie de membros do Partido são os acusados e se reconheceram os seus erros e os corrigiram ou não. Desse modo se leva à prática no Partido o sistema de punições. Frequentemente empregam o método de abrir luta para iniciar e impulsionar para a frente o trabalho. Procuram intencionalmente “alvos de luta” (camaradas do Partido) e abrem luta contra eles como representantes do oportunismo. Sacrificam e atacam um ou vários camaradas — “matando galo para assustar cachorro”, como diz o ditado chinês — para fazer com que outros quadros do Partido trabalhem muito e cumpram a tarefa. Coligem deliberadamente informações sobre as deficiências e erros do alvo de luta e anotam mecânica e detalhadamente suas palavras e ações menos apropriadas. Depois examinam isoladamente essas deficiências e erros bem como as suas palavras e ações menos justas, e consideram tudo isso como representativo da personalidade do camarada. Aumentam as deficiências individuais e erros desse camarada e os enquadram num sistema de oportunismo, criam uma impressão extremamente desfavorável sobre esse camarada entre os membros do Partido e utilizam o seu ódio ao oportunismo na luta contra esse camarada.

Então, “todos podem desferir golpes contra um tigre morto”. A psicologia da vingança começa a ganhar terreno entre certas pessoas que expõem todas as deficiências e erros daquele camarada e arbitrariamente os eleva à categoria de erros e deficiências de princípio. Chegam mesmo a inventar alguma história e na base de suspeitas subjetivas e boatos inteiramente infundados, acusam o camarada de vários crimes. E não cessam enquanto não o levam à confusão mental. Isso feito, ainda relutam em permitir ao camarada atacado que se defenda. Se ele se defende, acusam-no de defender deliberadamente seus erros ou de admiti-los com reservas. Depois ainda lhe dão outros golpes. Não permitem ao camarada atacado manter suas opiniões, sob a condição de submeter-se à organização do Partido, e não lhe permitem apelar para os organismos superiores, mas insistem em que admita imediatamente seus erros. No caso de o camarada atacado ter admitido todos os seus erros, não se preocupam em ver se o problema de princípio ou de ideologia foi solucionado ou não. Já aconteceu dentro do Partido que, durante uma luta, certos camaradas admitiram mais erros do que haviam cometido. A fim de evitar ataques acharam melhor aceitar todas as acusações. Conquanto tivessem admitido todos os erros, continuavam sem saber do que se tratava. Isso vem provar que tais métodos de luta não podem alimentar a firmeza de um comunista em ser fiel à verdade.

Quarto, os métodos de luta dentro do Partido são confundidos com os métodos de luta fora do Partido. Alguns camaradas aplicam mecanicamente os métodos de luta interna no Partido a organizações de massa não partidárias e na luta contra dirigentes e elementos de massa não partidários. Por outro lado, alguns camaradas empregam os métodos de luta fora do Partido e os de luta contra o inimigo e contra elementos estranhos na luta contra camaradas do Partido. Empregam todos os meios de provocação, afastamento e conspiração. Usam toda espécie de medida administrativa, como vigilância, detenção, julgamento, etc., na luta interna no Partido. Por exemplo, o erro “esquerdista” cometido por alguns camaradas na perseguição de traidores deve-se sobretudo ao fato de não terem estabelecido uma demarcação nítida entre a luta dentro do Partido e a luta fora dele e terem misturado a luta ideológica dentro do Partido com a campanha contra os traidores. Muitas vezes há espiões inimigos escondidos dentro do Partido. Mas, precisamos basear-nos em fatos quando lutamos contra esses inimigos ocultos, desancá-los e expulsá-los do Partido. Mas isso é completamente diferente da luta travada para educar membros do Partido que cometeram erros. Deve haver uma nítida linha de demarcação entre essas duas coisas. A luta dentro do Partido e a luta fora do Partido estão estreitamente ligadas, mas os métodos e formas de uma e outra devem ser diferentes.

Ainda há alguns camaradas (na realidade não podem mais ser chamados camaradas) que se apoiam abertamente em forças de fora do Partido e as utilizam para realizar luta dentro do Partido, para fazer chantagem e para intimidar o Partido. Baseando-se, por exemplo, em alguns dos seus feitos, em suas tropas e armas, em seu prestígio entre as massas e em suas relações com determinado setor da frente única, certos elementos abriram luta contra o Partido e os órgãos dirigentes. Exercem pressão sobre a direção e o Partido para que aceitem suas exigências e opiniões. Tomam uma atitude independente em relação ao Partido e se declaram independentes do Partido. Ou então, aproveitam-se de jornais, revistas e conferências fora do Partido, mesmo os da burguesia e do inimigo, para realizar luta contra os organismos dirigentes do Partido e contra certos camaradas e quadros. Evidentemente, esse é um erro tão sério como o do outro grupo de pessoas que, baseando-se no prestígio do Partido, coagem, controlam e oprimem as massas, fazendo chantagem e impondo penalidades a pessoas estranhas ao Partido. Colocam-se em uma posição não partidária e travam luta contra o Partido. Assim, conquanto comunistas de nome, tais pessoas já se afastaram completamente das posições partidárias e tornaram-se inimigas do Partido.

Quinto, muitos problemas do nosso Partido são resolvidos em reunião ou através de reuniões. Isso é bom. Mas em vários organismos, muitas reuniões são realizadas sem preparação ou sem estudo e pesquisas prévias. Assim, muitas opiniões divergentes são expressas e frequentemente travam-se discussões durante as reuniões. E como as conclusões são sempre tiradas pelos membros da direção e as conclusões nessas reuniões equivalem a resoluções, estas são frequentemente falhas. Verifiquei que divergências surgidas em certas reuniões ficaram muitas vezes esperando decisão do instrutor, do secretário de um Comitê do Partido ou de algum outro camarada responsável. Mas o próprio camarada responsável não tinha nenhuma certeza nem clareza sobre o assunto. Mas, como o problema era premente, ele tinha de chegar a uma conclusão qualquer, pois do contrário não poderia continuar a ser um camarada responsável. Esse camarada responsável tinha de chegar a uma conclusão e em muitos casos sentia-se muito embaraçado, suava por todos os poros. Tirava uma conclusão apressada e essa conclusão tornava-se uma resolução. Decidiam-se coisas de acordo com essa conclusão e naturalmente cometiam-se muitos erros. Alguns camaradas, quando não se sentem bastante seguros para tomar uma decisão sobre um problema, não querem dizer que não se sentem seguros e que precisam de tempo para estudar e considerar o assunto ou para levá-lo a companheiros de um organismo superior. Não obstante, fingem que já estão seguros para salvar as aparências e manter suas posições. Tomam uma decisão ao acaso e esta se revela frequentemente incorreta. Estas coisas também devem ser corrigidas.

Ao tratar quaisquer problemas, nossos camaradas devem assumir esta atitude: “se sabe uma coisa, diga que sabe; se não sabe, diga que não sabe”; e não devem “dizer que sabem o que realmente não sabem”. Os problemas dentro do Partido não podem ser resolvidos de maneira arbitrária. Todas as reuniões devem chegar a conclusões. Mas assuntos que não podem ser decididos ou problemas ainda mal definidos ou que ainda não foram esclarecidos, não devem ser decididos ao acaso. Assuntos resolvidos devem ser assuntos sobre os quais se tenha completa certeza. Assuntos sobre os quais não haja certeza devem ser reservados para consideração posterior ou então encaminhados aos organismos superiores. A conclusão em uma reunião não precisa ser feita necessariamente pelo camarada mais responsável ali presente. Quem quer que faça o informe, pode tirar as conclusões, depois da discussão. Mas a conclusão a que chegou esse camarada não deve necessariamente equivaler a uma resolução. A resolução da reunião pode ser diferente da conclusão a que chegou esse camarada. É esse também o estilo de trabalho do Partido Comunista (b) da União Soviética.

Estas são algumas manifestações características da luta mecânica e excessiva dentro do Partido.

Os exemplos que citei acima são, naturalmente, dos de pior tipo. Isso não significa que nossa luta interna no Partido, no passado e no presente, tenha sido sempre assim. Mas tais formas de luta interna no Partido existem atualmente e durante um certo período ocuparam uma posição predominante, tomando-se a principal forma de luta interna no Partido.

Que resultados produziram essas formas incorretas e impróprias de luta interna no Partido? Produziram os seguintes maus resultados;Encorajaram o patriarcalismo dentro do Partido. Sob tais formas de luta interna no Partido, líderes individuais e órgãos dirigentes oprimem muitos elementos de tal maneira que estes não ousam falar ou criticar, e isso conduz ao arbítrio de um indivíduo ou de um grupo dentro do Partido.

1 – Por outro lado, encorajaram a tendência à ultrademocracia e ao desenvolvimento do liberalismo dentro do Partido. Muitos membros do Partido não ousam falar ou criticar em épocas normais; a paz e a unidade superficiais imperam no Partido. Mas quando as divergências já não podem ser escondidas e a situação se torna tão séria que os erros surgem, então eles se lançam a lutas e críticas desbragadas, levando a antagonismos, cisões e ao caos na organização, quase irremediáveis. Este é o lado oposto do patriarcalismo dentro do Partido.

2 – Impediram que se estabelecesse de maneira correta a vida do Partido baseada no centralismo democrático, resultando daí ter-se tornado irregular, anormal e extremamente falha a vida democrática dentro do Partido.

3 – Impediram o desenvolvimento do entusiasmo, da iniciativa e da forca criadora dos membros do Partido e enfraqueceram seu senso de responsabilidade para com o Partido e para com o trabalho; daí resultou que certos camaradas não ousassem assumir suas responsabilidades com entusiasmo nem trabalhar e criar livremente. Levaram camaradas a não se preocuparem com a consideração e o estudo cuidadosos de problemas e situações, encorajaram o estilo de trabalho superficial e o sistema de apenas repetir palavras de outros.

4 – Ajudaram o desenvolvimento do sectarismo e da luta fracionista sem princípios dentro do Partido. Deram origem à psicologia do temor à crítica e à luta dentro do Partido e cultivaram entre certos camaradas a psicologia conservadora de “não se meter com a vida dos outros”, bem como a psicologia de “quanto menos trabalho, melhor”.

5 – Forneceram mais oportunidades aos espiões trotsquistas e aos elementos contrarrevolucionários de minar o nosso Partido e forneceram mais pretextos à contrarrevolução para atacar nosso Partido. Os espiões trotsquistas, principalmente, aproveitaram-se das contradições dentro do Partido e das lutas internas no Partido não muito corretas para minar o Partido e conquistar os elementos que tivessem sido atacados ou que não estivessem satisfeitos com o Partido. A contrarrevolução aproveita-se da luta contra o oportunismo para fazer propaganda e provocações, para influenciar simpatizantes fora do Partido e elementos irresponsáveis dentro do Partido, a fim de levar avante uma política de isolamento e a fim de minar a solidariedade e a unidade do Partido.

Os maus resultados mencionados acima ocorreram dentro do Partido e alguns deles ainda estão para ser eliminados.

Estas formas mecânicas e excessivas de luta interna no Partido criaram condições anormais na vida do Partido por muito tempo e causaram grandes perdas. Se bem que tenham sido corrigidas nos órgãos dirigentes e, de um modo geral, tenham deixado de ser formas dominantes da luta interna no Partido como um todo, no entanto, em certos organismos intermediários e de base e em certas organizações isoladas, essas formas de luta ainda não foram corrigidas e continuam a prevalecer em diferentes graus. Como resultado, a vida nesses organismos continua anormal. Devemos, pois, chamar seriamente a atenção para esse desvio, a fim de podermos eliminá-lo totalmente de nossa organização e a fim de que nossos camaradas não repitam esses erros e possam, de maneira correta e firme, conduzir a luta ideológica dentro do Partido, impulsionando-o para a frente.

Um comentário em “Liu Shaoqi – “Manifestações de Luta Mecânica e Excessiva Dentro do Partido”

  1. Valeu camarada 🙂

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