Publicado em 2 de março de 1955.
Para acessar o documento original, clique aqui.
Tradução por Andrey Santiago.
1. Mesmo no período de Stálin havia liderança coletiva. A ideia ocidental de um ditador dentro da configuração comunista é exagerada. Desentendimentos sobre o assunto são causados por uma falta de compreensão sobre a real natureza e a organização da estrutura de poder comunista. Stálin, embora tivesse amplos poderes, era meramente o capitão de uma equipe e parece óbvio que Kruchev será o novo capitão. Entretanto, não parece que nenhum dos presentes líderes irão ascender a altura de Lênin e Stálin, será mais seguro assumir que os desenvolvimentos em Moscou estarão sob as linhas da chamada liderança coletiva, a menos que as políticas ocidentais forcem os soviéticos a reestruturarem a sua organização de poder. A presente situação é a mais favorável ao ponto de vista de perturbação da ditadura comunista desde a morte de Stálin.
2. Não haverá um expurgo dramático. Em vista de que o Ministério do Interior foi limpo e o Partido e o Exército não estão nas mãos dos favoritos de Malenkov, deve haver apenas uma normal substituição dos oficiais na reorganização de alto nível da administração do Partido e do Governo.
3. É muito difícil de traçar qualquer paralelo entre os eventos presentes e aqueles ocorridos na década de 20 quando Stálin ascendeu ao poder. Não há agora nenhuma oposição organizada dentro do Partido e na União Soviética em geral. Como os dirigentes comunistas, e evidentemente a população soviética, veem, existe uma grave ameaça exterior.
4. Desde a morte de Stálin e o golpe que foi dado ao poder da polícia secreta, a situação interna soviética está em um estado de fluxo. A nova configuração soviética precisa de tempo para consolidação. A disputa entre elementos “titoístas” com maior consciência nacional na liderança soviética e os que pensam em termos mais ortodoxos internacionalmente ainda continua.
5. Nenhuma melhoria sobre a questão alimentar pode ser esperada. A promessa de Malenkov de melhorar as pobres condições materiais das massas não foi mantida. Em vista de que os líderes comunistas não conseguiram manter a promessa, particularmente por conta de acelerados preparativos de guerra, eles precisaram encontrar um bode expiatório, e assim Malenkov resignou.
6. Bulganin impressionou aqueles que trabalharam com ele no Banco Central, incluindo um famoso especialista sobre assuntos bancários, com sua grande inteligência, maneiras comedidas, e capacidade de aprender em pouco tempo os mais especiais e difíceis problemas.
7. É difícil antecipar qualquer recuo da política externa soviética a menos que concessões do Ocidente sejam feitas em relação a ratificação do acordo de Paris. Existe a possibilidade de que a continuação do desacordo entre os líderes soviéticos leve a suavização da posição soviética e o reconhecimento de Molotov sobre sua incompetência na condução das relações exteriores. Os líderes soviéticos, entretanto, reconheceram que o balanço de poder mudou em favor do Oeste. Eles agora estão se esforçando para alterar esse balanço como pode ser visto pela mudança ao aceleramento da produção bélica, e as tentativas de desestabilizar a unidade ocidental. A agressividade dos comunistas chineses pode ser parte desse esforço. Uma rígida posição da parte do Ocidente frente a URSS provavelmente favorecerá a continuação do poder em elementos mais rígidos da liderança soviética.