Discurso do capitão Thomas Sankara, presidente do conselho nacional revolucionário e chefe do estado burkinabe durante sua visita à ilha de Cuba em 1984, à Cuba. A visita foi feita em nome do recebimento da medalha de honrarias revolucionárias José Martí, entregue pelas mãos do lendário comandante, e na época presidente de Cuba, Fidel Castro. Durante a visita o capitão Sankara esteve em Santiago primeiramente e depois fez uma pequena expedição por escolas e polos industriais da ilha, durante sua estadia fez questão de visitar as escolas internacionalistas onde encontrou alguns estudantes que mais tarde viriam a representar a Namíbia nas Nações Unidas, junto a ele que representava o Burkina Faso.
O discurso foi primariamente feito em espanhol e traduzido para o francês por Alicia Jaffré, e agora para o português em primeira mão.
Originalmente disponibilizado no site Thomas Sankara.
Tradução por Leon Medeiros.
Camaradas,
Entre revolucionários, não perdemos o tempo de dar flores de forma hipócrita como fazem os reacionários.
A honra que o povo cubano concede ao meu povo laureando-me com a mais alta distinção revolucionária cubana, é muito mais que um ato simbólico. É um compromisso de apoio político ao meu país, o Burkina-Faso e à sua revolução popular democrática. Compromisso esse que se apoia no legado histórico de um dos maiores combatentes patrióticos, não somente de Cuba ou da América Latina, mas também de todo e qualquer rincão desta Terra onde o povo luta por liberdade e independência.
Esta condecoração é uma manifestação do profundo amor que tem o povo cubano pelo povo burkinabé. Afinal, não foi o próprio José Martí que intitulou seu eterno escrito “Amor” com o amor que ele mesmo experienciou? Ele que com a tenra idade de 16 anos fora deportado de sua pátria mãe por suas ideias políticas revolucionárias, tornando assim sua carne e seu sangue a mais verdadeira morada da solidariedade internacional revolucionária.
O povo sabe amar e se ama. Durante nove anos, Martí conheceu os EUA, o México e a Guatemala, onde não somente se uniu aos povos como fez-se amado por eles. Sem este amor, as duas deportações de sua curta vida, teriam sem dúvidas ceifado seu psicológico e sua bravura.
Porém em 1895, Martí retorna a sua pátria, pega em armas para derrubar as opressões colonialistas. Dessa forma, em nome da liberdade de todos os povos do mundo, vem a falecer na cidade de Dos Rios, lutando por todos nós, de Cuba ao Burkina Faso. É do sangue corajoso de heróis como José Martí que se alimentam e renovam os povos para travar e vencer batalhas cada vez mais importantes em nome da revolução.
O camarada Fidel Castro junto com nossos outros camaradas em Sierra Maestra nada mais fizeram do que continuar a luta revolucionária do povo cubano que almejava a completude de sua liberdade. Bem como o revolucionário povo burkinabé que combateu, durante anos a fio, os regimes reacionários e pró imperialistas, que seguiram e seguem na mesma luta que travou Martí.
Cuba e Burkina Faso são distantes na mesma medida que são próximos e diferentes na mesma medida que são semelhantes de forma que somente nós revolucionários podemos compreender, esse amor sincero nos draga e nos joga inerentemente na direção de uma completude.
Meu país é pequeno, conta com 7 milhões de habitantes, 7 milhões de camponeses que vivem em condições idênticas a séculos, talvez até piores de fato, àquelas que enfrentaram o vosso povo por anos na ditadura fascista de Batista.
Água potável, 3 refeições ao dia, um serviço médico, uma escola ou ferramentas simples de manuseio da terra continuam sendo elementos de uma vida digna que milhões de burkinabés só puderam ter acesso após um ano do processo revolucionário. Não posso também me omitir de dizer das dificuldades que o povo burkinabé e o conselho nacional revolucionário enfrentaram no exercício do poder político do estado. Mas veja aqui, em Cuba, um grande exemplo que nos motiva, que renova nossas convicções revolucionárias e que encoraja os povos do mundo inteiro a seguir lutando contra a fome, as enfermidades e a ignorância.
Nós temos lutado e continuaremos lutando para criar com nossas próprias mãos as bases materiais de nossa felicidade soberana. Nessa luta, nós sabemos que podemos contar em todos os instantes com o apoio infalível do revolucionário povo cubano bem como de todos aqueles que seguem o legado de José Martí.
Que minha voz ecoe até Martí! Que essa medalha guie tanto a mim quanto aos meus camaradas para que façamos triunfar a revolução a serviço do povo que clama por sua felicidade!
Afinal, não é por acaso que nossos estandartes estampam uma palavra de ordem que vocês conhecem muito bem:
Pátria ou morte, venceremos!!!
Thomas Sankara, 25 de outubro de 1984, Cuba.