Contribuição de Samuel Dutra da Silva à Tribuna de Debate do V Congresso do PCB (1960), publicado no jornal Novos Rumos, nº 71, edição para São Paulo, semana de 8 a 14 de julho de 1960.
Transcrição por Ian Cartaxo.
É dever de todo comunista dar sua opinião nos debates que ora se travam. Se permanecermos sempre no complexo de inferioridade em relação aos intelectuais do Partido, tenhamos [a] certeza de que o Partido não crescerá, principalmente suas bases, que, na maioria, são compostas de companheiros modestos.
Na qualidade de um militante de base, tenho o dever de dar minha opinião com relação, já não digo tanto com respeito às teses, mas sim sobre os debates que vêm se travando no Partido, nas colunas de Novos Rumos.
As teses eu li, não tive tempo, ou melhor, não houve tempo suficiente para fazer um estudo, por serem as teses de uma extensão tremenda. No fundamental, acredito que não é novidade, eu entendi, que é a etapa da revolução democrática burguesa. Deve existir alguns problemas que não estão de acordo, mas, como citei, não estudei e acredito mesmo que a maioria do Partido não tenha estudado. Digo mais, a maioria dos que já deram suas opiniões no debate sobre as teses não estão sendo modestos, pois no meu entender não tiveram tempo suficiente para dar uma opinião concreta. Pode-se, isto sim, dar uma ligeira opinião.
Tenho lido diversos artigos de companheiros dirigentes e não dirigentes. Autocrítica que é bom não existe. Tenho notado nesses companheiros que as críticas que dirigem a outros são pesadas, apenas por discordarem de algumas questões.
Tenho lido diversos artigos de companheiro Grabois. Discordo de quase tudo o que levanta. No caso de discordar do companheiro, não se justifica de maneira alguma em escrever artigos de ataques, como por exemplo, o artigo mais pesado que achei – aquele intitulado – Maurício Grabois e Cia. Um Grupo Anti Partido – de autoria do companheiro Fragmon Carlos Borges. A conclusão a que cheguei ao ler o referido artigo é de que o companheiro Grabois não é mais digno de estar nas fileiras do Partido, porque representa um perigo. Críticas iguais à do artigo citado, no meu entender, não ganham ninguém para a justa linha política do Partido. Criam, isto sim, desconfiança entre os militantes. Privam o Partido de dar sua opinião, de criticar e apontar os erros e de discordar com aquilo que não entende. Em vista disto, quero dar mais um voto ao companheiro F. de Paula Dias quando protesta contra estes tipos de críticas que não constroem.
No meu entender, cabe aos dirigentes, como mais capazes e experientes ao escreverem seus artigos, procurarem esclarecer melhor os problemas que são necessários ao Partido, como no momento são as teses e não cuidar muito dos nomes de pessoas. O que devem compreender os companheiros dirigentes é o fato de que os nossos companheiros de base são fracos ideologicamente e politicamente. Se os companheiros não entenderem esta questão é perder tempo em escreverem seus longos artigos com muitas palavras bonitas e que a maioria do Partido não entende e se confundem mais ainda.
São muitos os dirigentes que se encontram ainda com a ideologia pequeno-burguesa. Não chegando ainda ao nível do Partido, que é o nível da classe operária. Acredito em todos os companheiros que estão no Partido dando sua colaboração em defesa dos princípios do Partido, mas nunca perco de vista a ideologia proletária, que muito pouco se manifesta numa grande parte de dirigentes do Partido. É muito fácil se verificar, é só ler os artigos desses companheiros.
Confio no Partido, para tanto estou dentro dele dando a minha colaboração. Precisamos que as resoluções sejam cumpridas com êxito. As direções devem desde já ir preparando estudos coletivos, a fim de que todos os companheiros possam elevar seu nível.
Esta é a minha modesta opinião. Devem todos os companheiros dar a sua também. O estudo das teses deve continuar em todo o Partido. Mais adiante pretendo dar minha opinião sobre as teses.
Viva a unidade do PCB!
Samuel Dutra da Silva
Florianópolis – Santa Catarina
TraduAgindo 