Muita gente está sem entender o que representa a candidatura do Bolsonaro ou as saídas autoritárias no capitalismo.
Trago quatro imagens, duas do E. Maito e duas da minha pesquisa para a dissertação de Mestrado no Instituto de Economia da UFRJ.
A primeira mostra um perfil da taxa de lucro de longo prazo para os países centrais no capitalismo (Alemanha, EUA, Japão, Reino Unido e Suécia). Ali é possível ver que a lucratividade cai durante todo o período, sendo um fato recorrente da sociedade capitalista. O que chama atenção é que a taxa de lucro declinou durante a crise de 1929 e a resposta foi o nazi-fascismo e a guerra. É possível ver que a inclinação da queda seria muito mais pronunciada sem a guerra. O que aconteceu? Durante os anos da guerra a taxa de lucro voltou a subir fortemente, pois grandes massas de capital foram queimadas e novos espaços de acumulação apareceram. A guerra e o autoritarismo foram as respostas para a crise é retomaram a acumulação de capital com vigor! Mas logo depois a tendência de longo prazo se fez presente e a lucratividade voltou a declinar.
Na segunda foto é possível ver a comparação da taxa de lucro do mundo, versus as dos países centrais e da periferia (Argentina, Austrália, Brasil, Chile, China, Coreia, Espanha e México). As economias dependentes têm taxas de lucro maiores por conta de seus reduzidos estoques de capital fixo. Mas a tendência declinante se confirma pela inspeção gráfica, mostrando um fato estilizado da sociedade capitalista: o processo de acumulação gera tendência à queda da taxa de lucro em todo o mundo, seja ele desenvolvido ou não.
Na figura que representa a lucratividade brasileira, da minha pesquisa e calculada por mim (versão preliminar ainda carecendo de certos ajustes), é possível ver os que ela declinou de 2007 em diante, sendo a forte queda a partir de 2010. Não vou entrar no mérito dos motivos da queda porque a análise é grande e complexa. Porém, é preciso levar em conta que enquanto a taxa de lucro subia e caía, durante todo o período a parcela salarial na renda subiu, como mostrado na figura que aponta a queda da parcela dos lucros na renda nacional, vis-à-vis a subida da parcela dos salários na renda.
Mas o central é entender que a candidatura de Bolsonaro e a adesão do empresariado representam a busca pelo destravamento da acumulação de capital às custas do trabalho. O que os empresários querem é o rebaixamento dos salários médios a fim de que seus lucros aumentem, juntamente com a espoliação do fundo público através das privatizações e transferência de riqueza do setor público para o setor privado.
A crise é um fenômeno endógeno, interno do capitalismo. O que as elites econômicas fazem, porém, é que por vezes embarcam em projetos autoritários por conta de seus problemas econômicos. A questão não é sobre os costumes, sobre sexualidade. A questão é o coração do capitalismo, o processo de acumulação!
O que o Bolsonaro representa não é apenas um projeto conservador nos costumes, mas principalmente o acirramento da disputa capital-trabalho jogando o ônus todo no trabalhador.
Referências
MAITO, Esteban Ezequiel. The historical transience of capital: the downward trend in the rate of profit since XIX century. 2014.
Texto originalmente escrito por Bruno Miller Theodosio, as informações dadas serão expandidas em um posterior trabalho acadêmico.
Indica-se para entender mais sobre o contexto geopolítico e de relação com o capital financeiro, o artigo da revista Ópera linkado abaixo:
http://revistaopera.com.br/2018/10/26/a-eleicao-brasileira-e-seus-reflexos-internacionais/
Publicação da dissertação que atualiza os dados disponível em: https://fomentando.wordpress.com/2019/05/18/dissertacao-de-mestrado-ie-ufrj-determinantes-da-acumulacao-de-capital-no-brasil-entre-2000-e-2016-lucratividade-distribuicao-tecnologia-e-financeirizacao/
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