A alegoria do Aprendiz de Feiticeiro de Goethe e o Capitalismo

O famoso conto de 1797 escrito por Goethe intitulado Der Zauberlehrling (O Aprendiz de Feiticeiro) dá provavelmente a melhor alegoria para a própria concepção do capitalismo desenvolvida por Marx, a qual ele memoravelmente descreveu como algo característico de algum tipo de magia – “a magia e a necromancia que estão em volta dos produtos do trabalho em quanto eles tem a forma de mercadorias.”

Sob o modo capitalista de produção, o produtor é controlado pelos produtos de seu trabalho em vez do contrário acontecer. O trabalho vivo no presente serve ao trabalho morto acumulado do passado. “Nos não sofremos apenas do que está vivo, mas também do que está morto. Le mort saisit le vif! (Os mortos controlam os vivos de perto)”!

No Manifesto Comunista, Marx e Engels implicitamente aludem ao poema de Goethe, comparando a relação da sociedade com o capital a relação “do feiticeiro que não consegue mais controlar os poderes do mundo que criou através de seus feitiços”. Marshall Berman, o falecido crítico marxista, refletiu sobre essa citação por alguns parágrafos na sua obra-prima escrita em 1982 intitulada “Tudo que é Solido: A Experiencia da Modernidade”:

“Essa imagem evoca os espíritos do sombrio passado medieval que a nossa moderna burguesia deveria ter enterrado. Seus membros presentes se apresentam como pessoas apegadas a fatos e racionais, não mágicas; como filhos do Iluminismo, não da escuridão. Quando Marx caracteriza a burguesia como feiticeiros – lembre-se, também, sua atuação “conjurou diversas populações para fora do chão”, sem mencionar “o espectro do comunismo” – ele está apontando algo que eles veementemente negam que são. Os projetos do imaginário construído por Marx, aqui como nunca, mostram um sentido de admiração pelo mundo moderno: seu poder vital é deslumbrante, estonteante, é além de tudo que a burguesia poderia ter imaginado, sem contar calculado ou planejado. Mas as imagens que Marx projeta também expressam que algo tem que vir acompanhado desse sentido de admiração: um sentido de medo. Já que esse mundo milagroso e magico também é demoníaco e pavoroso, saindo dos trilhos e dos controles, ameaçando e destruindo cegamento enquanto se move. Os membros da burguesia reprimem tanto a admiração quanto o medo sobre o que eles criaram: os possessores não querem saber o quão profundamente estão possuídos.”

Tudo isso parece perfeitamente familiar aos leitores atentos de Marx. Comentando sobre esse peculiar aspecto duplo, na qual todas as coisas engendram a sua negação, Marx observou: “Nos dias atuais, tudo parece que está grávido do seu contrário: Maquinaria, presenteada com o maravilhoso poder de diminuir e frutificar o trabalho humano, nos estamos observamos ela esfomeados e trabalhando além do necessário. As modernas fontes de riqueza, como se fossem criadas por uma estranha magia, são transformadas em fontes de querer. As vitorias da arte parecem ser compradas pela perda do caráter.”

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Para ilustrar isso, aqui está o filme épico animado da Walt Disney Fantasia, estrelando Mickey Mouse. (Walter Benjamin e Sergei Eisenstein já reconheciam Mickey como revolucionário no começo da década de 30). O capital aparece aqui como o feitiço para aliviar o trabalho necessário, as vassouras como a automatização do trabalho. Tudo funciona bem demais. Acabando com numa grande produção que faz transbordar as caixas d’água.


Tradução por Andrey Santiago

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