Qual era a atividade ao ar livre preferida de Lênin? Falar com as multidões de trabalhadores e camponeses? Ir à luta contra os contrarrevolucionários guardas brancos? Nem um pouco perto. Que tal o esqui na neve (algo que ele era muito proficiente), ou a caça (no qual ele era bem ruim), ou que tal natação? Está chegando perto. Mas a resposta teria que ser entre caminhadas de longa-distância (hiking) e … o ciclismo.
Ele e Nadya (Nadezhdad Krupskaya) faziam longas e longas caminhadas nas montanhas Suiças, ou nos estepes siberianos, na parte rural de Krakow, Paris, Munique ou Copenhague. Mas eles também andariam de bicicleta:
Nas cartas para sua mãe, irmãs e irmãos, escritas tanto por Lênin quanto por Krupskaya, nós achamos constantes referencias ao ciclismo (todas as citações vêm das Obras Escolhidas, volume 37). Ela logo virou um modo de transporte primário para o dia-a-dia, para o relaxamento e para os feriados. No exilio da Russia, Lênin vê as bicicletas de Munique: “O tráfego nas ruas aqui”, ele escreve para sua mãe em 1901, “é com menos pessoas do que numa igualmente larga cidade Russa, isso acontece por que os bondes e as bicicletas estão completamente ganhando dos táxis a cavalo” (p. 332). Entretanto, haveria ainda alguns anos para se passar até que ele e Nadya realmente conseguissem estar em bicicletas, a primeira vez acontece em um feriado em Stiernsund, Suécia, onde eles estaria logo “tendo uma vida de férias – se banhando no mar, andando de bicicleta” (p. 369), e mais regularmente em Geneva, a qual parecia bastante simpática para um ciclista novato. Em adição aos seus notórios banhos frios as 6 da manhã, Lênin se refere regularmente ao ciclismo nas suas cartas (p. 387).

Por volta de 1908 o casal estava planejando se mover para Paris, e nesse momento as bicicletas já eram importantes o bastante para serem consideradas na mudança com eles: “Nós iremos descobrir o que fazer com as bicicletas. É uma pena ter que deixa-las para trás; Elas são coisas excelentes para as férias e para viagens prazerosas” (p. 397). Mas Paris, não era Geneva, especialmente em relação ao tráfego. Logo depois de chegar a cidade, Lênin escreve para sua irmã:
Querida Manyasha,
Eu recebi o seu cartão-postal – obrigado pelas notícias. Em relação a bicicleta, eu pensei que logo iria receber o dinheiro, mas as questões se prolongaram. Eu tenho um terno a pagar e espero conseguir fazer isso. Eu estava vindo de bicicleta da comuna de Juvisy quando um carro veio na minha direção e esmagou a minha bicicleta (eu consegui pular dela). Pessoas me ajudaram a pegar o número do veículo e agiram como minhas testemunhas. Eu descobri que o dono do carro é um visconde (que o diabo o carregue!) e que agora levei ele a corte (por meio de um advogado). Eu não estarei andando de bicicleta por agora, de qualquer modo, está bastante frio (embora seja um inverno bom para caminhadas) (p.447).
Por volta do fim do mês (Janeiro de 1910) o caso aconteceu em favor de Lênin e ele voltou a sua bicicleta: “O tempo está tranquilo e tenho a intenção de voltar ao ciclismo novamente, já que eu ganhei o caso e deverei conseguir o dinheiro do dono do carro logo” (p. 452-3; ver também 450). Mesmo assim, ele continuou a se irritar com o tráfego de Paris: “Eu penso diversas vezes sobre o risco de acidentes ao andar de bicicleta pelo centro de Paris, o tráfego é simplesmente infernal” (p. 452).
Entretanto, Lênin agora era um aguerrido e comprometido ciclista, que iria sair de bicicleta sempre que pudesse – assim como Nadya. Não sendo pessoas da cidade, eles preferiam lugares nas beiras das cidades e perto do meio rural. Ao final daquele ano, Lênin escreve para sua irmã Anna: “Eu tenho andando de bicicleta por um tempo e muitas vezes dou voltas pelo meio rural ao redor de Paris, especialmente já que nós vivemos relativamente pertos das fortificações, i.e., perto das fronteiras da cidade” (p. 458). Eles enviariam cartões postais dos tours ciclísticos, como este de Junho de 1910:
Queridíssima Mãe
Saudações a você, Anyuta e Mitya da nossa excursão de domingo. Nadya e eu estamos andando de bicicleta. A Floresta Meudon é um bom lugar e próxima, a uns 45 minutos de Paris. Eu recebi e respondi a carta de Anyuta. Um grande abraço de mim e de Nadya.
Atenciosamente,
V. U. (p. 460).
De fato, como um bom ciclista, Lênin começou a ficar impaciente com a primavera, já que seria nessa estação que ele poderia começar a andar com a sua bicicleta novamente. Como ele escreve para sua mãe: “Parece que estamos tendo uma primavera mais cedo neste ano. Alguns dias atrás eu fui pedalar na floresta – com as arvores e as orquídeas todas cobertas de neve, como “se fossem banhadas por leite” e com um maravilhoso perfume – uma primavera encantadora! Uma pena que eu pedalei sozinho; Nadya está com gripe, quase perdeu a sua voz e precisa ficar em casa” (p. 475). Em tais passeios, ele iria encontrar tempestades, cansaços, euforia… e pneus murchos, um momento universal dos ciclistas. Nadya narra de Krakow em Março de 1914: “Volodya [Lênin] andou por um longo passeio na sua bicicleta mas teve um pneu que estourou” (p. 515). E Lênin as vezes exagerava, como Nadya coloca em sua carta a sua mãe: “É muito lindo aqui [em Poronin, Polônia]. Felizmente você não pode pedalar muito, já que Volodya costumava abusar disso e se cansar demais”. (p. 498)

Em outras palavras, o líder da mais bem-sucedida revolução comunista era um ciclista comprometido, pedalando o mais longe e o quanto conseguia. Uma imagem de um dia típico para Lênin é feita por nessa descrição de Nadya de seus tempos na comuna socialista de Longimeau, França, em 1911:
Volodya está aproveitando bem o seu verão. Ele realmente trabalha no ar livre, andando bastante de bicicleta, indo se banhar e sendo bastante feliz com a vida rural. Nesta semana estamos pedalando bastante. Fizemos três excursões de 70 a 75 km cada, e exploramos três florestas – foi tranquilo. Volodya é extremamente apreciador das excursões que começam por volta de 6 o 7 da manhã e vão até tarde da noite (p. 610).
Artigo originalmente disponível aqui.
Tradução por Andrey Santiago