A década da “Revolução Cultural”

O presente texto faz parte da “Resolução Sobre Certas Questões na História de Nosso Partido Desde a Fundação da República Popular da China”, publicado em 27 de junho de 1981 e adotado pela Sexta Sessão Plenária do Décimo Primeiro Comitê Central do Partido Comunista da China, o documento completo pode ser encontrado aqui.

Foram feitas alterações na forma do texto para melhor experiência de leitura, nenhum conteúdo foi alterado.


A “revolução cultural”, que durou de Maio de 1966 a Outubro de 1976, foi responsável pelos maiores retrocessos e maiores perdas sofridas pelo Partido, pelo Estado e pelo povo desde a fundação da República Popular.

Foi iniciada e dirigida pelo Camarada Mao Zedong. Sua principal tese foi de que muitos representantes da burguesia e revisionistas contrarrevolucionários haviam se infiltrado no Partido, no governo, no exército e nos círculos culturais, e que a liderança na grande maioria das organizações e departamentos não estavam mais nas mãos de Marxistas e do povo; que elementos do Partido no poder tomando o caminho capitalista haviam formado um quartel general burguês no interior do Comitê Central, que aplicava uma política e linha organizacional revisionista e possuía agentes em todas as províncias, municípios e regiões autônomas, assim como em todos os departamentos centrais; que, como as formas de luta adotadas no passado não haviam resolvido este problema, o poder usurpado pelos seguidores da via capitalista só poderia ser recapturado levando a cabo uma grande revolução cultural, mobilizando total e abertamente as amplas massas de baixo para cima para expor esses fenômenos sinistros; e que a revolução cultural era na verdade uma grande revolução política em que uma classe derrocaria a outra, uma revolução que deveria ser travada de tempos em tempos.

Estas teses apareceram principalmente no Manifesto de 16 de Maio, que serviu como documento programático da “revolução cultural”, e no relatório político para o Nono Congresso Nacional do Partido em Abril de 1969. Elas foram incorporadas na teoria geral — a “teoria da continuação da revolução sob a ditadura do proletariado” — que em seguida tomou um significado específico. Estas teses errôneas de “esquerda”, as quais o Camarada Mao Zedong se baseou ao iniciar a “revolução cultural”, eram obviamente inconsistentes com o sistema do Pensamento Mao Zedong, que é a integração dos princípios universais do Marxismo-Leninismo com a prática concreta da revolução chinesa.

Estas teses devem ser claramente distinguidas do Pensamento Mao Zedong. Quanto a Lin Biao, Jiang Qing e outros, que foram colocados em importantes posições pelo Camarada Mao Zedong, a questões é de uma natureza totalmente diferente. Eles orquestraram dois complôs contrarrevolucionários numa tentativa de tomar o poder supremo e, aproveitando-se dos erros do Camarada Mao Zedong, cometeram vários crimes pelas suas costas, trazendo desastre ao país e ao povo. Como seus crimes contrarrevolucionários já foram totalmente expostos, esta resolução não entrará nestes pormenores.

A história da “revolução cultural” provou que as principais teses do Camarada Mao Zedong para iniciar esta revolução não condiziam com o Marxismo, Leninismo ou à realidade chinesa. Elas representam uma avaliação totalmente equivocada das atuais relações de classe e situação política no Partido e no Estado.

A “revolução cultural” foi definida como uma luta contra a linha revisionista ou o caminho capitalista. Não houveram fundamentos para essa definição. Isso levou a uma confusão entre certo e errado sobre uma série de teorias e políticas importantes. Muitas coisas denunciadas como revisionistas ou capitalistas durante a “revolução cultural” eram na verdade Marxistas e princípios socialistas, muitas das quais foram aplicadas ou apoiadas pelo próprio Camarada Mao Zedong. A “revolução cultural” negou muitos dos princípios, políticas e conquistas corretas dos dezessete anos desde a fundação da República Popular. Na verdade, ela negou muito dos trabalhos do Comitê Central do Partido e do Governo Popular, incluindo contribuições do próprio Mao Zedong. Negou a árdua luta que todo o povo havia conduzido na construção socialista.

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A confusão do certo e do errado inevitavelmente levaria à confusão do povo com o inimigo. Os “seguidores da via capitalista” derrubados na “revolução cultural” eram quadros dirigentes das organizações do Partido e do governo em todos os níveis, que formavam o centro de forças da causa socialista. O tão chamado quartel general burguês no interior do Partido, encabeçada por Liu Shaoqi e Deng Xiaoping, simplesmente não existia. Fatos irrefutáveis provaram que a acusação do Camarada Liu Shaoqi como um “renegado, traidor e hostil” não foi nada mais que uma conspiração feita por Lin Biao, Jiang Qing e seus seguidores. A conclusão política a respeito do Camarada Liu Shaoqi elaborada pela Décima Segunda Sessão Plenária do Oitavo Comitê Central do Partido e as medidas disciplinares a que ele foi sujeito estavam ambas totalmente erradas. A crítica das chamadas autoridades acadêmicas reacionárias na “revolução cultural”, durante os quais muitos intelectuais capazes e talentosos foram atacados e perseguidos, também foi uma confusão na distinção entre o povo e o inimigo.

Nominalmente, a “revolução cultural” foi realizada baseando-se diretamente sobre as massas. Na verdade, ela se divorciou tanto das organizações do Partido quanto das massas. Após o movimento iniciar, as organizações do Partido em diferentes níveis foram atacadas e se tornaram parcialmente ou totalmente paralisadas, os quadros dirigentes do Partido em vários níveis foram sujeitos à crítica e luta, a vida interna do Partido estava num impasse, e muitos ativistas e um grande número das massas básicas a que o Partido muito dependia foram rejeitadas.

No início da “revolução cultural” a grande maioria dos participantes do movimento agiram com pouca fé no Camarada Mao Zedong e no Partido. Com exceção de um punhado de extremistas, no entanto, eles não aprovaram a aplicação de lutas implacáveis contra quadros dirigentes do Partido de todos os níveis. Com o passar do tempo, seguindo seus próprios caminhos tortuosos, finalmente adquiriram uma elevada consciência política e consequentemente começaram a adotar uma atitude cética e observadora a respeito da “revolução cultural”, ou mesmo resistiram e opuseram-na. Muitas pessoas foram atacadas de modo mais ou menos severo por esta razão. Tal estado de coisas não poderia senão prover brechas a serem exploradas pelos oportunistas, arrivistas e conspiradores, dos quais não poucos foram escalados a altas ou mesmo posições essenciais.

A prática tem demonstrado que a “revolução cultural” não constituía de fato uma revolução ou progresso social em nenhum sentido, nem era possível sê-la. Foram nós e não os inimigos que foram sujeitos à desordem pela “revolução cultural”. Portanto, do começo ao fim, ela não transformou a “grande desordem no céu” em “grande ordem no céu”, nem poderia concebivelmente tê-la feito. Depois que o poder de Estado na forma de ditadura de democracia popular foi estabelecido na China, e especialmente após a transformação socialista estar basicamente completa e os exploradores eliminados enquanto classe, a revolução socialista representava uma ruptura fundamental com o passado, tanto no conteúdo como no método, mesmo embora suas tarefas permaneceram a serem completadas.

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Com certeza era essencial lidar apropriadamente de certos fenômenos indesejáveis que indubitavelmente existiam no Partido e nos organismos de Estado, e removê-los por medidas corretas em conformidade com a Constituição, às leis e à Constituição do Partido. Mas de modo algum as teorias e métodos da “revolução cultural” deveriam ter sido aplicadas. Sob as condições socialistas, não há base econômica ou política para levar a cabo uma grande revolução política em que “uma classe derroca a outra”. Decididamente, ela não poderia vir com um programa construtivo, mas somente poderia trazer graves desordens, danos e retrocessos ao trem do socialismo. A história tem mostrado que a “revolução cultural”, iniciada por um líder operando sob um equívoco e aproveitada pelos complôs contrarrevolucionários, levou a tumultos domésticos e trouxe uma catástrofe para o Partido, ao Estado e a todo o povo.

A “revolução cultural“ pode ser dividida em três fases.

1 – Do início da “revolução cultural” até o Nono Congresso Nacional do Partido em Abril de 1969.

A convocação da reunião ampliada do Birô Político do Comitê Central do Partido em Maio de 1966 e a Décima Primeira Sessão Plenária do Oitavo Comitê Central em Agosto do mesmo ano marcaram o lançamento da “revolução cultural” em escala total. Estas duas reuniões adotaram o Manifesto de 16 de Maio e a Decisão do Comitê Central do Partido Comunista da China a Respeito da Grande Revolução Cultural Proletária, respectivamente. Lançaram uma luta errônea contra o suposto complô anti-Partido de Peng Zhen, Luo Ruiqing, Lu Dingyi e Yang Shangkun e o tão chamado quartel general de Liu Shaoqi e Deng Xiaoping. Erroneamente reorganizaram os órgãos centrais dirigentes, estabeleceram o “Grupo da Revolução Cultural sob o Comitê Central do Partido Comunista da China” e deu-lhe a maior parte do poder do Comitê Central.

Na verdade, a liderança pessoal do Camarada Mao Zedong caracterizada por erros de “esquerda” tomou lugar da liderança coletiva do Comitê Central, e o culto do Camarada Mao Zedong levada freneticamente ao extremo. Lin Biao, Jiang Qing, Kang Sheng, Zhang Chunqiao e outros, agindo principalmente em nome do “Grupo da Revolução Cultural”, exploraram a situação para incitar o povo a “derrubar tudo e lançar uma guerra civil em escala total”. Por volta de Fevereiro de 1967, em várias reuniões, Tan Zhenlin, Chen Yi, Ye Jianying, Li Fuchun, Li Xiannian, Xu Xiangqian, Nie Rongzhen e outros membros do Birô Político e camaradas dirigentes da Comissão Militar do Comitê Central criticaram duramente os erros da “revolução cultural”. Isso foi rotulado como “Corrente Adversa de Fevereiro”, e eles foram atacados e reprimidos.

Os Camaradas Zhu De e Chen Yun também foram erroneamente criticados. Quase todos os dirigentes do Partido e dos departamentos do governo nas diferentes esferas e localidades foram despojados de seu poder ou reorganizados. O caos era tal que foi necessário enviar o Exército Popular de Libertação a apoiar a Esquerda, os operários e os camponeses e para instituir o controle militar e o treinamento militar. Isso desempenhou um papel positivo na estabilização da situação, mas também produziu algumas consequências negativas. O Nono Congresso do Partido legitimou a equivocada teoria e prática da “revolução cultural”, e também reforçou as posições de Lin Biao, Jiang Qing, Kang Sheng e outros no Comitê Central do Partido. As diretrizes do Nono Congresso estavam erradas ideologicamente, politicamente e organizacionalmente.

2 – Do Nono Congresso Nacional do Partido ao Décimo Congresso Nacional em Agosto de 1973.

Em 1970-71 a camarilha contrarrevolucionária de Lin Biao planejou tomar o poder supremo e tentou realizar um golpe de Estado armado contrarrevolucionário. Esse foi o resultado da “revolução cultural”, que negava uma série de princípios fundamentais do Partido. Objetivamente, isso anunciou o fracasso das teorias e práticas da “revolução cultural”. Os Camaradas Mao Zedong e Zhou Enlai engenhosamente frustraram a tentativa de golpe. Apoiado pelo Camarada Mao Zedong, o Camarada Zhou Enlai assumiu o cargo do trabalho diário do Comitê Central, e as coisas começaram a melhorar em todos os campos. Durante a crítica e o repúdio a Lin Biao em 1972, ele corretamente propôs a crítica da tendência do pensamento ultra-esquerdista.

Na verdade, isso foi uma extensão das corretas propostas colocadas em torno de Fevereiro de 1967 por muitos camaradas dirigentes do Comitê Central que haviam pedido pela correção dos erros da “revolução cultural”. O Camarada Mao Zedong, contudo, erroneamente defendeu que a tarefa ainda era se opor à “ultra-direita”. O Décimo Congresso do Partido perpetuou os erros de “esquerda” do Nono Congresso e fez Wang Hongwen um vice-presidente do Partido. Jiang Qing, Zhang Chunqiao, Yao Wenyuan e Wang Hongwen formaram umBando dos Quatro no interior do Birô Político do Comitê Central, assim fortalecendo a influência da camarilha contrarrevolucionária de Jiang Qing.

3- Do Décimo Congresso do Partido a Outubro de 1976.

No início de 1974, Jiang Qing, Wang Hongwen e outros lançaram a campanha para “criticar Lin Biao e Confúcio”. Jiang Qing e os outros dirigiram a ponta da lança ao Camarada Zhou Enlai, que foi de natureza diferente das campanhas conduzidas em algumas localidades e organizações onde indivíduos envolvidos nos incidentes relacionados com as conspirações da camarilha contrarrevolucionária de Lin Biao foram investigados. O Camarada Mao Zedong aprovou o lançamento do movimento para “criticar Lin Biao e Confúcio”. Quando ele descobriu que Jiang Qing e os outros estavam transformando isso a seu proveito, a fim de tomar o poder, ele severamente os criticou. Ele declarou que haviam formado um “bando dos quatro” e apontou que Jiang Qing nutria a ambição de fazer dela mesma presidente do Comitê Central e de “formar um gabinete” pela manipulação política.

Little progress in rule of law since Gang of Four trial | South China  Morning Post
O chamado “Bando dos Quatro”: Zhang Chunquiao, Yao Wenyuan, Jiang Qing e Wang Hongwen

Em 1975, quando o Camarada Zhou Enlai estava seriamente doente, o Camarada Deng Xiaoping, com apoio do Camarada Mao Zedong, assumiu o trabalho diário do Comitê Central. Ele convocou uma reunião ampliada da Comissão Militar do Comitê Central e diversos outras reuniões com vista a resolver os problemas na indústria, agricultura, transporte e na ciência e tecnologia, e começou a pôr em ordem o trabalho em muitos campos, de modo que a situação tomou uma direção à melhora. Contudo, o Camarada Mao Zedong não suportava a aceitar a correção sistemática dos erros da “revolução cultural” pelo Camarada Deng Xiaoping e lançou o movimento para “criticar Deng e se opor à tendência desviacionista de direita de reverter corretos vereditos”, mais uma vez jogando a nação em tumulto.

Em Janeiro do mesmo ano, o Camarada Zhou Enlai faleceu. O Camarada Zhou Enlai foi absolutamente dedicado ao Partido e ao povo e manteve seu cargo até o dia de sua morte. Ele se encontrava numa situação extremamente difícil durante toda a “revolução cultural”. Ele sempre manteve o interesse geral em mente, arcou com o fardo pesado de escritório sem reclamações, exigia muito de seu cérebro e incansavelmente se esforçava para manter o trabalho do Partido e do Estado normais e em andamento, para minimizar os danos causados pela “revolução cultural” e para proteger muitos quadros do Partido e fora do Partido. Ele lançou diversas formas de luta para acabar com a sabotagem dos complôs contrarrevolucionários de Lin Biao e Jiang Qing. Sua morte deixou todo o Partido e o povo na mais profunda tristeza.

The Conspiracy of Lin Biao: Glory, Mystery, and Death – StMU History Media
Mao Zedong e Lin Biao

Em Abril do mesmo ano, um poderoso movimento de protestos, conhecido como Incidente de Tian An Men, sacudiu todo o país, um movimento para lamentar a morte do Premiê Zhou Enlai e para se opor ao Bando dos Quatro. Em essência, o movimento foi uma demonstração de apoio para a liderança correta do Partido representada pelo Camarada Deng Xiaoping. O movimento lançou as bases para um massivo apoio popular para a posterior derrubada da camarilha contrarrevolucionária de Jiang Qing.

周恩来Zhou Enlai on Twitter: "Zhou Enlai and Deng Xiaoping stand on a balcony  at Tiananmen Rostrum in October 1963. #ZhouEnlai #周恩来#DengXiaoping #邓小平…  https://t.co/bgvWMZgqt7"
Deng Xiaoping e Zhou Enlai

O Birô Político do Comitê Central e o Camarada Mao Zedong consideraram erroneamente a natureza do Incidente de Tian An Men e afastaram o Camarada Deng Xiaoping de todos os seus cargos dentro e fora do Partido. Logo quando o Camarada Mao Zedong falece em Setembro de 1976, a camarilha contrarrevolucionária de Jiang Qing intensificou sua tentativa de tomar a liderança suprema do Partido e do Estado. No início de Outubro do mesmo ano, o Birô Político do Comitê Central, executando a vontade do Partido e do povo, resolutamente esmagou o complô e trouxe a catastrófica “revolução cultural” ao fim. Isso foi uma grande vitória conquistado por todo o Partido, exército e o povo após uma luta prolongada. Hua Guofeng, Ye Jianying, Li Xiannian e outros camaradas cumpriram uma parte vital na luta para esmagar a camarilha.

A principal responsabilidade para os graves erros de “esquerda” da “revolução cultural”, erros profundos em magnitude e longos em duração, de fato pesa sobre o Camarada Mao Zedong. Mas apesar de tudo isso, foi um erro de um grande revolucionário proletário. O Camarada Mao Zedong tomou bastante atenção para superar as deficiências na vida do Partido e do Estado. Em seus últimos anos, contudo, longe de fazer uma análise correta de muitos problemas, ele confundiu o certo com o errado e o povo com o inimigo durante a “revolução cultural”. Ao mesmo tempo que cometia sérios erros, ele exortava repetidas vezes a todo o Partido a estudarem as obras de Marx, Engels e Lênin conscienciosamente e imaginou que sua teoria e prática eram marxistas e que eles eram essenciais para a consolidação da ditadura do proletariado.

Nisso reside sua tragédia. Enquanto persistia no profundo erro da “revolução cultural”, ele verificou e retificou alguns de seus erros, protegeu alguns quadros dirigentes do Partido e figuras públicas apartidárias e permitiu alguns quadros dirigentes a retornarem a cargos de direção importantes. Ele dirigiu a luta para esmagar a camarilha contrarrevolucionária de Lin Biao. Ele fez grandes críticas e exposições de Jiang Qing, Zhang Chunqiao e outros, frustrando suas ambições sinistras de tomar a liderança suprema. Tudo isso foi crucial para a posterior e relativa derrubada pacífica do Bando dos Quatro pelo nosso Partido.

Em seus últimos anos, ele permaneceu vigilante para salvaguardar a segurança de nosso país, se manteve firme à pressão dos social-imperialistas, aplicou uma política externa correta, firmemente apoiando a justa luta de todos os povos, orientou a estratégia correta dos três mundos e avançou ao importante princípio de que a China nunca buscaria hegemonia. Durante a “revolução cultural”, nosso Partido não foi destruído, mas manteve sua unidade. O Conselho de Estado e o Exército Popular de Libertação ainda estavam aptos a fazerem bastante se seus trabalhos essenciais. O Quarto Congresso Nacional Popular, que teve a participação de deputados de todas as nacionalidades e de todas as esferas, foi convocado e determinou a composição do Conselho de Estado com os Camaradas Zhou Enlai e Deng Xiaoping como as lideranças centrais. As bases do sistema socialista na China permaneceram intactas e foi possível continuar a construção econômica socialista. Nosso país permaneceu unido e exerceu uma significante influência nos assuntos internacionais.

Todos estes importantes fatos são inseparáveis do grande papel desempenhado pelo Camarada Mao Zedong. Por estas razões, e particularmente por suas vitais contribuições à causa da revolução ao longo dos anos, o povo chinês sempre considerou o Camarada Mao Zedong como seu grande líder e professor amado e respeitado.

A luta travada pelo Partido e pelo povo contra os erros de “esquerda” e contra a camarilha contrarrevolucionária de Lin Biao e Jiang Qing durante a “revolução cultural” foi árdua e cheia de reviravoltas, e nunca se cessou. Rigorosos testes durante toda a “revolução cultural” provaram que ao lado correto da luta estava a esmagadora maioria dos membros do Oitavo Comitê Central do Partido e dos membros do Birô Político, do Comitê Permanente e da Secretaria. A maioria de nossos quadros do Partido, independente se foram injustamente demitidos ou se permaneceram em seus cargos, independente se foram reabilitados mais cedo ou mais tarde, são leais ao Partido e ao povo e inabaláveis em suas aspirações na causa do socialismo e comunismo.

A maioria dos intelectuais, dos trabalhadores exemplares, democratas patrióticos, patrióticos chineses no exterior e quadros e massas de todos os estratos e todas as nacionalidades que foram injustiçados e perseguidos não vacilaram em seu amor pela pátria e no apoio ao Partido e ao socialismo. Líderes do Partido e do Estado, tal como os Camaradas Liu Shaoqi, Peng Dehuai, He Long e Tao Zhu e todos os outros camaradas do Partido e fora do Partido que foram perseguidos até a morte durante a “revolução cultural” viverão eternamente nas memórias do povo chinês.

Foi através da luta conjunta travada por todo o Partido e as massas de operários, camponeses, oficiais e soldados do EPL, intelectuais, jovens instruídos e quadros que os estragos feitos pela “revolução cultural” foram ligeiramente atenuados.

Alguns progressos foram feitos em nossa economia apesar das tremendas perdas. A produção de grãos aumentou de forma relativamente constante. Significantes conquistas foram conseguidas na indústria, nas comunicações, na construção civil e na ciência e tecnologia. Novas ferrovias foram construídas e a Ponte Changjiang de Nanjing foi terminada; uma série de grandes empresas utilizando tecnologia avançada começaram a operar; testes de bombas de hidrogênio foram realizadas com sucesso e satélites artificiais foram lançados e retornaram também com sucesso; e novas estirpes híbridas de arroz de fibra longa foram desenvolvidas e popularizadas.

Apesar do tumulto interno, o Exército Popular de Libertação defendeu bravamente a segurança de nossa pátria. E novas perspectivas foram abertas na esfera dos assuntos externos. É desnecessário dizer que, de forma alguma, nenhuma destas conquistas devem ser atribuídas à “revolução cultural”, sem o qual nós teríamos alcançado conquistas ainda maiores para a nossa causa. Embora tenhamos sofrido de sabotagem pela camarilha contrarrevolucionária de Lin Biao e Jiang Qing durante a “revolução cultural”, saímos vitoriosos sobre eles no fim.

O Partido, o poder político popular, o exército popular e a sociedade chinesa como um todo permaneceram inalterados em natureza. Uma vez mais a história provou que nosso povo são um grande povo e que nosso Partido e o sistema socialista possuem uma enorme vitalidade.

Além da causa imediata, mencionada anteriormente, do erro do Camarada Zedong na liderança, houveram complexas causas sociais e históricas subjacentes à “revolução cultural” que se arrastaram por mais de uma década. As principais causas são as seguintes:

A história do movimento socialista não é longa, e dos países socialistas são menores ainda. Algumas leis que regem o desenvolvimento da sociedade socialista estão relativamente claras, mas muitas continuam a serem exploradas. Nosso Partido passou sobretudo por circunstâncias de guerra e de duras lutas de classes. Ele não estava completamente preparado, tanto ideologicamente ou em termos de estudo científico, para o abrupto advento da sociedade socialista recém-nascida e para a construção socialista em escala nacional.

As obras científicas de Marx, Engels, Lênin e Stálin são nossos guias para ação, mas não podem de maneira alguma prover respostas prontas para os problemas que encontramos em nossa causa socialista. Mesmo após a conclusão básica da transformação socialista, dado a ideologia orientadora, fomos responsáveis, devido às circunstâncias históricas em que nosso Partido cresceu, em continuar a considerar as questões não relacionadas com a luta de classes como manifestação sua, ao observar e lidar com novas contradições e problemas que surgiam na política, economia, cultura e outras esferas no decurso do desenvolvimento da sociedade socialista.

E quando confrontados com a atual luta de classes sob as novas condições, nós habitualmente recaímos sobre os métodos familiares e experiências de larga escala, de lutas turbulentas de massas do passado, que não deveriam ter sido aplicados mecanicamente. Como resultado, ampliamos substancialmente o escopo da luta de classes.

Além disso, esse pensamento e prática subjetivista, divorciada da realidade, parecia ter uma “base teórica” nos escritos de Marx, Engels, Lênin e Stálin porque certas ideias e argumentos colocados por eles foram mal interpretados ou dogmaticamente concebidas. Por exemplo, pensava-se que a igualdade de direitos, que reflete a troca de quantidade iguais de trabalho e é aplicável à distribuição dos meios de subsistência numa sociedade socialista, ou “Direito Burguês” como foi designado por Marx, deveria ser restrita e criticada, assim como o princípio de “para cada qual segundo seu trabalho” e que o interesse material deveria ser restrito e criticado; que a pequena produção continuaria a engendrar capitalismo e a burguesia diariamente e a toda hora em larga escala, mesmo após a conclusão básica da transformação socialista, e também uma série de políticas econômicas e políticas “esquerdistas” sobre a luta de classes nas áreas urbanas e rurais formuladas; e que toda diferença ideológica no interior do Partido era reflexo da luta de classes na sociedade, e assim frequentes e agudas lutas no Partido foram conduzidas. Tudo isso nos levou a considerar o erro de alargar o escopo da luta de classes como um ato de defesa da pureza do Marxismo.

Além disso, os líderes soviéticos iniciaram uma polêmica entre a China e a União Soviética, e transformaram as posições entre os dois Partidos sobre questões de princípios num conflito entre as duas nações, trazendo enorme pressão que a China teve que arcar, politicamente, economicamente e militarmente. Assim fomos forçados a lançar uma luta justa contra o chauvinismo de grande-nação da União Soviética. Sob tais circunstâncias, uma campanha para prevenir e combater o revisionismo no interior do país foi aplicada, que difundiu o erro de alargar o escopo da luta de classes no Partido, de modo que as diferenças normais entre os camaradas no interior do Partido vieram e ser consideradas como manifestações da linha revisionista ou da luta entre as duas linhas. Isso resultou no aumento das tensões nas relações internas do Partido.

Assim, tornou-se difícil para o Partido resistir a certas visões de “esquerda” colocadas pelo Camarada Mao Zedong e outros, e o desenvolvimento destas visões levaram à eclosão da prolongada “revolução cultural”.

O prestígio do Camarada Mao Zedong atingiu um pico e ele começou a se tornar arrogante em todo momento que o Partido era confrontado com a nova tarefa da mudança de foco de seu trabalho na construção socialista, uma tarefa que exigia a máxima cautela. Ele gradualmente divorciou-se da prática e das massas, agindo cada vez mais arbitrariamente e subjetivamente, e constantemente se colocando acima do Comitê Central do Partido.

Cultural Revolution in China: Purge of the Impure | PBS LearningMedia

O resultado foi um constante enfraquecimento e mesmo comprometimento dos princípios de liderança coletiva e centralismo democrático na vida política do Partido e do país. Este estado de coisas tomou forma apenas gradualmente, e no Comitê Central do Partido deve ser colocado parte da responsabilidade.  Dum ponto de vista Marxista, este fenômeno complexo foi o produto de determinadas condições históricas. Culpar isso em apenas uma pessoa ou em apenas num punhado de pessoas não fornecerá uma boa lição para todo o Partido ou permitirá encontrar caminhos práticos para alterar esta situação.

No movimento comunista, líderes desempenham um papel particularmente importante. Isto foi confirmado pela história várias vezes e não deixa margem para dúvidas. Contudo, certos graves desvios, que ocorreram na história do movimento comunista internacional, devido a falhas ao lidar corretamente com as relações entre o Partido e seus líderes, tiveram um efeito adverso em nosso Partido também.

O feudalismo na China possui uma história muito longa. Nosso Partido lutou da maneira mais firme e profunda contra ele, e particularmente contra o sistema feudal da propriedade da terra e os latifundiários e tiranos locais, e promoveu uma nobre tradição de democracia na luta anti-feudal. Mas ainda continua difícil eliminar o mal ideológico e a influência política de séculos de autocracia feudal.

E por várias razões históricas, falhamos em institucionalizar e legalizar a democracia interna do Partido e a democracia na vida política e social de nosso país, ou elaboramos as leis pertinentes mas falhavam na autoridade. Isso significava que as condições estavam propícias para a superconcentração dos poderes do Partido em indivíduos e para o desenvolvimento do papel individual arbitrário e o culto à personalidade no Partido. Assim, foi difícil para o Partido e ao Estado prevenir a iniciação da “revolução cultural” ou verificar seu desenvolvimento.

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