A vasta frota naval chinesa está contrabalanceando o Oceano Pacífico

Reportagem especial da Reuters, realizada por David Lague and Benjamin Kang Lim.

Tradução por Pedro Pio.


A marinha chinesa, que está crescendo mais rápido que qualquer outra grande frota, agora controla os mares de sua costa. Antes dominantes, os Estados Unidos e seus aliados navegam cautelosamente nessas águas. Um ex-oficial da Marinha dos EUA diz que os avanços da China pegaram os americanos “dormindo”.

Uma geração atrás, do meio de 1995 até início de 1996, a China lançou mísseis nas águas próximas a Taiwan, enquanto a ilha autogovernada se preparava para ter suas primeiras eleições presidenciais democráticas. Washington forçosamente interviu para ajudar seu aliado, mandando dois porta-aviões carregados para batalha para patrulhar nas proximidades.  Os porta-aviões, tanto na época quanto agora, servem como ponta de lança do poderio norte-americano, e intimidaram Pequim. A votação prosseguiu. Os mísseis pararam.

Hoje, com a tensão subindo de novo, Washington ainda apoia Taiwan. O presidente chinês Xi Jinping no dia 2 de janeiro renovou a ameaça de longa data de Pequim de usar a força, se necessário, para restaurar o controle do continente sobre a ilha. Mas os Estados Unidos agora estão mandando sinais de apoio muito mais silenciosos.

No domingo, navios americanos navegaram pelo Estreito de Taiwan. Essa foi a sétima passagem de navios de guerra dos EUA pela estreita e estrategicamente sensível hidrovia desde julho.  A cada vez, no entanto, apenas duas embarcações americanas passavam; esta semana foi um par de destroyers. Sem flotilhas poderosas e certamente sem porta-aviões. Já faz mais de 11 anos desde que um porta-aviões americano atravessa o Estreito de Taiwan.

“A administração Trump enfrenta um dilema,” diz Chang Ching, um capitão aposentado da Marinha de Taiwan e pesquisador da Sociedade de Estudos Estratégicos em Taipei. “Eles querem mandar sinais inteligentes e calibrados para Pequim sem causar alvoroços ou mal-entendidos. ”

Esse cuidado é típico da restrição que a marinha dos EUA e dos aliados, incluindo Japão e Austrália, agora exibem em águas internacionais próximas à costa chinesa, de acordo com mais de 10 atuais e antigos oficiais militares americanos e ocidentais.

A China agora domina as águas no que eles chamam de San Hai, ou os “Três Mares”: o Mar do Sul da China, o Mar do Leste da China e o Mar Amarelo. Nessas águas, os Estados Unidos e seus aliados evitam provocar a marinha chinesa.

Fontes: Federação de Cientistas Americanos; Marinha dos EUA; Forças dos EUA no Japão; Forças dos EUA na Coréia; Departamento de Defesa dos EUA; Instituto Marinho Flanders, Regiões Marinhas; Natural Earth

Ao passar de apenas duas décadas, o Exército de Libertação Popular (ELP), o exército chinês, reuniu uma das marinhas mais poderosas no mundo. Esse aumento do poder de fogo chinês no mar – complementado por uma força de mísseis que em algumas áreas agora ultrapassam os dos EUA- mudou o jogo no Pacífico. A expansão da força naval é central na jogada ousada do Presidente Xi Jinping de fazer a China a preeminente força militar da região. Em números puros, a marinha do ELP agora tem a maior frota do mundo. Também está crescendo mais rápido que qualquer outra marinha grande.

“Nós pensamos que a China seria retardatária por muito tempo, então apenas deixamos eles começarem a corrida armamentista naval enquanto demorávamos, ” diz James Holmes, professor do Colégio de Guerra Naval dos Estados Unidos e antigo Oficial de Guerra de Superfície da Marinha dos EUA.

O Ministro da Defesa Nacional chinês, o Comando Americano do Indo-Pacífico e o Pentágono não responderam às perguntas do Reuters.

A expansão da Marinha chinesa

Fontes: Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS); Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS)

Quanto aos Estados Unidos, as apostas estão agora muito mais altas em qualquer operação que dê suporte para seus aliados regionais, incluindo Japão e Taiwan. Os EUA agora enfrentam obstáculos assustadores para qualquer esforço de reforçar uma Taiwan altamente desarmada numa crise. Pequim trata Taiwan como uma província renegada e está atualmente construindo uma força anfíbia que poderia dar capacidades de lançar uma invasão na ilha.

Oficias asiáticos sênior de defesa e segurança dizem que os avanços navais do ELP introduziram uma nova incerteza em tais cenários: se Pequim pode causar dúvidas sérias sobre se Washington irá intervir contra a China, isso iria minar o valor das garantias de segurança dos EUA sobre a Ásia.

Em novembro, uma comissão bipartidária organizada pelo Congresso para revisar a estratégia de defesa nacional da administração Trump reportou que numa guerra com a China sobre Taiwan, “os americanos poderiam enfrentar uma derrota militar decisiva. ”

Como a China ganha confiança de que pode dominar seus mares próximos, tenta desafiar o domínio da marinha americana em águas distantes também, no Oceano Pacífico e no Oceano Índico, de acordo com oficias militares americanos e chineses.

Foto: Uma frota de navios chineses acompanha o porta-aviões Liaoning, um antigo navio da era soviética reformado, no Mar do Sul da China em março do ano passado. Planet Labs/ Handout via REUTERS.

Imagens de satélite de estaleiros chineses, relatórios da mídia estatal chinesa e avaliações dos EUA e de outros experts navais estrangeiros mostram que o a marinha do ELP está expandindo tão rápido quanto os estaleiros podem soldar cascos de navio. Essa frota emergente de água azul era só um sonho para os antigos comandantes da marinha comunista nascida em 1949, durante os estágios finais da guerra civil da nação. Na época, o Exército de Libertação Popular reuniu uma coleção heterogênea de barcos de pesca recrutados e embarcações que desertaram dos Nacionalistas.

Desde 2014, a China lançou mais navios de guerra, submarinos, navios de apoio e embarcações anfíbias de grande porte do que o número total de navios servindo agora na frota do Reino Unido, de acordo com uma análise do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos em Londres publicado em maio do ano passado. Entre 2015 e 2017, a China lançou quase 400.000 toneladas de navios de guerra, quase o dobro da produção de estaleiros dos EUA naquele período, disse o Instituto.

Fonte: Instituto Internacional de Estudos Estratégicos

A Marinha do ELP agora possui cerca de 400 navios de guerra e submarinos, de acordo com analistas navais dos EUA e ocidentais. Em 2030, a marinha chinesa pode ter mais do que 530 navios de guerra e submarinos, de acordo com uma projeção de um estudo de 2016 de um Colégio de Guerra Naval americano.

Uma diminuída e sobrecarregada Marinha Americana, que comandou os oceanos praticamente sem disputa desde o fim da Guerra Fria, tinha 288 navios de guerra e submarinos no fim de março, de acordo com o Pentágono.

Globalmente, a Marinha Americana continua sendo a força marítima dominante, o poder que mantém a paz e a liberdade de navegação em alto mar. O exército e figuras políticas da China dizem que enquanto sua a frota de sua nação tem mais navios, os Estados Unidos têm navios mais poderosos, e supremacia no mar.

“A Marinha Chinesa está ao menos três décadas atrás da dos Estados Unidos”, disse um oficial aposentado da Marinha Chinesa ao Reuters, pedindo anonimato. “É muito cedo para os Estados Unidos se preocuparem”.

A China, no entanto, estabeleceu domínio nas águas próximas a sua costa.

Acabando com a humilhação da China

O lançamento regular e altamente publicitado de novos navios de guerra é uma poderosa arma política para Xi Jinping. Para a audiência doméstica, porta-aviões modernos, destroyers e submarinos são evidências do que Xi descreve como o “Sonho Chinês”, sua visão de uma nação forte e rejuvenescida, está se tornando realidade.

Quase imediatamente depois de assumir o poder no fim de 2012, Xi começou uma série de visitas de alto nível a bases navais e viagens no mar em novos e elegantes navios de guerra. Em documentários e reportagens, ele é recebido a bordo com as saudações de oficiais e tripulantes vestidos imaculadamente. No caminho, ele perscruta a distância da ponte por meio de binóculos navais volumosos, sobe as escadas entre os conveses e divide refeições com os marinheiros.     

Na última primavera, ele observou um grande exercício no Mar do Sul da China, onde uma flotilha de 48 navios de guerra se juntaram em formação. Metade dessas embarcações foi comissionada desde que Xi assumiu o poder, diz a mídia estatal. O destaque foi o lançamento de caças a jato do primeiro porta-aviões da China: o Liaoning, de 60.000 toneladas, uma capota plana reformada da era soviética que serviu como uma plataforma de teste para operações de transportadoras. A Marinha Chinesa lançou também um segundo porta-aviões, que está agora em testes no mar e se espera que se junte à frota este ano, de acordo com oficiais americanos.

Na foto: O primeiro porta-aviões da China, o Liaoning, participa de uma parada militar no Mar do Sul da China em abril do ano passado, acompanhando por navios de guerra e caças a jato. REUTERS/ Stringer

Uma mensagem chave na cobertura oficial das viagens de Xi: uma marinha vigilante sob seu comando protegerá contra uma repetição do século de humilhação que começou com a Primeira Guerra do Ópio em 1839, durante a qual as potências coloniais europeias e japonesas tomaram cruelmente vantagem de uma China vulnerável.

Toda criança chinesa aprende na escola que o sofrimento chinês surgiu parcialmente pela falta de uma marinha moderna. Vergonhosamente, nos anos finais da Dinastia Qing, a imperatriz viúva desviou fundos destinados à modernização naval para a construção de um novo Palácio de Verão. Isso contribuiu para a grande derrota chinesa na guerra de 1894-95 contra o Japão, na qual uma Marinha Japonesa insurgente destruiu a frota chinesa.

Enquanto as referências recorrentes de Pequim a essas humilhações do passado têm valor propagandístico, uma invasão é hoje tratada como uma ameaça altamente improvável, de acordo com documentos militares estratégicos publicados pelo governo chinês. Ao invés disso, a China precisa se preparar para conflitos de alta intensidade em seus mares próximos, dizem esses documentos.

Não é dito exatamente como esses conflitos surgiriam. Mas oficiais dos EUA e outros exércitos estrangeiros dizem não ter dúvidas de que Pequim está se referindo a embates por Taiwan ou territórios disputados próximos aos mares da China. Essa estratégia está mudando a estratégia tradicional da China de ênfase em forças terrestres. Isso marca uma transformação histórica para uma potência continental que por milênios temeu exércitos invadindo por terras pelo norte e oeste.

FOTO: Marinheiros chineses veem o interior de uma embarcação militar uma foto do presidente chinês Xi Jinping, durante um dia de celebração do 19º aniversário da transferência de Hong Kong para a soberania chinesa do domínio britânico (em cima); Tropas chinesas patrulham nas Ilhas Spratly, conhecidas na China como as Ilhas Nansha. A placa diz, “Nansha é nossa terra nacional, sagrada e inviolável. ” (Embaixo) REUTERS/ Stringer

Xi elevou o status da marinha dentro do maior exército do mundo. Num movimento sem precedentes no que tem sido uma força dominada pelo exército, um oficial sênior da marinha, Vice-Almirante Yuan Yubai, foi designado em 2017 para chefiar o Comando Teatral do Sul da China, um dos cinco comandos regionais do país.

Sob Xi, o Partido Comunista também abriu a torneira do financiamento. Entre 2015 e 2021, despesas militares totais estão projetadas para subir 55 por cento de $167.9 bilhões para $260.8 bilhões, de acordo com uma reportagem do ano passado que a Comissão de Avaliação econômica e de segurança EUA-China pediu para Jane’s By IHS Markit, uma empresa de informações de defesa. Durante o mesmo período, é esperado que a fatia do orçamento da marinha aumente 82 por cento, de $31.4 bilhões para $57.1 bilhões, disse a reportagem.

O líder chinês traçou um direcionamento claro para que a marinha se torne uma verdadeira força global que protegeria o vasto comércio marítimo do país e expandiria os interesses internacionais. Em seu Livro Branco de 2015 sobre defesa, a China disse que sua marinha iria gradualmente mudar o seu foco de defender suas águas costeiras para operações em mares abertos.

Por agora, muitos dos navios de guerra da China são embarcações menores, incluindo uma grande frota de navios de ataque-de-míssil rápidos. Mas os estaleiros chineses estão lançando navios de guerra de superfície que estão diminuindo as diferenças em tamanho, qualidade e capacidade com os melhores de suas equivalentes estrangeiros, de acordo com entrevistas com veteranos das marinhas dos EUA, Taiwan e Austrália. A grande frota chinesa de submarinos convencionais e nucleares também está melhorando rapidamente, dizem.

Porta-aviões

A frota dos EUA de porta-aviões nucleares é a espinha dorsal do poderio naval americano. A marinha chinesa está nos estágios iniciais de construir e implantar uma força transportadora eficaz, com um porta-aviões construído e mais um para vir.

Navios de assalto anfíbios

Essas embarcações, na realidade porta-aviões com caças e helicópteros, permitiram os Estados Unidos alocar fuzileiros navais com seu equipamento pesado e apoiá-los com poder aéreo.

Submarinos de mísseis

O papel destes grandes submarinos nucleares é patrulhar indetectáveis no fundo do oceano. Eles podem lançar ataques nucleares com seus mísseis balísticos. Os EUA converteram quatro dessas embarcações para que eles possam disparar mísseis de cruzeiro armados convencionalmente contra alvos terrestres.

Submarinos de ataque

Essas embarcações versáteis são desenhadas para atacar navios na superfície e outros submarinos com torpedos ou mísseis. A frota americana inteira é movida a energia nuclear, enquanto a maior parte da força em rápida expansão da China é composta de submarinos menores e mais discretos movidos a diesel-elétricos.

Cruzadores

A China está preparada para começar a comissionar os quatro primeiros de seus cruzadores Tipo 055, poderosos navios de guerra de superfície que vão incrementar sua frota. A primeira dessas embarcações completou a maioria de seus testes em mar.

Destroyers

Estes são navios de guerra rápidos e manobráveis que desempenham papéis múltiplos incluindo a escolta de porta-aviões, guerra de superfície, defesa aérea e antimísseis. A China está expandindo sua frota.

Fragatas

A China tem um monopólio de uma classe de navios de guerra menores e mais versáteis que podem ser usadas para escoltar outros navios, defesa aérea e antissubmarino. Estaleiros chineses estão lançando esses navios numa rápida velocidade.

Corvetas

A China tem uma frota em expansão desses navios de guerra menores e com mísseis projetados para operações mais próximas da costa continental. A frota de navios de combate em litoral da Marinha dos EUA é designada para ter um papel similar.

Navios de ataque rápido

Essas embarcações pequenas e rápidas são equipadas cada uma com múltiplos mísseis potentes anti-navio. Eles são designados para operar em águas costeiras onde eles podem atacar adversários e lançar ondas de mísseis.

LEGENDA: o número de embarcações é baseado em estimativas do Balanço Militar IISS, documentos orçamentários do Pentágono, reportagens da imprensa e estimativas de oficiais sênior aposentados da Marinha Americana.

Em 2020, a marinha do ELP irá contar com mais navios de guerra e submarinos grandes do que a marinha Russa, disse o antigo chefe do Comando do Pacífico Americano, Almirante Harry Harris para um comitê do congresso ano passado. Alguns experts navais americanos acreditam que a China possa ficar próxima da paridade com a marinha Americana em números e qualidade dos principais navios de guerra de superfície em 2030.

Mais importante, a marinha Chinesa já tem vantagem em poder de ataque, de acordo com oficiais sênior dos Estados Unidos e de outras marinhas regionais. Os melhores destroyers, fragatas, navios de ataque rápido e submarinos estão equipados com mísseis anti-navio que na maioria dos casos ultrapassam a performance daqueles dos EUA, dizem esses oficiais.

Uma guerra diferente

Esse poder de fogo explica porque Washington mantém seus porta-aviões à distância. O último porta-aviões americano a passar pelo Estreito de Taiwan foi o agora desativado USS Kitty Hawk, que transitou com seu grupo de batalha no final de 2007 depois de ter sido negada uma visita ao porto de Hong Kong.

A Marinha dos EUA e outras marinhas estrangeiras ainda navegam próximas à China continental. Mas elas evitam demonstrações evidentes de poderio que poderiam aumentar o risco de embates com os navios de guerra e submarinos modernos chineses. Oficiais aposentados da frota de porta-aviões dos EUA dizem que nos anos recentes o Pentágono também evitou mandar porta-aviões para o Mar Amarelo entre a Península Coreana e a China continental, devido a repetidos avisos dos chineses.

Um exemplo da determinação da China em controlar suas águas próximas veio este mês, quando um navio de guerra francês passou pelo Estreito de Taiwan. Depois da fragata Vendemiaire transitar no dia 6 de abril, a China informou a Paris que a Franç não era mais bem-vinda para participar das celebrações da semana passada que marcaram o 70º aniversário da fundação da marinha comunista Chinesa, disseram oficias americanos ao Reuters.

Oficias veteranos da marinha dos EUA preveem que qualquer conflito sério com a China em sua costa seria sangrento. Os Estados Unidos e seus aliados arriscariam ter grandes perdas e possivelmente a derrota, eles dizem.

Esse tipo de conflito seria muito diferente das guerras que os Estados Unidos têm lutado no Oriente Médio e no Afeganistão. Lá, os EUA se aproveitou de uma superioridade incontestável no ar e na água e uma logística sem impedimentos, disse Gary Roughead, co-diretor de uma revisão de 2018 de estratégia de defesa do governo Trump. Hoje, grandes perdas ou perdas totais de navios de guerra e bases americanas são reais, porém, subestimadas possibilidades para os Estados Unidos num conflito com a China, diz Roughead, antigo Chefe de Operações Navais, o maior cargo da marinha americana. “Nós não pensamos sobre a significativa perda de capital que vai ocorrer – e o povo americano não estar preparado para isso, ” ele disse numa entrevista com a Reuters. “Esses são fatores significativos numa equação de vitória ou derrota”.

LEGENDA: Navios de guerra chineses lançam mísseis durante um exercício de fogo real na costa ao nordeste do país, em agosto de 2017. REUTERS/Stringer

Militares veteranos chineses e pessoas com laços com a liderança do Partido Comunista dizem que a nova força naval da China é defensiva por natureza. É essencial, dizem, para bloquear os hostis Estados Unidos que vem a China como um inimigo.

“Sem domínio no ar e na água, as embarcações navais chinesas serão apenas alvos em um conflito”, disse um oficial aposentado do ELP. “Para os vizinhos do Sudeste Asiático, a marinha chinesa pode ser intimidadora, mas sua agilidade é limitada às águas próximas às costas do país e é muito cedo para que ela seja considerada uma força em mar aberto”.

A marinha do ELP está crescendo e se aperfeiçoando, e em números absolutos de embarcações, já superou a rival americana. Mas a China ainda está bem aquém do poderio naval geral dos americanos. Com 11 porta-aviões, 88 navios de guerra de superfície potentes e 69 submarinos nucleares, os Estados Unidos ostentam a frota mais poderosa e é provável que mantenham a superioridade tecnológica por algum tempo, de acordo com oficiais militares dos EUA e da China.

Em resposta ao desafio da China e uma marinha russa ressurgindo, o Pentágono está reconstruindo sua frota e acelerando o desenvolvimento de novas armas, incluindo a introdução urgente de mísseis de longo alcance. Os Estados Unidos esperam desenvolver uma frota de 355 navios em 2034, de acordo com os documentos de proposta orçamentária do governo Trump. E os aliados chave dos EUA, Japão, Coreia do Sul e Austrália estão melhorando suas marinhas com novos e mais avançados navios de guerra e submarinos

“Para os vizinhos do Sudeste Asiático, a marinha chinesa pode ser intimidadora, mas sua agilidade é limitada às águas próximas às costas do país e é muito cedo para que ela seja considerada uma força em mar aberto”.

                                                                                                              -Um oficial aposentado do ELP

A China também enfrenta um desafio em seu esforço para se tornar uma potência naval global. Experts navais chineses e estrangeiros avisam que Pequim enfrenta um déficit colossal de financiamento enquanto adiciona múltiplos navios de guerra a sua frota. Tipicamente, marinhas acabando pagando o preço inicial de construir um navio de guerra três vezes ao longo de sua vida útil, sendo seus custos de manutenção e reequipamento inclusos, de acordo com construtores navais.

Em algumas tecnologias navais vitais, a China está lutando para acompanhar. Estaleiros chineses ainda dependem de fornecedores estrangeiros para algumas máquinas, armas e sensores, de acordo com registros de comércio globais de armas. As prisões de supostos espiões chineses acusados de roubar segredos militares nos Estados Unidos sugerem que a marinha chinesa tem deficiências em radares, sensores subaquáticos e outras tecnologias eletrônicas.

A marinha do ELP está bem atrás da dos EUA e outras marinhas em guerra antissubmarino, uma deficiência grave, de acordo com experts militares chineses e ocidentais. A maioria dos analistas militares ocidentais também acreditam que a marinha chinesa carece da capacidade anfíbia para invadir Taiwan – as embarcações e habilidades para alcançar a ilha pelo mar e então colocar os pés em terra firme.

No entanto, quando o assunto é dominar os mares próximos, a China não precisa encarar os EUA navio por navio. A marinha americana é uma força de abrangência global com bases extraterritoriais e múltiplas missões, incluindo apoio a operações no Oriente Médio, reforçando aliados europeus, se opondo ao ressurgimento naval da Rússia e salvaguardando rotas marítimas globais. Para fazer esse trabalho, a marinha dos EUA tem que dominar praticamente todos os oceanos do mundo.

Em contraste, a frota chinesa inteira é baseada na costa continental. Isso significa que tem a vantagem de ser o time em casa. Sem grandes responsabilidades militares globais, a marinha ELP pode concentrar praticamente todas as suas forças em águas costeiras, enchendo a zona dentro do que Pequim se refere como “a primeira cadeia de ilhas”: o arco que passa através das proximidades das ilhas maiores do arquipélago japonês, Taiwan, as Filipinas e Bornéu.

Em um conflito nestes mares próximos, a China continental funcionaria como um grande e inafundável porta-aviões. Navios de guerra chineses estariam próximos de apoio logístico e do poder de fogo de mísseis baseados na terra e aeronaves de ataque. Essas forças procurariam subjugar navios de guerra inimigos com rajadas de mísseis e torpedos de múltiplas direções, dizem analistas militares americanos e chineses.

Linha a Esquerda: Primeira Corrente de Ilhas. Linha a Direita: Segunda Corrente de Ilhas.

A maioria desse poder de fogo estava indisponível quando o presidente Bill Clinton posicionou os dois grupos de batalha de porta-aviões ao largo de Taiwan no início de 1996. A marinha obsoleta da China, voltada para a defesa costeira, era incapaz de responder, e Pequim pôde apenas observar inerte à votação em Taiwan.

Essa humilhação foi um momento decisivo, dizem oficiais da marinha chinesa e ocidentais. Ferida, a China encomendou da Rússia dois destroyers poderosos equipados com mísseis anti-navio supersônicos que poderiam destruir porta-aviões americanos e outros navios de guerra. Mais dois chegaram depois de uma encomenda subsequente.

Construindo uma armada

Então os estaleiros navais da China começaram a trabalhar. Imagens de satélite dos principais pátios de Shangai, Dalian, Guangzhou e Wuhan os mostram continuamente lotados de navios de guerra e submarinos em diferentes estágios de construção. Desde junho de 2017, os estaleiros chineses desenvolveram quatro cruzadores Tipo 055 fortemente armados, que os oficiais militares americanos e chineses dizem serem páreos para qualquer navio de guerra moderno.

LEGENDA: Imagens de satélite: Google, DigitalGlobe

Múltiplos navios de guerra podem ser vistos em construção em uma seção do Estaleiro de Jiangnan em Shangai em abril de 2018, incluindo cruzadores Tipo 055 e destroyers Tipo 052D, navios de guerra de superfície avançados e armados com mísseis de longo alcance para atacar alvos navais e aerotransportados. O primeiro cruzador Tipo 055, o Nanchang, de 10.000 toneladas, completou a maior parte de seus testes no mar e vai se juntar à frota em breve, disse o exército chinês em 25 de abril. Ele vai contribuir com um incremento massivo ao poder de fogo naval da China quando estiver totalmente operacional.

LEGENDA: Imagens de satélite: Google, DigitalGlobe

E o ELP está construindo uma força de navios de carga modernos e anfíbios que no tempo certo poderão permitir que Pequim desembarque em Taiwan ou em territórios disputados como as Ilhas Senkaku, conhecidas como Ilhas Diaoyu na China, que são controladas pelos japoneses. O ELP também está treinando uma força expandida de fuzileiros navais para desembarques anfíbios. É esperado que os marinheiros chineses se tornem uma força de 30.000 homens, de acordo com um relatório anual do Pentágono sobre o poderio militar chinês, disponibilizado em agosto.

No dia 27 de fevereiro, o segundo porta-aviões chinês foi colocado no mar de Dalian para sua quinta rodada de testes, de acordo com reportagens na mídia oficial.

Com o porta-aviões ainda sem nome próximo de se juntar à frota, a marinha do ELP celebrou seu aniversário em 23 de abril com um desfile naval multinacional na sede da Frota do Mar do Norte em Qingdao. Xi Jinping estava presente quando o Nanchang fez sua primeira aparição pública com a frota.

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