Mao Zedong – A importância de compreender os problemas do povo

Texto originalmente disponibilizado no livro “Realidade Brasileira” organizado pelo Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e Fundação Perseu Abramo.

A elaboração dos textos foi realizada pela Comissão Nacional de Formação do Movimento dos Atingidos por Barragens.


Prefácio ao inquérito no campo

Atualmente, a política do Partido no campo já não é a política da revolução agrária que praticou durante os dez anos de guerra civil; agora é a política da frente de unidade nacional antijaponesa. O Partido inteiro deve executar as diretivas do Comitê Central de 7 de julho e 25 de dezembro de 1940, assim como as que dará o VII Congresso Nacional do Partido a se realizar em breve. O presente material tem a finalidade de ajudar os nossos camaradas a encontrar os métodos de estudo dos problemas que se lhes colocam.

Um grande número de camaradas, na hora atual, dedica-se ainda a um estilo de trabalho errado: abordam os problemas de uma maneira superficial, recusando-se a aprofundá-los; acontece mesmo, às vezes ignoram completamente o que se passa na base e, contudo, ocupam postos dirigentes. Aí está um perigo muito grave. Sem um conhecimento verdadeiramente concreto da situação real de todas as classes da sociedade chinesa não pode realmente haver boa direção.

Para conhecer uma situação, o único método consiste em fazer um inquérito sobre a sociedade e sobre a própria vida das diferentes classes da sociedade. Para os que ocupam postos dirigentes, o método fundamental que permite conhecer esta situação consiste em escolher, de acordo com um plano, um certo número de cidades e aldeias e, depois, obedecendo à concepção marxista fundamental – isto é, recorrendo à análise de classe –, efetuar uma série de inquéritos minuciosos. Somente assim podemos adquirir os conhecimentos de base sobre os problemas da sociedade chinesa.

Para isso, é preciso, em primeiro lugar, olhar para baixo e não planar sobre as nuvens. Todo aquele que não tiver nem o desejo nem a vontade de olhar para baixo nunca poderá compreender qual é a verdadeira situação na China.

Em segundo lugar, é preciso organizar reuniões-inquérito. Observações superficiais e do tipo “comenta-se” nunca permitirão adquirir um pleno conhecimento dos fatos. O método das reuniões-inquérito é o mais simples e o mais facilmente realizável e, além disso, o que proporciona informações mais verdadeiras e seguras. Esse método foi-me extremamente proveitoso. É uma escola com a qual nenhuma universidade poderia rivalizar. É bom convidar para estas reuniões quadros experientes dos escalões médios e inferiores, ou simples pessoas que pertençam à população local.

No decurso do inquérito em cinco distritos de Hunan e em dois distritos da região de Tshingkanhchan, convidei quadros responsáveis dos escalões médios desses distritos; para me ajudar no inquérito no distrito de Siunwou, assim como um bacharel pobre, convidei um antigo presidente da Câmara de Comércio, que tinha aberto falência, e um pequeno funcionário desempregado, que em tempos dirigiu, na administração do distrito, o serviço de impostos.

Todos me ensinaram muitas coisas que, até então, não tinha tido ocasião de ouvir. A pessoa que, pela primeira vez, me permitiu ter uma ideia completa sobre o estado lamentável das prisões chinesas foi um vigilante da prisão distrital que encontrei quando do inquérito no distrito de Henchan, província de Hunan. No decurso do inquérito no distrito de Hsingkouo e nos dois cantões de Tchang-Kang e Tsaihs, dirigi-me a camaradas que trabalhavam na escola do município e também a simples camponeses.

Todas essas pessoas – os quadros, os camponeses, o bacharel, o vigilante de prisão, o comerciante e o funcionário do serviço de impostos – foram para mim venerandos professores. Considerei-me aluno deles e, ao partir, testemunhei-lhes respeito, manifestei-lhes a minha aplicação e tratei-os como camaradas. Doutro modo, eles não teriam perdido tempo comigo e não te- riam contado o que sabiam ou, pelo menos, não tudo.

É inútil convidar muita gente para essas reuniões: basta convidar uns cinco, no máximo sete ou oito pessoas. Para cada uma dessas reuniões, é preciso reservar todo o tempo necessário, preparar o questionário, anotarmos nós mesmos as respostas, ampliar o exame dos problemas com os interlocutores.

Por consequência, se não se está decidido a olhar para baixo, se não se tem sede de conhecimentos, se não se tem um desejo profundo de pôr de lado toda a arrogância e tornar-se um modesto aluno, não se poderá efetuar este trabalho em sua plenitude, ou ele será mal feito. É preciso compreender que os verdadeiros heróis são as massas: quanto a nós, somos muitas vezes de uma ignorância risível. Se não se compreende isso, não se poderá sequer adquirir um mínimo de conhecimentos.

Repito que o objetivo principalmente visado com a publicação destes documentos de referência é o de mostrar qual o método a se utilizar para compreender a situação na base, e não o de fazer entrar na cabeça de camaradas estes documentos em si, com as conclusões que daí foram tiradas.

De uma maneira geral, a burguesia chinesa, não chegada à maturidade, não pôde, até aqui, e nunca poderá fornecer um mínimo de informações sobre as condições da sociedade, como fizeram as burguesias da Europa, da América ou do Japão. É por isso que precisamos recolher nós próprios estes materiais. Isso se refere, em particular, aos que estão empenhados num trabalho prático e que devem estar sempre a par das flutuações da situação; neste ponto, não podem os comunistas de país algum contar com qualquer coisa já preparada. É por isso que todos os que estão comprometidos com um trabalho prático devem estudar a situação na base.

Em relação aos que não estão familiarizados senão com a teoria e que ignoram a situação real, a prossecução de tais inquéritos é ainda mais necessária, pois de outro modo não poderão ligar e teoria à prática. “Quem não fez inquérito algum não tem direito de falar”. Embora alguns tenham troçado desta frase, na qual eles viam a manifestação de um “empirismo estreito”, continuo a não me arrepender deste propósito: não só não me arrependo como estou firmemente convencido de que, uma vez que não se inquiriu, não se pode pretender ter o direito de exprimir opiniões.

Há muitos que, mal “põem o pé em terra”, começam a discorrer, a proclamar a sua opinião, a criticar e a condenar tudo: na prática, todas essas pessoas, sem exceção, estão voltadas ao fracasso, porque os seus discursos, as suas críticas, não são fundadas num inquérito minucioso e não são outra coisa senão palavreado de ignorantes. O mal causado ao Partido por esses “enviados imperiais” é incalculável.

É certo que a prática se torna cega se a sua via não está iluminada pela teoria revolucionária. Ninguém pode ser taxado de “empirista estreito”, exceto os práticos, cegos ou de vistas curtas, que não veem em perspectivas. Agora, também, sinto a necessidade extrema de estudar em detalhe a situação da China e dos outros países; isto se deve ao fato de que meus conhecimentos neste domínio ainda não são suficientes e não posso, de maneira alguma, afirmar que conheço tudo, de agora em diante, e que os outros não sabem nada. Com todos os camaradas do partido, aprender junto das massas e continuar a ser o seu modesto aluno: eis o meu desejo. (março, 1941).

A pesquisa

Sem pesquisa não há direito à palavra

Para falar de um referido problema, é necessário, antes, fazer uma pesquisa sobre ele. Quem não tiver ideia, não tiver pesquisado sobre a natureza do problema, não pode ter direito à palavra para falar dele. Quando se ignora a fundo um problema, por não se haver pesquisado sobre o seu estado atual e suas causas, não se pode dizer nada a seu propósito, senão asneiras. E as asneiras, todo mundo sabe, não servem para resolver os problemas. O que há de injusto, portanto, em se privar do direito à palavra quem não pesquisou? Ora, muitos camaradas não sabem fazer outra coisa que não seja divagar, de olhos fechados: isto é uma vergonha para os comunistas! Como é que um comunista pode falar assim no ar, de olhos fechados? É inadmissível! Fazei pesquisas! E não digam mais asneiras!

Pesquisar sobre um problema é começar a resolvê-lo

Não se consegue resolver um problema? Pois bem! Informemo-nos do seu estado atual e passado! Quando se tiver feito um inquérito aprofundado, saber-se-á como resolvê-lo. As conclusões tiram-se no fim do inquérito e não no seu começo. Só os néscios, isoladamente ou em grupos, sem ter feito quaisquer inquéritos, torturam o espírito para “encontrar uma solução”, “descobrir uma ideia”. Assinale-se que nenhuma boa solução, nenhuma ideia boa sairá daí. Ou seja, os néscios não poderão chegar senão a uma má solução, a uma má ideia.

Não são raros os nossos inspetores, os nossos chefes partidários, os nossos quadros, recentemente instalados, que se deliciam, desde a sua chegada, em fazer declarações políticas, e se põem, a propósito de meras aparências por qualquer íntimo detalhe a censurar isso, a condenar aquilo, com gestos autoritários. Nada de mais detestável, verdadeiramente, do que é puramente subjetivo. Tais pessoas podem estar certas de estragar tudo, de perder o apoio das massas e de não resolver qualquer problema.

Numerosos são os dirigentes que apenas exalam suspiros em face dos problemas difíceis, sem poderem resolvê-los. Perdendo a paciência, eles pedem para ser transferidos, alegando que “não conseguem dar conta da sua tarefa por falta de capacidade”. É esta a linguagem de um covarde! Mas mexam-se um pouco! Deem uma volta pelos setores e localidades que são da sua competência e imitem Confúcio, que “fazia perguntas sobre tudo”! Por menor que seja sua capacidade, saberão resolver os problemas; pois, se é verdade que ao sair de casa tinham a cabeça vazia, o mesmo não acontecerá quando regressarem: o cérebro estará munido de todos os materiais necessários para a solução dos problemas, que se acharão, assim, resolvidos.

É sempre necessário sair de casa? Não forçosamente. Pode-se convocar pessoas bem informadas para uma reunião de informação, que consigam reportar à origem daquilo a que se chamou um problema difícil e para nos esclarecer sobre o seu estado atual. Dessa forma, ficará mais fácil solucionar o problema. O inquérito é comparável a uma longa gestação, e a solução de um problema, ao dia do parto. Inquirir sobre um problema é resolvê-lo.

Contra o culto do livro

Tudo o que está nos livros é justo: tal é, ainda hoje, o estado de espírito dos camponeses chineses, culturalmente atrasados. Mas, é surpreendente que nas discussões do Partido Comunista haja também pessoas que digam, a propósito de tudo: “Mostra-nos isso no teu livro!” Quando dizemos que as diretrizes dos órgãos dirigentes superiores emanam dum “órgão dirigente superior”, é porque o seu conteúdo corresponde às condições objetivas e subjetivas da luta e responde às suas necessidades. Executar cegamente as diretivas sem as discutir nem as examinar à luz das condições reais, eis o erro profundo da atitude formalista, ditada somente pela noção de “órgãos superiores”. É por culpa deste formalismo que a linha e a tática do partido não puderam até agora penetrar profundamente nas massas.

Executar cegamente, e aparentemente sem nenhuma objeção, as diretivas dum órgão superior significa não as executar realmente; é mesmo a maneira mais hábil de se opor a elas e de sabotá-las. Igualmente nas ciências sociais, o método que consiste em estudar exclusivamente os livros é o mais perigoso possível, pode mesmo conduzir à contrarrevolução. A melhor prova é que muitos comunistas chineses que não largavam nunca os livros no seu estudo das ciências sociais tornaram-se, uns após os outros, contrarrevolucionários. Nós dizemos que o marxismo é uma teoria justa; não porque Marx seja um “profeta”, mas porque sua teoria provou “ser justa” na nossa prática, na nossa luta.

Nós temos necessidade do marxismo na nossa luta. Aceitando essa teoria, não temos na cabeça qualquer ideia formalista, ou mística, como se fosse a de um “profeta”. Entre os que leram livros marxistas, muitos se tornaram renegados da revolução; e, frequentemente, operários iletrados são capazes de assimilar o marxismo. É preciso estudar os livros marxistas, mas sem se esquecer de os referir à realidade do nosso país. Temos necessidade de livros, mas temos absolutamente que nos desembaraçar do culto que lhes votamos, com desprezo pela realidade. Como desembaraçamo-nos desse culto? A única maneira é apurar o estado real da situação.

A ausência de pesquisa sobre a realidade conduz a uma apreciação idealista da força de classe e a uma direção idealista do trabalho, o que conduz ao oportunismo ou ao golpismo

Não acreditam nesta conclusão? Os fatos o obrigarão a isso. Tentem apreciar a situação política ou dirigir uma luta fora de todo o inquérito sobre a realidade e verão se a vossa apreciação ou a vossa direção não são vãs e idealistas, e se esta maneira vã e idealista de fazer uma apreciação política ou de dirigir um trabalho não conduz aos erros oportunistas ou golpistas. Seguramente que ela conduz a tal. Não é que não se tenha tido o cuidado de preparar um plano antes de agir, mas se não houve a preocupação de conhecer as condições reais da sociedade antes de elaborar o plano. Este modo de atuar encontra-se frequentemente nas unidades de partidários do Exército Vermelho. Oficiais do gênero de “Li Kuei” – herói no conhecido romance chinês do século XIV, Heróis dos Pântanos, que descreve guerra camponesa ocorrida no final da dinastia Sung do Norte (960-1127) – punem sem discernimento os seus homens assim que descobrem sua falta. O resultado é que os culpados se queixam, seguem-se discussões e os dirigentes perdem todo o prestígio. Esse tipo de coisa não aconteceu muitas vezes no Exército Vermelho?

É nos desvencilhando do idealismo, evitando qualquer erro oportunista ou golpista, que nós podemos conquistar as massas e vencer o inimigo. E para nos desembaraçar do idealismo, temos de nos esforçar por fazer inquéritos sobre a realidade.

A pesquisa sobre as condições sociais e econômicas têm por fim chegar a uma justa apreciação das forças de classe e definir, em seguida, uma justa tática de luta

Tal é nossa resposta à pergunta: qual é o objetivo do inquérito sobre as condições sociais e econômicas? O que constitui o objeto do nosso inquérito são, pois, as diferentes classes sociais e não fenômenos sociais fragmentários. Desde algum tempo, os camaradas do IV Corpo do Exército Vermelho dedicam, em geral, sua atenção ao trabalho de inquérito, mas o método de muitos deles é errado. Os resultados de seus inquéritos assemelham-se às contas de um merceeiro, lembram aquela quantidade de histórias sensacionais que um camponês ouviu contar numa cidade populosa observada, de longe, de cima de uma montanha.

Tal inquérito não tem nenhuma utilidade e não nos permite atingir o nosso objetivo principal, que é o de conhecer a situação política e econômica das diferentes classes da sociedade. O inquérito deve poder dar a nós, em conclusão, um quadro da situação atual de cada classe, assim como dos altos e dos baixos que elas tiveram no passado. Por exemplo, quando fazemos o inquérito sobre a composição do campesinato, não devemos nos informar apenas sobre o número de camponeses pobres, dos camponeses semiproprietários e dos rendeiros, que se distinguem uns dos outros por meio da locação das terras. Nós devemos, sobretudo, conhecer o número de camponeses ricos, médios e pobres, que se distinguem pelas diferenças de classes ou de camada social.

Quando procedemos a uma investigação sobre a composição dos comerciantes, não devemos unicamente conhecer o número das pessoas repartidas pelo comércio de cereais, ou da confecção, ou das plantas medicinais etc. Temos, sobretudo, de inquirir sobre o número dos pequenos comerciantes, comerciantes médios e grandes comerciantes. Devemos apurar não apenas sobre a situação de cada profissão ou estrato, mas, sobretudo, sobre a sua composição de classe.

Devemos inquirir não só sobre as relações entre os diferentes estratos, mas, antes de tudo, sobre as relações entre as diferentes classes. O nosso principal método de investigação é o de dissecar as diferentes classes sociais. O objetivo final é o de conhecer a suas relações mútuas para chegar a uma justa apreciação das forças de classe e de definir, em seguida, uma tática justa para nossa luta, determinando quais são as classes que constituem as nossas forças principais na luta revolucionária, quais são as que devemos conquistar como aliadas e as que temos de derrubar? Eis todo o nosso objetivo.

Quais são as classes sociais que devemos constituir como objetivo de inquérito? São: o proletariado industrial, os operários artesanais, os assalariados agrícolas, os camponeses pobres, os indigentes das cidades, o lumpemproletariado, os proprietários de empresas artesanais, os pequenos comerciantes, os camponeses médios, os camponeses ricos, os proprietários de terras, a burguesia comercial, a burguesia industrial. No decorrer do nosso inquérito, devemos centrar a nossa atenção sobre a condição de todas estas classes (ou camadas sociais). Na região onde trabalhávamos, só falta o proletariado industrial e a burguesia industrial, o resto é familiar. A nossa tática de luta é precisamente a que adotamos em relação a todas estas classes e camadas sociais.

Temos tido, no trabalho de inquérito, outra insuficiência grave: nos preocupamos com as regiões rurais em detrimento das cidades, de forma que numerosos camaradas têm sempre uma ideia bastante vaga sobre a tática a se adotar em face dos indigentes das cidades e da burguesia comercial. No desenvolvimento, a luta fez-nos abandonar a montanha em proveito da planície; fisicamente, descemos há muito das montanhas, mas mentalmente continuamos lá. Temos de conhecer a cidade tão bem como a montanha; de outra forma, não poderemos responder às necessidades da revolução.

A vitória da luta revolucionária na China depende do conhecimento que os camaradas têm da situação do seu país

O objetivo de nossa luta é de passar da democracia ao socialismo. Nesta tarefa, a primeira coisa a fazer é levar até o fim a revolução democrática, conquistando a maioria da classe operária e sublevando as massas camponesas e os indigentes das cidades para derrubar a classe dos proprietários de terra, o imperialismo e o regime do Kuomintang. Depois, com o desenvolvimento desta luta, teremos de realizar a revolução socialista. O cumprimento desta grande tarefa revolucionária não é coisa simples e fácil; depende inteiramente da justeza e da fineza da tática de luta empregada pelo partido proletário.

Se esta tática for errada ou hesitante, a revolução sofrerá inevitavelmente uma derrota temporária. Tenhamos em mente que os partidos burgueses também discutem todos os dias a sua tática de luta; trata-se, para eles, de saber como propagar as ideias reformistas nas fileiras da classe operária para enganá-la e sub- trair dela a direção do partido comunista, como ganhar para si os camponeses ricos para liquidar as insurreições dos camponeses pobres e como organizar o lumpemproletariado para reprimir a revolução etc. Quando a luta de classes se tornar cada vez mais encarniçada e tomar a forma de um corpo a corpo, o proletariado deve contar inteiramente, para a sua vitória, com a justeza e a firmeza da tática de luta do seu partido, o partido comunista.

Uma tática de luta do partido comunista que seja tão justa quanto firme não pode ser elaborada por algumas pessoas, fechadas entre quatro paredes; ela só pode vir das lutas de massas, que dizer, da experiência política. Eis porque temos de estar constantemente a par do estado da sociedade e fazer inquéritos sobre a realidade. Os camaradas que têm espírito entorpecido, conservador, formalista e indevidamente otimista acham que a tática de luta adotada hoje é a melhor possível. Que os “livros” publicados pelo VI Congresso e o partido comunista garantem, para sempre, nossa vitória e que basta conformar-se com as decisões tomadas para vencer por toda a parte.

Esta maneira de ver é totalmente falsa, ela é incompatível com a ideia de que os comunistas criam, através da luta, situações novas; ela representa unicamente uma linha puramente conservadora. Se não for totalmente rejeitada, esta linha conservadora causará um grande mal à revolução e prejudicará aqueles mesmos camaradas. É notório que, certos camaradas do Exército Vermelho estão muito felizes por ficar onde estão, não procuram conhecer o fundo das coisas, são de um otimismo falso e propagam esta ideia falsa: “isto é o proletariado”. Não fazem senão comer e beber todo o dia e passam o tempo a dormitar nos seus escritórios, sem querer jamais pôr o pé na sociedade, entre as massas, para fazer um inquérito. Quando se dirigem às pessoas, é sempre a mesma lengalenga enfadonha.

Para despertar os nossos camaradas, temos de lhes gritar: Desembaracem-se já do vosso espírito conservador! Substituam-no por um espírito de iniciativa, progressista e comunista! Lutem! Vão às massas e façam pesquisas sobre a realidade!

A prática da pesquisa

a) Organizar reuniões de informação e proceder a pesquisas por intermédio da discussão

Só esta maneira de agir permite nos aproximarmos da realidade e tirar conclusões. Ater-se unicamente à apreciação que faz cada um da sua própria experiência, sem fazer reuniões, nem levar a cabo um inquérito através da discussão, é um método sujeito ao erro. E por que fazer reunião? Somente algumas perguntas ao acaso, sem levantar os problemas essenciais, não permitem tirar conclusões mais ou menos exatas.

b) Quem deve assistir à reunião de informação?

Aqueles que conhecem perfeitamente a situação social e econômica – do ponto de vista da idade, as pessoas idosas são preferíveis, porque elas têm uma rica experiência e conhecem não apenas o estado atual das coisas, mas também as suas causas e efeitos. Os jovens que tenham experiência de luta devem ser também numerosos, porque têm ideias progressistas e um sentido agudo da observação. Do ponto de vista do estado, pode-se fazer vir operários, camponeses, comerciantes, intelectuais, por vezes soldados e mesmo vagabundos. Naturalmente, quando o inquérito incide em um assunto bem determinado, não é necessária a presença de pessoas estranhas à questão; assim, operários, camponeses e estudantes não têm necessidade de estar presentes quando se trata de um inquérito sobre o comércio.

c) Que é preferível: uma grande ou uma pequena reunião de informação?

Isso depende da capacidade do pesquisador para conduzir a reunião. Para um pesquisador capaz, o número dos participantes pode ultrapassar uma dezena, ou mesmo uma vintena. Uma reunião numerosa tem as suas vantagens: ela permite estabelecer uma estatística relativamente exata (por exemplo, quando se quer saber se a distribuição igual das terras é preferível à sua distribuição diferenciada). Naturalmente, uma reunião numerosa apresenta, igualmente, inconvenientes: quem não sabe conduzi-la bem não consegue manter a ordem; as- sim, o número dos participantes depende da competência do pesquisador. De qualquer modo, a reunião tem de ter pelo menos três pessoas, senão as informações seriam demasiado limitadas para refletir.

d) Estabelecer um plano de questionário.

É preciso ter um plano preparado. O pesquisador fará perguntas seguindo a ordem prevista por este plano e os participantes responder-lhe-ão de viva voz. Os pontos obscuros ou duvidosos serão submetidos ao debate. O plano do inquérito deve comportar capítulos e subcapítulos: por exemplo, no capítulo “comércio”, os tecidos, os cereais, os artigos diversos, as plantas medicinais constituem subcapítulos, e os subcapítulos “tecidos” subdivide-se, por sua vez, em panos de algodão, teci- dos de fabricação local, sedas etc.

e) Participar pessoalmente no inquérito

Os que ocupam um posto dirigente – desde o presidente do governo municipal até o presidente do governo central, desde o chefe de destacamento até o comandante-em-chefe, desde o secretário de cédula até o secretário geral do partido –, têm de, sem exceção, pesquisar pessoalmente acerca da realidade econômica e social. Não devem se fiar unicamente nos relatórios escritos, porque uma coisa é pesquisar pessoalmente, outra coisa é ler relatórios.

f) Aprofundar a matéria antes

Todos os que se iniciam no trabalho de pesquisar devem se preparar com um ou dois inquéritos aprofundados, anteriores, para terem mais conhecimento e prática do tipo de pesquisa que vão fazer. E conhecer os temas que serão tratados na pesquisa, como a situação da aldeia, da cidade ou as questões sobre cereais, renda etc. O conhecimento profundo dum lugar ou duma questão permitir-lhes-á orientarem-se mais facilmente nos questionários posteriores sobre outros lugares ou outras questões.

g) Tomar notas

O pesquisador deve não só presidir a reunião de informação e dirigi-la convenientemente, mas, ainda, tomar notas a fim de registrar os resultados do seu inquérito. Não deve confiar este trabalho a outros.

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