Texto de Nii Ntreh, publicado em 06 de julho de 2020.
Originalmente disponível no site Face to Face África.
Tradução por Andrey Santiago.

Uma amizade entre Fela Kuti e Thomas Sankara deve ser uma surpresa muito pequena para quem passou um período de tempo familiarizando-se com os dois.
Mas essa relação entre os dois homens, embora muito pública, ainda é estranhamente uma das amizades menos discutidas de um famoso par de africanos.
Kuti era a estrela do rock dos roqueiros com mil e uma coisas a dizer sobre a corrupção de governos militares implacáveis na Nigéria. Sankara era um querido populista empenhado em desfazer o que ele via como as assimetrias da sociedade burquinense.
Os dois homens teriam se unido por conta de seus pontos de vista sobre o poder que deveria ser transformado. Eles amavam a África e seus povos e pensavam que a comunidade era muito mais preferível à individuação promovida pela ocidentalização.
O músico não era um ideólogo, mas o soldado era um marxista. Entretanto havia uma confluência simplista entre os tipos de África buscados por Kuti e Sankara: tudo que eles queriam era ver seu povo comer.
Porém não pode ter sido simplesmente a política que uniu os dois homens, porque Sankara era um guitarrista consumado e um fã culto da música africana. Kuti sem dúvida teria encontrado um terreno comum com o líder burquinense, mesmo que não fosse pela política.
Não temos muitos documentos que detalhem a amizade entre Sankara e Kuti. Além disso, sabemos de apenas duas ocasiões em que os dois homens se conheceram.
Uma das ocasiões em que se encontraram foi no Festival de Cinema e Televisão Pan-Africano ou FESPACO em Ouagadougou, Burkina Faso, em 1987.
Esse encontro foi imortalizado em uma música falada por IR, Kabaka Labartin e Bassilar Membrane. A música descreveu o encontro nestas palavras:
Quando Thomas Sankara e Fela Kuti se conheceram, houve risos
Quando eles se falaram, não houve medo.

Essas e outras frases foram intercaladas com partes de discursos proferidos por Sankara. Essa ode à famosa amizade se tornou a prova de muitas pessoas de que os dois homens eram de fato amigos.
Ao que tudo indica, os dois homens permaneceram em correspondência após o encontro.
Um ano depois de Sankara ter sido crivado de balas por membros rebeldes de seu próprio exército, Kuti foi questionado em uma entrevista o que ele sentiu sobre o golpe e ele respondeu:
“A morte dele é um golpe terrível para a vida política dos africanos, porque ele foi o único a falar da unidade africana, do que os africanos precisam, para progredir. Ele era o único a falar. Sua perda é ruim (longo silêncio), mas minha mente está tranquila porque a morte de Sankara deve ter um significado para a África. Agora que Sankara foi morto, se o líder de Burkina Faso, hoje, não estiver bem, você verá claramente. Isso significa que no futuro, maus líderes teriam muito cuidado ao matar bons líderes…”
Quaisquer que sejam as lágrimas que ele possa ter derramado, Kuti o fez longe dos olhos do público. Mas estava bastante claro que em Sankara, Kuti encontrou um líder simpático o suficiente para não criticar, algo sobre o qual os líderes da Nigéria da época passavam noites sem dormir.
