Publicado em Poliedro, Lima, em 20 de setembro de 1926. Dedicado à sua esposa, Anita Chiappe, cuidadosa de sua curta vida, fonte inspiradora de sua saúde e destino, devota abnegação durante sua doença. Agora, chama viva e consciência presente de José Carlos Mariátegui, vontade indeclinável na publicação de suas Obras Completas. (Nota do editor).
Originalmente disponível no site Marxists.
Tradução por Ísis Leites.
José Carlos Mariátegui – A vida que me deste
Renasci em sua carne quatrocentista como a da “Primavera de Botticceli”. Te escolhi entre todas, porque te senti mais diversa e distante. Estavas em meu destino. Você era o plano de Deus. Como um barco corsário, sem saber, buscava ancorar na estrada mais serena. Eu era o princípio da morte; você o princípio da vida. Tive um pressentimento que era você na pintura ingênua do quatrocentos. Comecei a te amar antes de te conhecer, em um quadro primitivo. Sua saúde e graça antiga esperavam minha tristeza de sul-americano pálido e sério. Suas cores rurais de donzela de Siena foram minha primeira festa. E a sua possessão tônica, debaixo do céu latino, amarrou na minha alma uma serpentina de alegria.
Por você, meu ensanguentado caminho tem três auroras. E agora que estás um pouco murcha, um pouco pálida, sem suas antigas cores de senhora toscana, sinto que a vida que te falta é a vida que me deste.