Amanda Palha – Exploração de Trabalho e Opressões

Originalmente publicado na página “T de Revolução“.


A exploração do trabalho (onde uma classe de privilegiados donos-de-tudo se beneficia da exploração do trabalho assalariado de uma classe que só tem a própria força de trabalho pra vender e pelo preço que quiserem pagar) e as opressões (racismo, machismo, transfobia, discriminação por orientação sexual, etc) não podem ser completamente compreendidas separadamente, sob o risco de terminarmos fazendo análises que pouco correspondem à realidade (e portanto traçar estratégias ruins).

No que diz respeito a nós, população T, por exemplo, é uma ilusão imaginar que a nossa marginalização só não termina por causa de uma ideologia transfóbica, ou que o único obstáculo pra nossa dignidade é a conscientização de indivíduos preconceituosos. É verdade que existe toda uma ideologia que nos demoniza e marginaliza e isso é sem dúvida um passo, mas essa ideologia só se mantém por um motivo: ela é útil pra quem tem poder. Mais que útil: ela é fundamental.

É fundamental porque ela cria uma subcategoria de humanos, um grupo de quase-pessoas que ela diz que são tão sujas e anormais que não merecemos tratamento digno. Pra essa classe privilegiada, que depende de explorar trabalho pra manter seu poder e que, portanto, quanto mais explora, mais lucro tem, a existência de pessoas marginalizadas é muito útil!

Quase-pessoas não precisam ganhar bons salários ou ter direitos trabalhistas, porque é tão difícil arrumar emprego que quando aparece a gente pega. É útil pra eles que uma parte imensa de nós fique desempregada ou em condições extremamente precárias de vida, porque assim eles mantêm um exército de gente desesperada lutando pra sobreviver, que mais tarde, quando eles precisarem, vão aceitar trabalhar pelo salário que for, nas condições que for. Quando o telemarketing precisou crescer, o que fizeram? Nos enfiaram lá! Não “abriram generosamente as portas”, se aproveitaram do preconceito pra economizar às nossas custas. É óbvio que isso não é só ruim, precisamos mesmo trabalhar. Mas fizeram isso com dignidade? Quantas e quantos de nós que estão no telemarketing têm nome social respeitado? Usam o banheiro certo? Recebem o suficiente pra pagar as contas, pra sair da pista se quiser?

É óbvio que precisamos trabalhar, e é óbvio que é urgente que lutemos por isso – mas é importante que também pensemos quais são os trabalhos que quando pressionados, eles reservam pra nós – e em quais condições, e por quê.

Nós somos oprimidas e marginalizadas pra sermos melhor exploradas. Da mesma forma, a manutenção dos privilégios de quem tem realmente o poder DEPENDE da nossa marginalização.

Querem que a gente, população oprimida num geral, se sinta mesmo marginal, pra que a gente não perceba a importância que realmente tem e, portanto, o nosso potencial de mudança. Juntas e confiantes, não sobrará pedra sobre pedra.

Que seja um ano de luta!

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