por John Reed e Pham Hai Chung | Financial Times
Quando a maioria dos 96 milhões dos cidadãos do Vietnã estava celebrando o Feriado do Tet do Ano Novo Lunar, o primeiro-ministro Nguyễn Xuân Phúc estava em uma reunião de governo declarando guerra ao coronavírus.
A doença grassava na fronteira com a China, e Phúc avisou que ela chegaria em breve ao Vietnã. “Combater a epidemia é combater o inimigo”, afirmou ele no final de janeiro.
Desde então, o Vietnã se mostrou um modelo para conter a doença em um país com recursos limitados, mas liderança determinada.
Em vez de se valer de testes em massa, que tem sido o ponto crucial da resposta da Coreia do Sul ao surto, o Vietnã se concentrou em isolar pessoas infectadas e rastrear seus contatos de segunda e terceira mão.
“O teste em massa é bom, mas depende dos recursos de cada país”, disse Tran Dac Phu, uma autoridade sênior de saúde que assessora o Centro de Operações de Emergência do Vietnã, equivalente aos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.
“O importante é que é preciso saber o número de pessoas que podem ter entrado em contato com a doença ou retornado de áreas de pandemia e, em seguida, realizar testes nessas pessoas.”
Além do rastreamento agressivo dos contatos das pessoas infectadas, as medidas da liderança comunista também incluíram quarentenas forçadas e o recrutamento de estudantes de medicina, médicos aposentados e enfermeiras para ingressarem no combate.
“O Vietnã é uma sociedade de mobilização”, disse Carl Thayer, professor emérito da Universidade de Nova Gales do Sul, em Canberra. “É um Estado de partido único; possui grandes forças de segurança pública, militares e o próprio Partido; e é um governo que opera de cima para baixo, o que é bom em responder a desastres naturais.”
No fim de semana, Hanói introduziu quarentenas obrigatórias de 14 dias para todas as pessoas que chegam ao país e o cancelamento de todos os voos estrangeiros.
“Temos que mobilizar toda a sociedade da melhor maneira possível para combater o surto juntos, e é importante encontrar os casos cedo e isolá-los”, disse Phu.
O Vietnã registrou 123 casos de coronavírus e nenhuma morte. Os casos mais recentes fizeram parte de uma “segunda onda” de infecções, oriundas de pessoas vindas do exterior. Em 20 de março, o Vietnã havia testado 15.637 pessoas – uma fração dos 338 mil testados na Coreia do Sul.
Como em outras partes do sudeste da Ásia, com testes limitados, o número real de casos é provavelmente superior ao relatado. Porém, a resposta do Vietnã, ainda assim, foi impressionante. O país interrompeu todos os voos de e para a China em 1º de fevereiro. Também fechou as escolas nas duas maiores cidades do Vietnã – Hanói e a Cidade de Ho Chi Minh – e foi dito à maioria das outras províncias para que as mantivessem fechadas após o feriado do Tet.
Em 13 de fevereiro, o Vietnã se tornou o primeiro país após a China a fechar uma grande área residencial. Ele impôs uma quarentena de 21 dias a uma parte da província de Vinh Phuc, ao norte de Hanói, onde vivem mais de 10 mil pessoas, depois que se descobriu que os casos tinham origem em trabalhadores que retornavam de Wuhan.
No momento em que sua vizinha Tailândia está sendo criticada por sua resposta casual ao coronavírus, e Myanmar – que alegou estar livre da doença até relatar seus dois primeiros casos na segunda-feira –, a resposta do Vietnã foi elogiada pelas autoridades de saúde. O representante da Organização Mundial da Saúde em Hanói, Kidong Park, elogiou o Vietnã por sua “proatividade e consistência durante toda a resposta”.
Todavia, o sucesso do Vietnã em conter o Covid-19 se deve, em parte, da mobilização de pessoal médico e militar, vigilância e intervenção e da rede de informantes do Estado – medidas que podem ser difíceis para os EUA ou países europeus.
Originalmente publicado no site Financial Times, disponível neste link.
Acho que a saída dos governos “democráticos” (com ou sem aspas) é medidas tempestivas adotadas com base nas ciências exatas e sociais, informações confiáveis ao povo e disciplina consciente de todas as pessoas.
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