The Black Panther, v. 4, n. 5. 3 de janeiro de 1970.
TODO O PODER PARA O POVO
Nós, povo preto na Babilônia [1], estamos lutando pela libertação da dominação política nas mãos do opressor, da exploração econômica e de um sistema social que nos degrada, como homens e mulheres. A partir dessa luta, surge um novo modo de vida, baseado nas políticas da luta popular. Esse novo modo de vida é uma luta por mudança, uma luta revolucionária envolvendo as massas populares. Assim como a luta pela libertação produz uma nova política, ela também produz uma nova cultura, uma cultura revolucionária. Nascida do desejo popular de trocar um sistema corrupto por um sistema que sirva o povo, um sistema que seja livre da exploração do homem pelo homem, e que satisfaça os desejos e necessidades das massas populares.
A velha cultura é uma cultura baseada na exploração e na competição, enquanto a cultura revolucionária é baseada na cooperação. “Café para as crianças”, “Clínicas de saúde gratuitas” e “Escolas da Libertação” são apenas alguns dos programas implementados que são parte da cultura revolucionária. Esses programas culturais serão executados durante a luta pela libertação, porque nossas crianças têm passado fome e não têm recebido cuidado médico adequado, além de terem recebido informações erradas por muito tempo nas mãos desse sistema opressor. Através da nova cultura, nossas crianças recebem os nutrientes que são necessários para se desenvolverem fisicamente e mentalmente, de modo que podem sobreviver a esse sistema corrupto e construir um novo, que sirva ao povo.
A cooperação na qual a nova cultura se baseia são as massas populares trabalhando em conjunto pelo interesse da humanidade, combatendo uma cultura decadente, substituindo a por uma cultura que trabalhe pelos interesses do povo. Nossa nova cultura, estando baseada na política do Partido do Povo, só pode ser implementada através de muitas batalhas contra os porcos da estrutura de poder, os exploradores, uma vez que a nova cultura é livre de exploração. Portanto, a autodefesa se torna uma parte da nova cultura, manifesta na magnum 357, nas metralhadoras, M15s, granadas de mão, espingardas calibre 12 e fuzis automáticos Browning, porque o povo aceitou a realidade da autodefesa armada como único caminho para a libertação.
Também a partir da luta pela libertação surgem uma nova literatura e arte. Baseada na luta popular, essa arte revolucionária assume uma nova forma. O artista revolucionário começa a armar seu talento com aço, bem como a aprender a arte da autodefesa, tornando se um com o povo ao ir para o seu seio, não permanecendo à distância, e indo para a própria dureza da luta prática.
Essa cultura recém nascida não é peculiar às massas pretas oprimidas, mas transcende comunidades e fronteiras raciais, porque todas as pessoas oprimidas podem se identificar com a mudança revolucionária, que é o ponto de partida para desenvolver uma cultura revolucionária.
APODERE-SE DO MOMENTO!
[1] Cidade-estado historicamente situada na região de mesmo nome, na Mesopotâmia. Na tradição bíblica, a Babilônia simboliza o mal que se opõe aos desígnios divinos; os rastafáris a converteram em um símbolo dos valores e instituições que oprimem os africanos em diáspora. No discurso dos Panteras Negras, a Babilônia é inevitavelmente associada ao imperialismo.
Tradução de Henrique Marques Samyn, para o livro “Por uma Revolução Antirracista: Uma Antologia de Textos dos Panteras Negras”, disponível neste link.