Para o jornal Tribuna Popular, nº 88, 31 de agosto de 1945.
Transcrição de Luca Quitete
Durante a visita de Luiz Carlos Prestes aos morros do Querosene e de São Carlos, muitos moradores dali, homens e mulheres, chegavam-se a ele para perguntar:
– O sr. Vai mesmo melhorar a sorte da gente?
A todos respondia Prestes com palavras fraternais de sinceridade e encorajamento, procurando sobretudo incutir na mente e no coração daqueles homens e mulheres esta coisa essencial: a confiança em si próprios.
As condições de vida em ambos os morros são indescritíveis – só indo lá para ver, sentir e compreender. E tudo aquilo acontece em pleno coração da Capital da República, à vista dos palácios suntuosos que crescem para o céu com arrogância e orgulho.
Água, esgotos, casas de morar, caminhos de andar, escolas para a meninada e também para os adultos – eis os problemas elementares que interessam e afligem a toda aquela gente. São aliãs os mesmos problemas de todos os morros cariocas – esses famosos morros “cantados e “glorificados” de longe por esnobes e interessados em adormecer a consciência das vítimas da semelhante situação.
As palavras de Prestes, pelo contrário, visavam justamente despertar essa consciência, e por isso foi ele compreendido e aplaudido pela massa de moradores de Querosene e de São Carlos.
É muito fácil prometer, mas os comunistas, também nisso diferentes dos políticos vulgares, não fazem promessas vãs. Podemos então dizer aos moradores dos morros, de todos os morros cariocas: organizai-vos, lutai organizadamente por vossas próprias reivindicações e o Partido Comunista vos ajudará, pois o Partido Comunistas que é o partido da classe operária, não somente apoia as justas reivindicações de todo o povo como ainda ajuda e dirige as massas populares em todas as lutas democráticas por melhores condições de vida.
Já existem comitês populares organizados ou em vias de organização nos diversos morros da cidade. Esse é o bom caminho – o caminho certo para a conquista democrática e pacífica das melhorias desejadas pelos habitantes dos morros, que constituem seguramente a parte mais sacrificada e mais abandonada da população carioca. Dentro dos respectivos comitês, discutindo livremente os seus problemas, elaborando com conhecimento de causa o seu programa de reivindicações, e lutando por elas organizadamente – assim e só assim poderão os moradores dos morros alcançar os melhoramentos mínimos que necessitam com urgência.
E com isto, ao mesmo tempo que estarão lutando para dar solução adequada aos seus problemas mais prementes e mais sentidos estarão também contribuindo para um mais rápido desenvolvimento do processo de democratização da nossa terra. Por que é organizando-se em massa, por toda a parte para lutar pelos próprios interesses, que o povo aprenderá a participar ativamente dos negócios públicos.
Não pode haver nenhuma verdadeira democracia sem a participação ativa das massas populares em todos os assuntos de governo e administração, sejam locais, sejam estaduais, sejam nacionais. As necessidades mais imediatas dos morros – água, esgotos, caminhos, casas, escolas – se enquadram dentro dos assuntos de governo e administração, e os seus moradores, quando se organizam e lutam por elas, mesmo as mais modestas e elementares, estão intervindo efetivamente nos negócios públicos, isto é, na política do país. E isto afinal de contas é que é democracia: o povo cuidando dos seus interesses por si mesmo, por suas próprias organizações e seus próprios líderes. É a democracia do homem comum, estruturada de baixo para cima, e é por esta democracia que se bate o Partido Comunista.
Camarada, creio que houve um erro na digitação, não seria “sem” ao invés de “nem”?
Não pode haver nenhuma verdadeira democracia NEM a participação ativa das massas populares em todos os assuntos de governo e administração, sejam locais, sejam estaduais, sejam nacionais.
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Houve sim, obrigado pela correção!
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