O Congresso Pan-Africano de 1945: Manchester e a luta por igualdade

Holly Randwaha, 2019.

Tradução por Giovanni Libanori

Artigo original postado em Race Archive.

Este é o primeiro dos quatro artigos do Mês da História Negra, todos focando no Congresso Pan-Africano de 1945, realizado aqui em Manchester. Neste artigo atualizado (postado originalmente em 2019), Holly Randhawa, na época em estágio no Centro AIU[1], escreve sobre o Congresso de 1945, ressaltando a importância de combater a nostalgia colonial.


O que foi o Congresso Pan-Africano?

Realizado em Manchester, em 1945, o 5º Congresso Pan-Africano foi parte de uma série de sete encontros, destinados a abordar a descolonização da África pelas potências imperiais ocidentais. Estabelecido em uma nova ordem mundial de cooperação internacional durante os anos de 1940, o Congresso exigiu o fim do regime colonial e da discriminação racial, assim como o reconhecimento dos direitos humanos e a igualdade de oportunidades econômicas para todos os povos de descendência africana.

O 1º Congresso Pan-Africano, Paris, França, 19 a 22 de fevereiro, 1919.

Que Coleções estão disponíveis?

Para celebrar as comemorações cinquentenárias do Congresso em 1995, foram realizadas seis entrevistas em áudio com manchesterianos locais que viveram durante ou participaram deste evento histórico. Graças à um projeto recente do Ahmed Iqbal Ullah Race Relations Resource Centre, estas entrevistas estão disponíveis agora, como parte do arquivo de som digital Pan-African Congress 50 Years On, e podem ser exploradas usando o Soundcloud.

Por que é importante?

Apesar do Congresso não parecer tão relevante hoje (o colonialismo está todo no passado, certo?), parece que a nostalgia colonial está voltando. Junto com o Brexit, a administração Trump e a ascensão dos partidos políticos de extrema direita em toda Grã-Bretanha e Europa, os objetivos do Congresso Pan-Africano ainda são preocupantemente significativos. Olhando para alguns dos temas abordados na agenda do Congresso em 1945, é incômodo ver que muitos dessas problemas não estão confinados ao passado.

Colour Problem
Título da Primeira Sessão do Congresso Pan-Africano de 1945.

Intitulado ‘O Problema de Cor na Grã-Bretanha’, a primeira sessão do Congresso “relatou sobre a posição das pessoas de cor nas Ilhas Britânicas”, com o objetivo de lidar com as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores de cor que haviam lutado pela Grã-Bretanha durante a Primeira Guerra Mundial. A estes militares estava sendo negado o emprego e os benefícios que haviam sido prometidos pelo governo britânico após a guerra, um sentimento que tem ecoado durante o recente escândalo Windrush, no qual vários sujeitos britânico-caribenhos foram detidos erroneamente, negados seus direitos legais e deportados do Reino Unido.

Por que Manchester?

‘… a consciência política em Manchester era muito forte, então era o lugar ideal” – Paul Okojie, presidente das celebrações do quinquagésimo aniversário em 1995.

A importância de relembrar Manchester como honrando e defendendo valores intrínsecos ao Congresso é essencial para entender o complexo passado da cidade, assim como celebrar as figuras proeminentes da comunidade BAME[2] que ajudaram a moldar a história do Congresso. Diferente dos últimos quatro congressos, Manchester abrangeu povos da Diáspora Africana por todo o mundo, incluindo afro-caribenhos e afro-americanos. Como disse o historiador Simon Katzenellenbogen sobre as celebrações do cinquentenário: “é também reconhecer o que foi ignorado por muito tempo – a contribuição feita pelo povo e pela cidade de Manchester, notavelmente pelo povo da cidade de origem africana e afro-caribenha”.

2º Congresso Pan-Africano no Palais Mondial, Bruxelas, 1921.
Placa comemorativa em Manchester.

Pessoas comuns, histórias extraordinárias

Manchesterianos comuns como Raz Finni e Archie Downie fazem parte do projeto de arquivo digital Pan African Congress 50 Years On. Não apenas suas lembranças ajudam a moldar uma compreensão dos contextos históricos envolvendo o Congresso, também fornecem uma visão da experiência contínua da comunidade negra durante os anos de pós-guerra. Ouvir as suas experiências de racismo destaca a importância das histórias BAME, assim como a necessidade de inclusão e representação na sociedade de hoje.

The original declaration of the 1945 Pan-African Congress, as outlined by George Padmore.
A declaração original do Congresso Pan-Africano de 1945, como exposto por George Padmore. *Tradução da declaração ao final do artigo.

Por todo o mundo, os efeitos do colonialismo ainda estão em curso. O Congresso Pan-Africano proclamou liberdade, independência, educação e uma vida decente como as bases de suas demandas, mas infelizmente esses direitos básicos ainda não estão ao alcance de muitas pessoas hoje. Conforme celebramos as conquistas deste evento monumental para o progresso na causa da descolonização, continua sendo de crescente importância que as questões no coração deste Congresso não sejam esquecidas.

Fontes

Adi, Hakim and Marika Sherwood, The 1945 Manchester Pan-African Congress Revisited (London: New Beacon Books, 1995).

Sherwood, Marika, Manchester and the 1945 Pan-African Congress(Savannah Press, 1995).

*O DESAFIO PARA OS PODERES COLONIAIS

Os delegados do Quinto Congresso Pan-Africano acreditam na paz. Como poderia ser o contrário quando por séculos os povos africanos têm sido vítimas da violência e da escravidão. No entanto, se o mundo ocidental estiver determinado a comandar a humanidade pela força, então os africanos, como último recurso, podem ter que recorrer à força no esforço para conquistar a Liberdade, mesmo que a força destrua a eles e ao mundo.

Estamos determinados a sermos livres. Queremos educação. Queremos o direito de ganhar uma vida decente; o direito de expressar nossos pensamentos e emoções, para adotar e criar formas de beleza. Demandamos autonomia e independência para África Negra, logo que possível neste “Mundo Único” para grupos e povos governarem a si mesmos, sujeitos à inevitável unidade e federação mundial.

Não nos envergonhamos de termos sido um povo de paciência secular. Continuamos dispostos a sacrificar e lutar. Mas não estamos mais dispostos a morrer de fome enquanto fazemos o trabalho pesado do mundo, a fim de sustentar, por nossa pobreza e ignorância, uma falsa aristocracia e um Imperialismo desacreditado.

Condenamos o monopólio do capital e o regime da riqueza privada e da indústria unicamente para o lucro privado. Acolhemos a democracia econômica com a única democracia real. Portanto, devemos reclamar, apelar e acusar. Nós faremos o mundo escutar os fatos de nossa condição. Lutaremos de qualquer maneira que pudermos por liberdade, democracia e desenvolvimento social.


[1] Ahmed Iqbal Ullah Race Centre

[2] BAME é a sigla para Black Asian and Minority Ethnic. Expressão usada para se referir à grupos étnicos que não se identificam como brancos no Reino Unido.

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