6 de junho de 1950.
Originalmente disponível no site Marxists.
Tradução por Guilherme Henrique.
Originalmente proferido como discurso em 1950 por Mao sob os auspícios do Partido Comunista e da República Popular, este discurso traz lições inestimáveis para qualquer movimento revolucionário atual enfrentando as probabilidades aparentemente insuperáveis de unir o povo em prol da revolução. Não devemos nos entregar às tendências ultra esquerdistas e sectárias, que nos isolam e nos alienam do povo e atomizam o movimento revolucionário, mas trabalhar em nosso progresso rumo à revolução proletária. Este discurso atua como uma extensão da questão original colocada por Mao: “Quem são nossos inimigos? Quem são nossos amigos?” Como sempre, o seguinte foi disponibilizado aqui para fins de estudo e luta.
Desde a Segunda Sessão Plenária do Sétimo Comitê Central do Partido, a vitória nacional foi conquistada na revolução democrática liderada pelo nosso Partido, e a República Popular da China foi fundada. Esta é uma grande vitória, uma grande vitória sem paralelo na história da China, uma grande vitória com significado mundial na sequência da Revolução de Outubro. O camarada Stalin e muitos outros camaradas estrangeiros consideram a vitória da revolução chinesa uma vitória extraordinária. No entanto, muitos de nossos camaradas não se dão conta disso porque se tornaram insensíveis por conta da luta. Devemos divulgar amplamente o tremendo significado da vitória da revolução chinesa dentro do Partido e entre as massas.
Em meio a esta grande vitória, somos confrontados com dificuldades e lutas muito complexas.
Completamos a reforma agrária na região norte do país com uma população de 160 milhões de habitantes, e isto deve ser declarado como uma conquista imensa. Vencemos a Guerra de Libertação por contarmos fundamentalmente com essas 160 milhões de pessoas. Foi a vitória da reforma agrária que tornou possível nossa vitória na derrubada de Chiang Kai-shek. No outono iniciaremos a reforma agrária em vastas áreas com uma população de cerca de 310 milhões de habitantes, a fim de derrubar toda a classe proprietária. Na reforma agrária, nossos inimigos são tanto numerosos quanto poderosos. Contra nós estão agrupados, primeiro, os imperialistas, segundo, os reacionários em Taiwan e no Tibete, terceiro, as forças remanescentes do Kuomintang, os agentes secretos e os bandidos, quarto, a classe dos proprietários e, quinto, as forças reacionárias nas escolas missionárias estabelecidas na China pelos imperialistas, nos círculos religiosos e nas instituições culturais e educacionais que substituíram o Kuomintang. Estes são nossos inimigos. Temos que combatê-los de uma vez por todas e realizar a reforma agrária em uma área muito maior do que antes. Esta é uma luta muito séria, sem precedentes na história.
Enquanto isso, nossa vitória na revolução levou à reorganização de nossa economia social. Embora necessária, esta reorganização nos impõe, por enquanto, pesados encargos. Muitas pessoas estão insatisfeitas conosco por causa desta reorganização e por causa de uma certa perturbação da indústria e do comércio causada pela guerra. Atualmente, nossas relações com a burguesia nacional estão muito tensas; eles estão em pé de guerra e estão muito insatisfeitos. Os intelectuais e trabalhadores desempregados estão insatisfeitos conosco, assim como vários pequenos artesãos. Os camponeses na maioria das áreas rurais também estão reclamando porque a reforma agrária ainda não foi realizada lá e, além disso, eles têm que entregar grãos para o Estado.
Qual é a nossa política geral no momento? É eliminar as forças remanescentes do Kuomintang, os agentes secretos e os bandidos, derrubar a classe latifundiária, libertar Taiwan e o Tibete e combater o imperialismo até o fim. Para isolar e atacar nossos inimigos imediatos, devemos converter aqueles entre o povo que estão insatisfeitos conosco em nossos apoiadores. Embora esta tarefa esteja repleta de dificuldades no momento, devemos superá-las por todos os meios possíveis.
Devemos fazer reajustes adequados na indústria e no comércio para que as fábricas possam retomar a operação e o problema do desemprego possa ser resolvido, e devemos fornecer 2 milhões de grãos de cereal para os trabalhadores desempregados e ganhar seu apoio. Quando reduzirmos o aluguel e os juros, suprimirmos os bandidos e tiranos locais e realizarmos a reforma agrária, as massas do campesinato nos apoiarão. Devemos também ajudar os pequenos artesãos a encontrar formas de ganhar a vida. Devemos introduzir reajustes adequados na indústria e no comércio e na tributação para melhorar nossas relações com a burguesia nacional, em vez de piorá-las. Devemos realizar cursos de treinamento de vários tipos, cursos militares e políticos e institutos revolucionários para os intelectuais e educá-los e remodelá-los, enquanto nos valemos de seus serviços. Devemos fazê-los estudar a história do desenvolvimento social, do materialismo histórico e outros assuntos. Podemos induzir até mesmo aqueles que são idealistas a não se oporem a nós. Deixem-nos dizer que o homem foi criado por Deus, nós dizemos que o homem se desenvolveu a partir do símio. Alguns intelectuais são avançados em idade, têm mais de setenta anos, e devemos prover a eles desde que apoiem o Partido e o Governo do Povo.
O Partido inteiro deve tentar com seriedade e diligência fazer com que seu trabalho de frente unida seja um sucesso. Devemos mobilizar a pequena burguesia e a burguesia nacional sob a liderança da classe trabalhadora e com base na aliança operária e camponesa. A burguesia nacional eventualmente deixará de existir, mas nesta fase devemos reuni-los em torno de nós e não os afastar. Devemos lutar contra eles, por um lado, e nos unir a eles, por outro. Devemos deixar isto claro para os quadros e mostrar pelos fatos que é correto e necessário unir-se à burguesia nacional, aos partidos democráticos, às figuras e intelectuais democráticos. Muitos deles eram nossos inimigos antes, mas agora que romperam com o campo inimigo e vieram para nosso lado, devemos nos unir a todas essas pessoas, com as quais podemos estar mais ou menos unidos. É do interesse do povo trabalhador unir-se a eles. Temos que adotar estas táticas agora.
É de vital importância unir-se com as minorias nacionais. Há cerca de trinta milhões deles em todo o país. As reformas sociais em suas áreas são um assunto de grande importância e devem ser tratadas com cautela. Em caso algum devemos ser impetuosos, pois a impaciência levará a problemas. Nenhuma reforma deve ser instituída a menos que as condições estejam maduras. Tampouco deve ser introduzida uma grande reforma onde apenas uma das condições está madura enquanto as outras não estão. Naturalmente, isto não quer dizer que nenhuma reforma deva ser realizada. Conforme estipulado pelo Programa de Ação, os costumes e as tradições populares nas áreas das minorias nacionais podem ser reformados. Mas são as próprias minorias nacionais que devem fazer a reforma. Sem apoio popular, sem as forças armadas do povo e sem os próprios quadros das minorias nacionais, nenhuma reforma de caráter de massa deve ser tentada. Devemos ajudá-los a treinar seus próprios quadros e devemos nos unir com as massas das minorias nacionais.
Em resumo, não devemos atirar para todos lados. É contraproducente atirar para todos os lados e causar tensões em todo país. Definitivamente, não devemos fazer muitos inimigos, devemos fazer concessões e relaxar um pouco a tensão em alguns setores e concentrar nosso ataque em uma única direção. Devemos fazer nosso trabalho bem para que todos os trabalhadores, camponeses e pequenos artesãos nos apoiem e a esmagadora maioria da burguesia e intelectuais nacionais não se oponham a nós. Desta forma, as forças remanescentes do Kuomintang, os agentes secretos e os bandidos serão isolados, assim como a classe proprietária e os reacionários de Taiwan e do Tibete, e os imperialistas se encontrarão isolados diante do povo de nosso país. Esta é nossa política, nossa estratégia e tática, e é a linha da Terceira Sessão Plenária do Sétimo Comitê Central do Partido.