Publicado em 08 de janeiro de 2023.
Originalmente disponível no site Liberation News.
Tradução por Andrey Santiago.
Fotografia da capa por Gabriela Biló/Folha de S. Paulo.
O Partido pelo Socialismo e a Libertação se une a inúmeras pessoas e organizações progressistas em todo o mundo para expressar nossa indignação com a tentativa de golpe em curso no Brasil por partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro. Hoje, uma multidão de milhares de pessoas de extrema-direita invadiu a sede do Supremo Tribunal Federal, da Presidência da República e do Congresso do Brasil na capital federal e a saqueou. Eles pedem uma intervenção militar contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do progressista Partido dos Trabalhadores, que derrotou Bolsonaro nas eleições democráticas realizadas no ano passado.
Neste momento, Jair Bolsonaro está nos Estados Unidos, tendo fugido para cá pouco antes de Lula assumir o cargo no último domingo. Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro que foi nomeado ministro da Segurança Pública da capital Brasília na semana passada, também está nos Estados Unidos. Torres parece ter desempenhado um papel fundamental facilitando o ataque de hoje, e Bolsonaro de maneira clara está intencionalmente lançando as bases políticas para tal tentativa de golpe há meses com suas falsas alegações de fraude eleitoral. Nenhum dos dois deve receber refúgio seguro do governo dos Estados Unidos – eles devem enfrentar a justiça no Brasil por seus crimes.
O Congresso, o Palácio do Planalto e a sede do Supremo Tribunal Federal estão localizados em uma única praça em Brasília, cujo governador é partidário de Bolsonaro. Uma multidão de milhares com a aparente ajuda de alguns elementos das forças de segurança se reuniu hoje e marchou na praça. Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores, afirmou que “o governo [do Distrito Federal] foi irresponsável diante da invasão de Brasília e do Congresso Nacional. É um crime contra a democracia”.
Lula estava fora da capital, atendendo vítimas das enchentes na cidade de Araraquara. Várias horas depois do ataque, ele se dirigiu à nação e anunciou que estava mobilizando as forças de segurança federais para restabelecer a ordem e defender a democracia diante desse ataque ultrajante. “Aquela gente que chamamos de fascista, a coisa mais abominável da política, invadiu o palácio [presidencial] e o Congresso”, disse Lula, e denunciou a “incompetência e má fé das pessoas que cuidam da segurança de [Brasília]”. No início do dia, o ministro da Justiça, Flávio Dino, garantiu que “essa tentativa absurda de impor sua vontade pela força não prevalecerá”.
Bolsonaro parece estar isolado internacionalmente, mas não por ser um oponente dos Estados Unidos e de outras potências imperiais – até o governo Biden e outros governos ocidentais sabem que apoiar abertamente um golpe de Bolsonaro, logo após sua derrota eleitoral, só desestabilizaria ainda mais e desacreditar o imperialismo na América Latina e no mundo.
Esta tentativa de golpe ocorre quando a política brasileira está em uma encruzilhada. De 2019 até o final do ano passado, o governo de Bolsonaro adotou políticas que causaram desastre após desastre no Brasil. Ele é responsável pela má gestão criminosa da pandemia de Coronavírus, políticas econômicas antitrabalhadores, destruição maciça do meio ambiente e muito mais. Ele promoveu um racismo cruel e mortal contra afro-brasileiros e indígenas brasileiros, e defende visões repugnantemente fanáticas contra mulheres e pessoas LGBTQ.
As tendências fascistas de Bolsonaro têm raízes profundas na política brasileira – ele é um apoiador da ditadura militar que governou o país de 1964 a 1985, aliada dos Estados Unidos. Lula emergiu como uma figura política nacional como um oponente desse regime assassino, e os movimentos populares do Brasil continuam determinados a defender os direitos democráticos duramente conquistados.
A ascensão de Bolsonaro ao poder foi possibilitada pelo golpe parlamentar que tirou o Partido dos Trabalhadores do poder em 2016. A então presidente Dilma Rousseff foi cassada do cargo por acusações forjadas pelo Congresso controlado pela direita. E em uma trama que agora foi exposta ao público, promotores e juízes de direita conspiraram para fabricar falsas acusações de corrupção contra Lula, a figura política mais popular do país que liderou o primeiro governo do Partido dos Trabalhadores de 2003 a 2010. Em 2018, Lula foi preso por essas acusações completamente infundadas. Isso o impediu de participar da eleição presidencial daquele ano, onde todas as pesquisas previam sua vitória sobre Bolsonaro.
Mas, graças a um grande movimento de pessoas no Brasil, apoiado por apoiadores de todo o mundo, Lula foi libertado da prisão em 2019. Ele venceu a eleição presidencial do ano passado, prometendo reconstruir o país após a devastação dos anos Bolsonaro, implementar programas sociais para combater a fome e a pobreza e buscar uma política externa independente que apoie a unidade da América Latina. Os acontecimentos de hoje são uma tentativa desesperada da extrema-direita de derrubar a vontade democrática da maioria dos brasileiros. Estamos com o povo do Brasil enquanto resistem a este ataque.