Carlos Marighella – O PCB: Esperança e Honra da Nação Brasileira

Artigo de Carlos Marighella para o jornal Voz Operária, nº 358, 24 de março de 1956[1].

Transcrição por Ian Cartaxo.


 O Partido Comunista do Brasil[2] foi fundado em 25 de março de 1922. Completa agora 34 anos. Desde o seu aparecimento, produziu-se algo de novo e grandioso na vida política do povo brasileiro. Nenhum partido político no Brasil pode orgulhar-se, como o nosso, de ter desenvolvido uma atividade política ininterrupta num período de mais de três décadas.

Todos os partidos políticos surgidos no Brasil durante esse período sofreram as mais variadas modificações. Uns desapareceram totalmente, outros tiveram que mudar de nome. Muitos destes partidos não conseguiram sobreviver dada sua natureza de classe, e porque não encontraram ressonância no povo.

Somente o PCB pôde manter-se como um verdadeiro partido nacional, crescer e desenvolver-se, apesar das perseguições e restrições, sobretudo dos imperialistas norte-americanos e seus agentes no país.

A causa da vitalidade e da crescente influência do PCB reside em que ele é o partido da classe operária. O PCB é a vanguarda do proletariado – a classe mais desenvolvida da sociedade brasileira. O proletariado é a classe ligada ao setor mais importante e progressista de nossa economia, a grande produção. É a única classe que cresce e se desenvolve. Desempenhando sua atividade produtiva nas fábricas e, devido às condições do seu trabalho na indústria, o proletariado brasileiro pôde organizar-se de maneira mais eficiente e constituir seu partido no Brasil. Isto significou um passo adiante na vida política do país, pois, como afirmou Engels, “o primeiro grande passo que dá cada novo país que entra no movimento é sempre a organização dos trabalhadores em partido político independente e, ao mesmo tempo, um Partido especificamente operário” (Cartas EscolhidasCarta a Sorge – 29/11/1886).

A classe operária revelou seu alto grau de desenvolvimento e consciência política ao fundar seu partido de classe. O PCB foi fundado sob a influência direta da Grande Revolução Socialista de Outubro e das grandes lutas do proletariado desencadeadas naquele período. O processo de formação de nosso Partido, na atividade política, orientou-se pelos princípios do internacionalismo proletário, da mais completa e decidida solidariedade à União Soviética, bem como no sentido da luta intransigente contra as guerras imperialistas democráticas, contra a agressão imperialista, em defesa de nossa soberania e pela emancipação nacional.

Nos seus 34 anos de vida, o PCB revelou-se um partido cuja influência sempre pôde ser medida pela sua capacidade em organizar e dirigir as grandes ações políticas de massas. Entre estas incluem-se o amplo movimento da Aliança Nacional Libertadora em 1935, o envio da Força Expedicionária Brasileira à Europa para o combate ao nazifascismo, a anistia em 1945, a luta vitoriosa contra a ida de tropas à Coreia e muitas outras ações.

A tática empregada e defendida pelo PCB nas várias etapas de seu desenvolvimento tem consistido, fundamentalmente, em procurar realizar a política independente da classe operária e de sua vanguarda e em atingir as mais amplas massas de trabalhadores, visando à ligação duradoura da vanguarda do proletariado com essas massas. Nas mais diferentes situações, nosso Partido tem procurado empregar todas as formas de luta e organização desde as formas de luta econômicas e sindicais, até à participação nas eleições e à utilização da tribuna parlamentar. As possibilidades legais jamais foram desprezadas pelo nosso Partido.

Tivemos êxitos e acertos. Mas, como diz o camarada Prestes em seu informe ao IV Congresso, “vai uma grande distância entre conhecer o marxismo-leninismo, desejar aplicá-lo a uma realidade concreta e determinada, e efetivamente realizar essa aplicação”. Daí porque a influência ideológica da pequena-burguesia, por mais de uma vez, levou-nos a percorrer caminhos errôneos. Nosso Partido, entretanto, nesses 34 anos, acumulou uma rica experiência. O exame autocrítico de nossas experiências negativas, que não vacilamos em denunciar, indicou-nos o caminho correto. Hoje, aprovado em nosso IV Congresso o Programa do PCB, programa de salvação de nosso povo, dispomos de uma base sólida para a luta ideológica em nossas fileiras, a mais rápida formação de nossos quadros e o avanço impetuoso de nosso Partido. Assim, nos preparamos melhor para vencer. Nosso programa será transformado em programa de todo o povo.

Lutando em defesa das liberdades democráticas, da Constituição, contra qualquer golpe de Estado ou militar reacionário, intensificando a luta por uma anistia ampla, pela paz e a independência nacional, em defesa do petróleo, contra a carestia de vida e por melhores condições de vida para o povo, temos a maneira concreta de lutar no momento atual pelo Programa do Partido.

Para isso, torna-se indispensável compreender, como nos ensina Khrushchov no informe ao XX Congresso do PCUS, que “o principal, no trabalho de organização do Partido, é o trabalho entre as massas, a influência nas massas, a organização das massas”.

Nosso dever é caminhar com as massas, estabelecer a unidade de ação, ampliar a unidade das forças democráticas e patrióticas, ir à ampla frente democrática de libertação nacional, que se apoia na aliança operário-camponesa.

O povo brasileiro, pela sua própria experiência, sente que o PCB é o único partido que pode dirigi-lo em sua luta pela liberdade e a emancipação nacional e social.

Façamos que, ao completar 34 anos de existência, o Partido de Prestes seja cada vez mais a esperança e a honra da nação brasileira.


[1] MARIGHELLA, Carlos. O PCB – Esperança e Honra da Nação Brasileira. Voz Operária, Rio de Janeiro, 24 de março de 1956.

[2] Em 1960, o PCB, por questões jurídicas da legislação eleitoral à época, decide alterar seu nome para Partido Comunista Brasileiro, nome que persiste até hoje, havendo a decisão de se manter a sigla original do Partido. Um grupo de membros do Comitê Central do PCB, em decorrência de uma série de divergências internas iniciadas com as consequências do XX Congresso do PCUS e de futuros rompimentos no Movimento Comunista Internacional entre o Partido Comunista da China e o PCUS, e, em polêmica com demais membros do Comitê Central que atinge seu ápice no V Congresso do Partido (1960), promovem uma cisão em 1961, com a saída desses destacados dirigentes do PCB, o que culminou na fundação, em 1962, de um partido com o nome de Partido Comunista do Brasil, resgatando o nome antigo do PCB com uma nova sigla, PCdoB. [N. do T]

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