Vladímir Ilich Lênin – Dia do Trabalhador

Escrito em abril de 1904.

Originalmente disponível no site Marxists.

Tradução por Andrey Santiago.


Camaradas trabalhadores! Está chegando o Dia do Trabalhador, o dia em que os trabalhadores de todas as terras celebram seu despertar para uma vida com consciência de classe, sua solidariedade na luta contra toda coerção e opressão do homem pelo homem, a luta para libertar milhões de trabalhadores da fome, da pobreza, e humilhação. Dois mundos se enfrentam nesta grande luta: o mundo do capital e o mundo do trabalho, o mundo da exploração e da escravidão e o mundo da fraternidade e da liberdade.

De um lado está o punhado de ricos sanguessugas. Eles tomaram as fábricas e moinhos, as ferramentas e máquinas, transformaram milhões de hectares de terra e montanhas de dinheiro em sua propriedade privada. Eles fizeram do governo e do exército seus servos, fiéis cães de guarda da riqueza que acumularam.

Do outro lado estão os milhões de despossuídos. Eles são forçados a implorar aos endinheirados permissão para trabalhar para eles. Por seu trabalho eles criam toda a riqueza; no entanto, durante toda a vida, eles têm que lutar por um pedaço de pão, implorar por trabalho como por caridade, minar suas forças e saúde com trabalho árduo e passar fome em casebres nas aldeias ou nos porões e sótãos das grandes cidades.

Mas agora esses trabalhadores despossuídos declararam guerra aos ricos e exploradores. Os trabalhadores de todas as terras estão lutando para libertar o trabalho da escravidão assalariada, da pobreza e da miséria. Eles estão lutando por um sistema de sociedade onde a riqueza criada pelo trabalho comum irá beneficiar, não um punhado de homens ricos, mas todos aqueles que trabalham. Eles querem fazer da terra e das fábricas, moinhos e máquinas propriedade comum de todos os trabalhadores. Eles querem acabar com a divisão entre ricos e pobres, querem que os frutos do trabalho vão para os próprios trabalhadores, e todas as realizações da mente humana, todas as melhorias nas formas de trabalhar, para melhorar o destino do homem que trabalha e não servir como meio de oprimi-lo.

A grande luta do trabalho contra o capital custou imensos sacrifícios aos trabalhadores de todos os países. Eles derramaram rios de sangue em nome de seu direito a uma vida melhor e a uma liberdade real. Aqueles que lutam pela causa dos trabalhadores são submetidos pelos governos a perseguições inenarráveis. Mas, apesar de todas as perseguições, a solidariedade dos trabalhadores do mundo está crescendo e ganhando força. Os trabalhadores unem-se cada vez mais estreitamente em partidos socialistas, os apoiadores desses partidos são milhões e avançam firmemente, passo a passo, para a vitória completa sobre a classe dos exploradores capitalistas.

O proletariado russo também despertou para uma nova vida. Ele também se juntou a esta grande luta. Longe vão os dias em que nosso trabalhador trabalhava como escravo, sem ver escapatória de seu estado de escravidão, sem vislumbre de luz em sua vida amarga. O socialismo mostrou-lhe a saída, e milhares e milhares de combatentes se aglomeraram em torno da bandeira vermelha, como uma estrela-guia. As greves mostraram aos trabalhadores o poder da unidade, ensinaram-nos a revidar, mostraram como o trabalho organizado do capital pode ser formidável. Os trabalhadores viram que é do seu trabalho que os capitalistas e o governo vivem e enriquecem. Os trabalhadores estão animados com o espírito de luta unida, com a aspiração à liberdade e ao socialismo. Os trabalhadores perceberam que força obscura e maligna é a autocracia czarista. Os trabalhadores precisam de liberdade para sua luta, mas o governo czarista os amarra de pés e mãos. Os trabalhadores precisam de liberdade de reunião, liberdade de organização, liberdade para jornais e livros, mas o governo czarista esmaga, com chicote, prisão e baioneta, qualquer luta pela liberdade. O grito “Abaixo a autocracia!” varreu toda a Rússia, tem soado cada vez mais nas ruas, em grandes comícios de trabalhadores. No verão passado, dezenas de milhares de trabalhadores em todo o sul da Rússia se levantaram para lutar por uma vida melhor, pela liberdade da tirania policial. A burguesia e o governo tremeram ao ver o formidável exército de trabalhadores, que de um só golpe paralisou toda a vida industrial das grandes cidades. Dezenas de combatentes da causa dos trabalhadores caíram sob as balas das tropas que o czarismo enviou contra o inimigo interno.

Mas não há força que possa vencer esse inimigo interno, pois as classes dominantes e o governo vivem apenas de seu trabalho. Não há força na terra que possa quebrar os milhões de trabalhadores, que estão crescendo cada vez mais com consciência de classe, cada vez mais unidos e organizados. Cada derrota sofrida pelos trabalhadores traz novos lutadores para as fileiras, desperta as massas mais amplas para uma nova vida e as prepara para novas lutas.

E os acontecimentos pelos quais a Rússia está passando agora são tais que esse despertar das massas trabalhadoras está destinado a ser ainda mais rápido e generalizado, e devemos esforçar todos os esforços para unir as fileiras do proletariado e prepará-lo para uma luta ainda mais decidida. A guerra está fazendo com que mesmo as camadas mais atrasadas do proletariado se interessem pelos assuntos e problemas políticos. A guerra mostra cada vez mais clara e vividamente a total podridão da ordem autocrática, a total criminalidade da polícia e da quadrilha do tribunal que governa a Rússia. Nosso povo está morrendo de necessidade e fome em casa – mas eles foram arrastados para uma guerra ruinosa e sem sentido por territórios estranhos a milhares de quilômetros de distância e habitados por raças estrangeiras. Nosso povo está subjugado à escravidão política – mas foi arrastado para uma guerra pela escravização de outros povos. Nosso povo exige uma mudança na ordem política em casa – mas procura desviar sua atenção pelo troar de armas do outro lado do mundo. Mas o governo czarista foi longe demais em sua aposta, em seu esbanjamento criminoso da riqueza e da juventude da nação, enviada para morrer nas costas do Pacífico. Toda guerra pressiona o povo, e a difícil guerra contra o Japão culto e livre é uma pressão terrível para a Rússia. E essa tensão surge em um momento em que a estrutura do despotismo policial já começou a vacilar sob os golpes do proletariado nascente. A guerra está desnudando todos os pontos fracos do governo, a guerra está destruindo todos os falsos disfarces, a guerra está revelando toda a podridão interior; a guerra está tornando óbvio para todos o absurdo da autocracia czarista e está mostrando a todos a agonia da velha Rússia, a Rússia onde o povo é privado de direitos, ignorante e intimidado, a Rússia que ainda está em servidão ao governo policial.

A velha Rússia está morrendo. Uma Rússia livre está vindo para tomar seu lugar. As forças das trevas que guardavam a autocracia czarista estão afundando. Mas apenas o proletariado consciente e organizado pode deferir-lhes o golpe mortal. Somente o proletariado consciente e organizado pode conquistar a verdadeira, e não falsa, liberdade para o povo. Somente o proletariado consciente e organizado pode frustrar qualquer tentativa de enganar o povo, de cercear seus direitos, de fazer dele um mero instrumento nas mãos da burguesia.

Camaradas trabalhadores! Nos preparemos então com energia redobrada para a batalha decisiva que se avizinha! Que as fileiras dos proletários social-democratas se fechem cada vez mais! Que sua palavra se espalhe cada vez mais longe! Que a campanha pelas reivindicações dos trabalhadores seja cada vez mais ousada! Que a celebração do Primeiro de Maio conquiste milhares de novos combatentes para nossa causa e aumente nossas forças na grande luta pela liberdade de todos os povos, pela libertação de todos os que labutam sob o jugo do capital!

Viva o dia de oito horas!

Viva a social-democracia revolucionária internacional!

Abaixo a criminosa e saqueadora autocracia czarista!

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