Texto extraído do jornal Novos Rumos, nº 2, 1959.
O II Congresso do Partido Operário Social Democrata da Rússia – Congresso de formação do partido, em que foram aprovados o seu programa e seus Estatutos – transcorreu numa atmosfera extremamente tensa. Lênin e os “iskristas” tiveram de travar uma luta implacável contra os que se opunham à criação de um partido único e organizado da classe operária, orientado pelo marxismo. Mas, mesmo entre os adeptos do “Iskra” haviam elementos vacilantes e oportunistas, que preferiam conciliar as tendências opostas em vez de enfrentar a luta. Tais elementos não se sentiam bem na atmosfera carregada do Congresso. Em sua obra “Um passo adiante, dois passos para trás”, Lênin fixa o seguinte episódio do Congresso:
“Não posso deixar de relembrar uma palestra que tive no Congresso com um delegado pertencente ao “Centro”.
– “Quão tensa é a atmosfera deste Congresso”, queixava-se ele. “Este conflito encarniçado, esta agitação, um contra o outro, estas polêmicas acesas, estas relações inamistosas!…”
– “Que magnífico Congresso é este!”, Respondi-lhe, “Uma luta aberta e livre! As opiniões são ventiladas. Os matizes de opinião se revelam. Manifestam-se grupos. Levantam-se as mãos. Uma decisão é anotada. Deixa-se para trás uma etapa. Para a frente! – eis do que eu gosto. Isto é a vida. Não se trata de uma interminável e aborrecida discussão em que tudo são palavras de intelectuais e que se encerram não porque se tenham resolvido uma questão, mas simplesmente porque as pessoas cansaram de falar…”
O camarada do “Centro”, encarou-me com os olhos assombrados e encolheu os ombros. Estávamos falando linguagens diferentes.