Escrito entre o fim de janeiro e começo de fevereiro de 1913.
Publicado originalmente no jornal Krasnaya Niva nº3. Assinado por W.
Tradução para o inglês por Stepan Apresyan.
Disponível no site Marxists, clique aqui para acessar.
Tradução para o português por Andrey Santiago.
Que estranha comparação, o leitor pode pensar. Como uma raça pode ser comparada com uma nação?
É uma comparação possível. Os negros foram os últimos a se libertarem da escravidão e ainda carregam, mais do que ninguém as cruéis marcas da escravidão – mesmo nos países avançados – dado que o capitalismo não tem “espaço” para outra emancipação senão a emancipação legal, e mesmo esta última restringe de todas as maneiras possíveis.
No que diz respeito aos russos, a história diz que eles foram “quase” libertados da escravidão servil em 1861. Foi quase no mesmo período, após a guerra civil contra os proprietários de escravos americanos, que os negros da América do Norte foram libertados da escravidão.
A emancipação dos escravos americanos ocorreu de maneira menos “reformadora” do que a dos escravos russos.
É o porquê hoje, meio século depois, os russos ainda apresentam muito mais vestígios de escravidão do que os negros. Na verdade, seria mais correto falar de instituições e não apenas de vestígios. Mas neste breve artigo nos limitaremos a uma pequena ilustração do que comentamos, a saber, a questão da alfabetização. Sabe-se que o analfabetismo é uma das marcas da escravidão. Em um país oprimido por paxás [1], Purishkeviches [2] e outros semelhantes, a maioria da população não pode ser alfabetizada.
Na Rússia, há 73% de analfabetos, excluindo crianças menores de nove anos.
Entre os negros norte-americanos, havia (em 1900) 44,5 por cento de analfabetos.
Essa porcentagem escandalosamente alta de analfabetos é uma vergonha para um país civilizado e avançado como a República da América do Norte. Além disso, todos sabem que a posição dos negros na América em geral é indigna de um país civilizado – o capitalismo não pode oferecer a emancipação completa, nem mesmo a igualdade completa.
É instrutivo que entre os brancos na América a proporção de analfabetos não seja superior a 6 por cento. Mas se dividirmos a América em áreas anteriormente escravistas (uma “Rússia” americana) e áreas não escravistas (uma não-Rússia americana), encontraremos 11-12 por cento de analfabetos entre os brancos no primeiro e 4-6 por cento nas últimas áreas!
A proporção de analfabetos entre os brancos é duas vezes maior nas áreas ex-escravistas. Não são só os negros que mostram vestígios de escravidão!
Que vergonha para a América pela terrível situação dos negros!
Nota do Tradutor
[1] Paxá se trata da denominação político-militar dada aos oficiais do Império Otomano que governavam províncias, generais, dignatários e outros, seu equivalente no Ocidente seria próximo ao título de “Excelência”.
[2] Referência ao político russo Vladimir Purishkevich (1870 – 1920), conhecido por suas posições abertamente reacionárias, anticomunistas, monarquistas, ultra-nacionalistas e antissemitas. Considerado um dos primeiros fascistas russos.