14 de novembro de 1879.
Publicado no livro Correspondências Selecionadas [Selected Correspondence] de Karl Marx e Friedrich Engels (Progress Publishers, Moscou, 1975).
Digitalizado e preparado para o Marxist Internet Archive por Paul Flowers.
Tradução de Laura Battistam.
… E isso me leva ao Relatório. [1] Embora o começo seja muito bom e o tratamento do debate sobre tarifas protecionistas – nessas circunstâncias – seja hábil, as concessões feitas aos filisteus alemães na terceira parte não são bem-vindas. Por que aquela passagem totalmente supérflua sobre a “guerra civil”, por que aquela reverência à “opinião pública” que na Alemanha sempre será a do filisteu da cervejaria? Por que aqui a obliteração total do caráter de classe do movimento? Por que dar aos anarquistas essa base para se alegrarem? Além disso, todas essas concessões são totalmente inúteis. O filisteu alemão é a encarnação da covardia; ele respeita apenas aqueles que o inspiram com medo. Mas quem quer entrar em suas boas graças, ele considera um de sua própria espécie e o respeita não mais do que a sua própria espécie, ou seja, de modo nenhum. E agora que a “tempestade” de indignação do filisteu da cervejaria, chamada opinião pública, cedeu, como geralmente se admite, de novo e, uma vez que a carga tributária de todo modo acabou com o ânimo dessas pessoas, por que esses discursos melosos? Se você soubesse como eles soam no exterior! É muito bom que os órgãos do Partido sejam editados por pessoas que estão no centro do Partido e da luta. Mas, se você tivesse estado apenas seis meses no exterior, pensaria de maneira bem diferente dessa autodegradação totalmente desnecessária dos deputados do Partido perante aos filisteus. A tempestade que desabou sobre as cabeças dos socialistas franceses depois da Comuna foi, afinal, algo bem diferente do clamor gerado na Alemanha por conta do caso Nobiling [2]. E quão mais orgulhosa e digna era a atitude dos franceses! Onde você encontra entre eles tamanha franqueza, tais elogios aos oponentes? Eles ficavam em silêncio quando não podiam falar livremente; eles deixaram os filisteus gritarem o quanto quiseram, sabendo que a sua hora certamente chegaria novamente; e agora chegou…
Quanto ao resto, quero apenas comentar sobre as insinuações de Auer [3] de que aqui não subestimamos nem as dificuldades que o Partido tem de enfrentar na Alemanha, nem a importância dos sucessos alcançados, no entanto, e a conduta bastante exemplar até agora das massas do Partido. Naturalmente, nem é preciso dizer que cada vitória conquistada na Alemanha alegra nossos corações tanto quanto qualquer outra vitória em outro lugar, ainda mais porque, desde o início, o desenvolvimento do Partido Alemão esteve associado às nossas afirmações teóricas. Mas, por isso mesmo, devemos estar particularmente interessados em ver que a conduta prática do Partido Alemão e, especialmente, as declarações públicas da direção do Partido devem estar em harmonia com a teoria geral. A nossa crítica certamente não é agradável para algumas pessoas. No entanto, certamente deve ser de maior valor para o Partido e sua liderança do que todos os elogios acríticos de ter no exterior algumas pessoas que, imparciais por confundir as condições locais e os detalhes da luta, medem acontecimentos e declarações de tempos em tempos por meio de proposições teóricas válidas para todos os movimentos proletários modernos, e que transmitem a impressão que suas ações criam fora da Alemanha.
Com amizade,
F Engels
Notas
1. Engels se refere ao “Rechenschaftsbericht der sozialdemokratischen Mitglieder des deutschen Reichstages” (‘o Relatório dos membros sociais-democratas do Reichstag alemão’), publicado no DerSozialdemokrat de 12, 19 e 26 de outubro de 1879, pela Progress Publishers.
2. A alusão é aos atentados contra a vida de Guilherme I por Max Hödel em 11 de maio, e o anarquista Nobiling em 2 de junho de 1878, que proporcionou a Bismarck uma oportunidade conveniente para introduzir a Lei Anti-Socialista – Progress Publishers.
3. O social-democrata alemão Ignaz Auer (1846-1907), líder do partido Social-Democrata, foi elegido repetidamente a deputado do Reichstag, mais tarde virou um reformista – Progress Publishers.
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