Poemas Selecionados de Langston Hughes

Em memória ao aniversário de um dos maiores intelectuais negros dos EUA – este que teve papel proeminente no Renascimento do Harlem, movimento artístico de negros estadunidenses que elevou a arte negra para patamares nunca antes vistos – o TraduAgindo publica uma série de poemas selecionados com o intuito de resgatar sua importante contribuição literária.

Langston Hughes nasceu em 1 de janeiro de 1901 em Joplin, Missouri e faleceu em 22 de maio de 1967, em Nova Iorque.

Os poemas selecionados foram extraídos em parte do site Ars Poetica et Humanitas, Revista Ponto Virgulina e Marxists, com uma tradução autoral do TraduAgindo no poema “Cansado”.


Cansado

Estou tão cansado de esperar,
Você não está,
Para o mundo se tomar bom
E bonito e gentil?
Vamos pegar uma faca
E cortar o mundo em dois-
E ver que vermes estão comendo
Em sua crosta.

Tradução de Andrey Santiago.

Harlem
(Tradução in memoriam Marielle Franco)

O que sucede ao sonho preterido?

Resseca, acaso,
qual sob o sol as uvas?
Ou infesta-se qual chaga—
e vaza—pústula?
Acaso fede a carne podre?
Ou incrusta-se e açucara—
qual um melado doce?

Qual fardo pesado
talvez só se dobre.

Ou será que explode?

Tradução de Victor Martins Pinto de Queiroz.

Aspiração

Estirar os braços
Ao sol nalgum lugar
E até que morra o dia
Dançar, pular, cantar!
Depois sob uma árvore,
Quando já entardeceu,
Enquanto a noite vem
– Negra como eu –
Descansar… É o que quero!

Estirar os braços
Ao sol nalgum lugar,
Cantar, pular, dançar
Até que a tarde caia!
E dormir sob uma árvore
– Este o desejo meu –
Quando a noite baixar
Negra como eu.

Tradução de Manuel Bandeira.

A lua está nua

A lua está despida.
O vento despiu a lua.
O vento arrancou do corpo da lua
as suas vestes de nuvens.
E agora ela está nua,
inteiramente nua.

Mas já não coras,
ó lua impudica?
Pois tu não sabes
que não é bonito estar nua?

Tradução de Manuel Bandeira.

O negro fala sobre rios

Conheço rios:
Conheço rios tão antigos quanto o mundo e mais velhos que
o fluxo de sangue humano nas veias humanas.

Minha alma se tornou profunda como os rios.

Banhei-me no Eufrates quando eram jovens as auroras.
Construí minha cabana junto ao Congo e ele me embalou o sono.
Olhei para o Nilo e acima dele levantei as pirâmides.
Ouvi o canto do Mississippi quando Abraham Lincoln
desceu até New Orleans e vi seu seio
lamacento tornar-se dourado ao pôr-do-sol.

Conheço rios:
Antigos, cinzentos rios.

Minha alma se tornou profunda como os rios.

Tradução mista de Carlos Machado e Dalcin Lima.

Negro

Sou Negro:
Negro como a noite é negra,
Negro como as profundezas da minha África.

Fui escravo:
Cesar me disse para manter os degraus da sua porta limpos.
Eu engraxei as botas de Washington.

Fui operário:
Sob minhas mãos ergueram-se as pirâmides.
Eu fiz a argamassa do Woolworth Building.

Fui cantor:
Durante todo o caminho da África até a Georgia
Carreguei minhas canções de dor.
Criei o ragtime.

Fui vítima:
Os belgas cortaram minhas mãos no Congo
Estão me linchando agora no Mississipi.

Sou Negro
Negro como a noite é negra
Negro como as profundezas da minha África.

Tradução de Leo Gonçalves.

Eu, também

Eu, também, canto a América

Eu sou o irmão mais preto.
Quando chegam as visitas,
Me mandam comer na cozinha.
Mas eu rio
E como bem,
E vou ficando mais forte.

Amanhã,
Quando chegarem as visitas
Me sentarei à mesa.
Ninguém ousará,
então,
me dizer,
“Vá comer na cozinha”.

Além do mais,
Eles verão quão bonito eu sou
E se envergonharão –

Eu, também, sou a América.

Tradução de Leo Gonçalves.

Lênin

Lênin caminha pelo mundo.
Fronteiras não podem impedi-lo.
Nem quartéis nem barricadas impedem.
Nem o arame farpado o assusta.

Lênin caminha pelo mundo.
Pretos, marrons, e brancos o recebem.
O idioma não é barreira.
As línguas mais estranhas creem nele.

Lênin caminha pelo mundo.
O sol se põe como cicatriz.
Entre a escuridão e o amanhecer
Ascende a estrela vermelha

Tradução por Vinícius Azevedo.

Baladas de Lênin

Camarada Lênin da Rússia,
No alto da tumba de mármore,
Mova-se, Camarada Lênin,
E dê-me lugar.

Sou Ivan, o camponês,
Botas todas lamacentas pelo solo.
Eu lutei com você, Camarada Lenin.
Agora terminei meu trabalho.

Camarada Lênin da Rússia,
No alto da tumba de mármore,
Mova-se, Camarada Lênin,
E construa-me espaço.

Sou Chico, o Negro,
Cortando cana sob o sol.

Eu vivo por ti, Camarada Lenin.
Agora meu trabalho está feito.

Camarada Lênin da Rússia,
No alto da tumba de mármore,
Mova-se, Camarada Lênin,
E deixe-me no quarto.

Sou Chang das fundições
Em greve nas ruas de Shanghai.
Pelo bem da Revolução
Eu lutarei, ficarei com fome, morrerei.

Camarada Lênin da Rússia
Fala do alto da tumba de mármore:
Sempre na defesa dos trabalhadores —
O mundo é o nosso espaço!

Tradução por Vinícius Azevedo.

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