August Thalheimer – O Fascismo, A Pequena Burguesia e a Classe Operária

Publicado em “Rote Fahne”, jornal diário do Partido Comunista Alemão, julho de 1923.

Originalmente disponível no site Marxists.

Tradução por Erich Sachs.


Existem hoje na Alemanha apenas três poderes reais e de fato: os grandes trustes capitalistas, o fascismo e o comunismo.

A base social do fascismo é a pequena-burguesia, as camadas médias, enquanto a do comunismo é a classe operária. Está na natureza da pequena-burguesia oscilar entre os pólos do capitalismo e do proletariado. O fascismo é o movimento da pequena-burguesia voltado para o grande capital, que utiliza esse movimento para suas finalidades contra as da classe operária. E por isso a pequena-burguesia é fatalmente enganada. Pois, a ditadura apoiada nos pequeno-burgueses não é a ditadura da pequena-burguesia. Ela é a ditadura do grande capital, como hoje aparece evidente na Itália. Mussolini já jogou às traças o programa pequeno-burguês que lhe auxiliou a conquistar o poder. Isso não significa que Mussolini cairá amanhã. Cairá quando a classe operária tiver acumulado suficiente força para — apoiada no descontentamento crescente da pequena-burguesia — destruir o poder militar do governo fascista.

Na Alemanha a evolução da pequena-burguesia em direção ao fascismo, isto é, ao lado do grande capital, é a consequência direta da traição da Social-Democracia, não apenas dos interesses da classe operária, mas também dos das classes médias. Vinculada à grande burguesia, a Social-Democracia não foi nem sequer capaz de conduzir a pequena-burguesia na luta pela sua existência contra o grande capital.

Desta forma, a Social-Democracia expôs a classe operária ao perigo de um ataque em bloco das classes médias e do grande capital, sob a direção deste último. A dimensão deste perigo só os tolos não enxergam. E só os tolos podem crer poder enfrentar o perigo com a ajuda — com perdão da palavra — do “Exército da República” e, eventualmente, com a colaboração das tropas de choque socialistas; enquanto ao mesmo tempo continua a pilhagem do proletariado e das classes médias pelo grande capital, o roubo através dos impostos, da usura e da desvalorização dos salários.

A vitória política sobre o fascismo, exige uma mudança profunda da atitude política da maioria da classe operária; uma ruptura radical com o grande capital e a vontade resoluta do proletariado em defender até o fim os interesses da pequena-burguesia contra o grande capital. Da mesma forma como o proletariado, a pequena-burguesia sofre o peso dos impostos; suporta a usura do monopolizado comércio por atacado e da grande indústria, como sofre a desvalorização do marco que sugou suas economias, e continuamente deprecia seus rendimentos. E se vai a Bolsa ou ao banco para depositar seus rendimentos, para assim assegurá-los, seguramente sairá de lá esfolada.

O grande capital triturou com a mesma intensidade tanto os pequenos artesãos, pequenos comerciantes, pequenos camponeses, aposentados e trabalhadores intelectuais, deixando — literalmente — morrer à mingua as camadas que sustentam a cultura burguesa.

O Partido Comunista está decidido a realizar uma mudança fundamental nesta situação. O ônus esmagador dos impostos tem de ser tirado dos ombros da pequena-burguesia como dos trabalhadores. Para isso servirá o levantamento dos valores patrimoniais capitalistas. Mas isso só não basta. Todo o nefasto jogo da anarquia econômica e financeira tem que ser abolido mediante a intervenção planificada dos trabalhadores: controle rigoroso da economia, planificação no interesse e através da participação de todos os trabalhadores.

A propriedade pequeno-burguesa, o conhecimento e a capacidade dos intelectuais burgueses encontram lugar numa economia que está nas mãos dos trabalhadores. A palavra de ordem do grande capital consiste em manter-se à custa da miséria do pequeno-burguês e do trabalhador. De fato, durante todos estes anos, o trabalhador foi roubado constantemente de uma parte do valor de sua força de trabalho e o pequeno-burguês foi desapropriado pouco a pouco pelo grande capital. A palavra de ordem do comunismo é: aumento da produtividade através de um emprego maior da técnica; pela planificação e extinção dos intermediários parasitas e de todo o luxo.

Para findar com as penúrias mais urgentes, um governo operário-camponês deverá imediatamente confiscar e distribuir os estoques de móveis, de roupas, de alimentos e as casas dos ricos.

A garantia mínima de existência dos trabalhadores, classes médias produtivas e trabalhadores intelectuais, terá de ser o primeiro e decisivo passo de um governo operário revolucionário.

Só como defensor sincero e intransigente dos interesses da classe média afligida, poderá o proletariado arrancar a arma fascista das mãos do grande capital e, assim, reforçar suas próprias fileiras com todos aqueles destas camadas médias que estejam dispostos a lutar ao lado dos trabalhadores.

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