Método de Organização: Construindo de um Novo Jeito [PDF]

Lançado em 2000, pelo Setor de Formação do MST, o caderno inclui os seguintes textos que contemplam noções elementares para o funcionamento saudável de uma organização:

• Trabalho de base a abrangência do método por Ademar Bogo;
• Método de planejamento por Ademar Bogo;
• O companheiro que não gostava de ler por Frei Betto;
• A delegação de tarefas e poderes como mecanismo para projetar e formar militantes por Adelar Pizetta;
• Algumas recomendações para a expressão oral: fala e discurso por Adelar Pizetta;
• Como fazer uma reunião por Ademar Bogo.

Apresentação

A teoria da organização de um movimento social vai sendo elaborada no processo de sua construção, com o passar dos tempos. Quanto mais avançamos, mais descobrimos a importância da elaboração teórica para reafirmar e iluminar os passos da prática. Esta teoria terá sempre mais justeza, quanto maior for a preocupação de nossos dirigentes em compreender os desafios que a prática apresenta no decorrer da construção desta história.

Há momentos em que a teoria acentua mais os aspectos políticos da organização. Outras vezes, o peso maior cai sobre a formação de quadros, ou sobre aspectos educacionais, econômicos, artísticos, etc. Dessa vez achamos importante colocar a preocupação sobre o método.

Não existe uma única forma de se atingir um objetivo. Ocorre que, existem objetivos estratégicos estabelecidos em determinado período da história que permanecem vivos e atualizados, mas as circunstâncias e as condições para serem alcançados foram alteradas e precisamos alterar também a natureza dos meios se quisermos atingi-los.

Isto somente se consegue perceber se o estudo da realidade e do movimento interno que há em cada problema, em cada decisão política, for feito permanentemente. O sectarismo e a auto-suficiência podem nos levar um desvio irremediável que é o dogmatismo. Ou seja, podemos nos acostumar a fazer as coisas de um mesmo modo e acreditarmos que nada há para mudar. Desta forma vamos nos moldando como verdadeiros burocratas que já não dirigimos, apenas administramos os problemas e conflitos.

Nada é estático, por isso é fundamental prestar atenção nas mudanças que devem ser feitas em todas as áreas e dimensões que compõem a organização.

Fundamentalmente, os desafios exigem de nós intervenções concretas que levem a mudanças, Sendo assim tratamos o método como um instrumento que nos ajuda a dirigir melhor, distribuir tarefas, delegar responsabilidades ou mesmo aprender a gostar de ler. Ou seja, para cada aspecto existe um caminho, com meios adequados em cada momento, para se chegar aos objetivos.

Se sabemos coordenar a reunião de um jeito, pode haver outro que possibilite melhorar essa prática. Se não gostamos de ler, às vezes é falta de motivação, outras vezes pode ser falta de método de leitura que faz com que os livros se tornem insuportáveis. Ou então nos acusam de “centralizadores”, é porque não descobrimos que delegar tarefas e responsabilidades pode ser a forma mais eficiente de formar novos militantes e dirigentes e aliviar o peso das responsabilidades que carregamos sozinhos.

Enfim, é importante reconhecer que sempre temos algo novo a acrescentar em nossos conhecimentos para que nossa prática seja ainda mais eficiente.

Este caderno de formação pretende ser um instrumento de estudo e orientação par as atividades organizativas e formativas, isto porque, acreditamos que não basta dizer que sabemos, é preciso saber se o que sabemos é suficiente para nos levar onde queremos chegar.

Como lideranças nosso dever para com a história é servir o povo. Serviremos melhor se errarmos menos e se encurtarmos o caminho para a libertação deste povo. O conhecimento e o domínio de métodos corretos nos tornam verdadeiros arquitetos na construção da obra da libertação.

Que no futuro nossos descendentes se orgulhem de nós por termos edificado corretamente o pedaço da história que nos coube nesta curta existência.

Ademar Bogo

São Paulo, novembro 2000