O desenvolvimento do pensamento militar de Engels

Trecho retirado do livro “The First Red Clausewitz”: Friedrich Engels and Early Socialist Military Theory, 1848 – 1870”, editora Tannenberg Publishing, escrito por Michael A. Boden.

Tradução por Iago Braga.

O Impacto da Revolução Francesa

A guerra moderna é necessariamente o produto da Revolução Francesa. Sua pré-condição é a emancipação social e política da burguesia e de pequenos camponeses.[i]

Nenhum outro evento na história moldou tanto a mente de Friedrich Engels quanto a Revolução Francesa. Durante esses anos de tumulto, as mudanças sociais que ocorreram tiveram mais impacto nos eventos posteriores do séc. XIX do que qualquer outro incidente.  Essas mudanças, apesar iniciadas na esfera social, não permaneceram nela e tiveram um impacto tremendo sobre a maneira como as guerras eram travadas. Quando se combinam a natureza social da revolução com a importância dos exércitos em massa e o conceito de nação em armas, pode-se facilmente compreender a razão de Engels encontrar tamanha motivação em meio aos eventos da última década do séc. XVIII para o pensamento socialista. Engels viu a importância militar de tal espírito revolucionário em dois desenvolvimentos particulares: a dimensão e a composição do exército em massa e as inovações táticas que foram um subproduto indispensável desse processo. Esses elementos que decorreram da Revolução Francesa se tornaram profundamente importantes para os exércitos e para as relações desses exércitos com Estados e sociedades em toda a Europa durante o curso do séc. XIX.[ii] Na metade do século seguinte da Revolução Francesa, insurreições, tais como aquelas de Gracchus Babeuf e Louis Auguste Blanqui, olharam para os eventos da revolução como alicerces para seus movimentos.[iii]

Engels viu os exércitos em massa das Revoluções de Meados do Séc. XIX como outra personificação dos eventos de sessenta anos antes. E realmente, os exércitos que lutaram na Hungria consistiam de número muito menor de tropas do que os exércitos que lutaram as guerras da virada do século. A semelhança, no entanto, dependia da natureza dos exércitos. O sistema da França revolucionária fabricou outras possíveis modificações e reformas em todos os exércitos da Europa. Essas alterações permitiram que as nações mantivessem os exércitos muito maiores do que em qualquer época anterior. Engels utilizou a Alemanha de depois das reformas dos generais Gerhard Johann David von Scharnhorst e August Wilhelm A. N. von Gneisenau para incluir essa tendência de exércitos cada vez maiores.[iv] Mais importante do que números absolutos que esse sistema revolucionário produziu foi o tipo de soldado que criou – o soldado-cidadão. Engels corretamente reconheceu a importância de uma mobilização nacional abrangente em tempos de crise e como isso apenas foi possível depois do que ocorreu na Revolução Francesa. Assim como a chegada do sistema francês de 1789 aos estados alemães destruiu os resquícios do feudalismo alemão, as possibilidades para uma continuação dessa tendência na Rússia poderiam ser críticas para o sucesso proletário no futuro.[v] Quando a luta se iniciou na Hungria, Lajos Kossuth, o líder húngaro, reproduziu as ações dos revolucionários franceses Georges Danton e Lazare Carnot no desenvolvimento da Hungria para a guerra contra o Império Habsburgo. Como Engels afirmou, “as principais características da gloriosa data de 1793 são encontradas novamente na Hungria que Kossuth armou, organizou e inspirou com entusiasmo”.[vi] Por outro lado, enquanto se reconhecia a importância de tal mobilização para uma nação insurgente, Engels também reconheceu o medo com que os governos burgueses já estabelecidos da época viam em armar toda uma população. Isso, ele viu, também era um resultado direto das ações da Revolução Francesa.[vii]

O novo sistema deu às nações europeias um difícil dilema. As guerras da Revolução Francesa mudaram radicalmente e permanentemente a maneira com que as guerras foram conduzidas; uma nação precisava se adaptar ao novo paradigma vigente para sobreviver. Mas a maneira de mudar foi tão contrária à natureza das regras monárquicas que tais ações representavam um risco real de conflito interno potencialmente desastroso. Engels visualizou nesse paradoxo a oportunidade da revolução do proletariado.[viii] As tendências e inovações introduzidas pelas guerras da França revolucionária, entretanto, não poderiam ser revertidas ou tomadas de volta, e uma mudança ocorreu entre o Antigo Sistema e o Moderno. Qualquer revolução proletária no futuro, ou qualquer tentativa de subverter tal revolução desse modo, seria travada como uma guerra “moderna”, com o novo sistema totalmente instalado.[ix] Na sua contribuição “Exército” para o The New American Cyclopaedia, Engels definiu o novo sistema: “As principais características deste novo sistema são: a restauração do velho princípio de que cada cidadão é passível, caso necessário, de ser chamado para defender o seu país e a consequente formação do exército, por meios compulsórios, de maior ou menor extensão, por todos os habitantes.”[x]

Com o advento desses exércitos em massa, inovações táticas também apareceram. Embora Semmel possa ter exagerado a importância de tais avanços quando escreveu que Engels “colocou não apenas sua ênfase, mas todo o peso de seu argumento [da visão marxista do militarismo]” sobre eles, não pode haver dúvida de que Engels certamente tirou conclusões a partir dessas melhorias que levaram Napoleão ao curso do séc. XIX.[xi] Porém, somente uma década após as fracassadas Revoluções de Meados do Século, Engels reconheceu a importância das inovações táticas pré-1789 que a Revolução Francesa incorporou ao espectro da guerra em massa. Mas ele reconheceu, em alguns escritos tardios, certas inovações táticas que acompanharam o esquema mais amplo de realinhamento militar. Inicialmente, ele observou o aumento do uso de colunas e escaramuçadores pelos novos exércitos, como a mobilidade se tornou o elemento-chave nos exércitos. A respeito disso, as “táticas de linha” usadas pelos generais bem-sucedidos (Engels especificou John Churchill, Duque de Marlborough, Príncipe Eugenio de Saboia e Frederico II “o Grande” da Prússia) do século anterior tornaram-se subitamente obsoletas.[xii] Em segundo plano, o conceito de combinar as armas no campo de batalha, tentado pela primeira vez pelo Rei Gustavo Adolfo da Suécia durante a Guerra dos Trinta Anos, tornou-se mais refinado à medida que as misturas contemporâneas de infantaria, cavalaria e artilharia expandiam-se em escalão, dos exércitos aos corpos e divisões.[xiii] E em último plano, inovações tecnológicas mudaram as armas que esses novos exércitos usavam para conseguir lidar com a guerra moderna. Embora o pique medieval estivesse há muito desatualizado pela Revolução Francesa, melhorias mais recentes no peso dos mosquetes e na resistência ao vento, bem como o aprimoramento da artilharia pelo francês Jean Baptiste Vaquette de Gribeauval modernizaram significativamente a forma como os soldados lutavam.

Em suas reflexões sobre os eventos do meio do século, Engels se dedicou quase que por inteiro em abril de 1851 no panfleto “Conditions and Prospects of a War of the Holy Alliance Against France in 1852” para as inovações táticas possibilitadas pela Revolução Francesa. Muito deste panfleto dizia respeito a uma recontagem e avaliação aproximada das campanhas militares do general francês Charles François du Perier Dumouriez e as batalhas resultantes de Valmy e Neerwinden. Engels forneceu algumas observações astutas, contudo usou esse interlúdio mais como um fórum para prefaciar a sua seguinte discussão sobre os elementos que tornaram essas relevantes campanhas para as recém-concluídas insurgências europeias. Uma vez que Engels fundamentou as campanhas em uma forma narrativa, ele iniciou sua elucidação das operações, começando com uma discussão sobre a quantidade de soldados que lutaram, muito mais do que havia sido anteriormente em quaisquer campanhas anteriores da França. Esse novo exército de 1792, principalmente composto por um número de 500 a 750 mil novos recrutas, foi organizado e treinado rapidamente pelo corpo de oficiais revolucionários que o formaram para combater as grandes tropas da Coalizão.[xiv]

A definição de formação de Engels, porém, não implicava a habilidade de derrotar as tropas da Coalizão sozinho. Há uma outra dicotomia que esses novos exércitos revolucionários consideravam antes de entrar em combate, e as operações dos exércitos franceses em 1792 a 1795 demonstraram melhor essa discrepância. Os exércitos modernos possuíam tamanha magnitude que não poderiam ser organizados e disciplinados durante a noite, e apesar de que Engels deu créditos à liderança francesa por juntar e organizar uma força substancial, o nível de conhecimento militar e disciplina que poderia ser instilado foi bem menor do que era preciso para garantir a vitória. Portanto, novas táticas precisavam ser desenvolvidas para tirar vantagem de um grande número de soldados com padrões disciplinares questionáveis. Nesse caso, a França adotou os conceitos de táticas em massa para utilizar a vantagem numérica que eles possuíam. Essas táticas, no entanto, só poderiam ser incorporadas se a liderança, civil e militar, implantasse devidamente a força à sua disposição. Engels culpou a liderança francesa, particularmente Carnot, por falhar em fazer isso de modo efetivo. A única razão, segundo Engels, para a sobrevivência do Convênio Revolucionário foram os erros ainda mais debilitantes dos comandantes da Coalizão durante as campanhas de guerra.[xv]

O sistema francês também ofereceu um outro benefício adicional que as tropas da Coalizão não possuíam, o que Engels chamou de “caráter de massa”.[xvi] Foi esse conceito de espírito em massa dentro das forças armadas de um exército revolucionário que serviu como elemento crítico para o modelo de Engels de conflito armado mais tarde naquele século, um que era tão importante para a vitória quanto o avanço tático de mobilidade e manobra.[xvii] Os problemas que afetaram os movimentos revolucionários no final daquele século foram parcialmente resultados do fato de que tal caráter de massa somente foi possível em nações com um “estágio superior de civilização”. Para inspirar o “caráter” necessário dentro das massas que lutariam nessa guerra moderna era exigido um grau de educação que permitisse entender e compreender muitos dos diferentes níveis de guerra. No caso do estilo revolucionário de Engels, os soldados precisavam possuir o preparo para entender não somente as razões genéricas do conflito, mas também as razões da disciplina estrita e da obediência às ordens e, mais importante, possuir o “golpe de vista para a guerra em pequena escala”.[xviii]

A visão de Engels da transição revolucionária nas operações militares de forma particular não foi somente perspicaz, ela foi medular para o seu futuro como um comentador de assuntos militares. Mas isso não foi transferido diretamente para os campos de batalha das insurreições e de combate limitado ocorrido no séc. XIX. Houveram ainda consideráveis lacunas entre a organização e a administração da nação e do exército, a incorporação de uma nação em armas e uma vontade nacional na equação militar, e a aplicação de todas essas facetas frente ao o refinamento e à conclusão da Revolução Francesa. Uma complicação adicional surgiu na primeira metade do séc. XIX quando a Europa repentinamente e desajeitadamente se industrializou, o que, além disso, complicou a conjuntura social e proveu a Engels um último elemento para a sua fundamentação teórica. Essas lacunas começaram a ser preenchidas por Engels nos últimos anos do séc. XVIII sobre o general francês, logo imperador, Napoleão Bonaparte. Na campanha de Napoleão em 1796 no norte da Itália, o jovem corso forneceu o primeiro passo nessa direção. A sua campanha em Piemonte e “a efetiva aniquilação em detalhe de uma força superior mostrou às pessoas o objetivo para o qual estavam se movendo, sem que antes tivessem uma ideia clara disso”. [xix] Napoleão incorporou essa fusão política, social e militar ao longo de suas ações nas duas décadas seguintes.

O Interlúdio de Napoleão

No que diz respeito à arte moderna da guerra, ela foi completamente desenvolvida por Napoleão… não resta outro caminho a não ser imitar Napoleão, tanto quanto as condições o permitirem.[xx]

O Imperador francês fascinou Engels pela duração de sua vida. Em alguns de seus primeiros comentários sobre assuntos históricos, antes de Engels se apaixonar pelo conceito de revolução social, ele refletiu sobre Napoleão e suas batalhas nas suas cartas e em seus escritos.[xxi] À medida em que Engels amadurecia, seu apreço por certas qualidades na maneira como Napoleão conduzia a guerra crescia. Enquanto Engels sempre teve uma boa satisfação ao analisar as batalhas napoleônicas, ele acabou transformando sua absorção dos feitos do corso em um exame expandido da França e da Europa pós-revolucionárias. Foi Napoleão, na visão de Engels, quem agarrou firmemente os conceitos que surgiram pela primeira vez durante a Revolução Francesa e cimentou os conceitos vindos dos últimos anos do século XVIII em diante que definem a guerra moderna.

Taticamente, Napoleão fundamentou seu sistema moderno de guerra em dois princípios que surgiram das lutas na Revolução Francesa: táticas de massa e mobilidade.[xxii] Embora Engels discutisse os diversos atributos positivos de Napoleão e sua metodologia de guerra, sua avaliação raramente cobria as primeiras guerras da carreira de Napoleão. Enquanto Engels escreveu alguns pequenos comentários sobre ações específicas daquele período, em sua maior parte, seus escritos se concentraram nas atividades dos anos seguintes a 1812 e na desastrosa campanha russa. Para os quinze anos anteriores a 1812, seu foco primário permaneceu sobretudo em ações limitadas e em específicos tipos de guerra. A maioria dessas alusões refletiu lições conhecidas das Revoluções de Meados do Século e outras operações coloniais que aconteceram durante a vida de Engels. Por exemplo, Engels dedicou tempo no estudo da guerra nos Alpes, a primeira vez que Napoleão combinou as massas com as táticas militares na Itália, e da guerrilha insurgente na Espanha na Península Ibérica, todos relacionados de uma forma ou de outra com as guerras do final do séc. XIX.[xxiii]

Apesar de Engels nunca ter levado em frente ou especificamente declarado a razão dessa distribuição desbalanceada, parece por meio de seus escritos que ele considerava esses primeiros anos menos úteis no desenvolvimento de uma teoria do conflito socialista em massa. Entre as campanhas de Napoleão na Itália e a invasão russa, em geral, nenhum outro exército conseguiu a façanha de imitar o sistema de combate napoleônico. Por isso, a Europa não viu uma guerra com estilo completamente revolucionário nesse período. Foi somente depois que a vasta maioria dos exércitos europeus completou a transição para um estilo napoleônico de organização e combate que a modernização das forças de batalha europeias alcançou a sua realização; essa transformação se completou na maioria dos países por volta de 1812. Nesse ponto, e somente então, as condições se tornaram maduras o suficiente para que Engels dedicasse tempo para estudar o impacto direto do conflito moderno europeu no curso da revolução socialista.

Nessas campanhas, os princípios de guerra de Napoleão ainda eram evidentes e praticados por todos os lados. Engels demonstrou esse ponto por meio de suas discussões acerca da defesa de Napoleão na fronte de Paris em 1814 e nas campanhas de verão de 1813 anteriores às batalhas de Lutzen e Bautzen.[xxiv] Mas, além do aspecto convencional dessas campanhas, havia elementos adicionais não convencionais que desempenharam um papel no resultado final. Depois de 1812, as guerras não ocorriam mais unicamente entre tropas, mas agora incluíam todos os setores da sociedade dentro das nações da Europa. Anteriormente, apenas a França havia mobilizado toda a população para a condução da guerra e apenas com o advento do caráter de massa no combate através de todas as forças combatentes poderia uma nação agora conquistar a vitória total.[xxv] Uma indicação da expansão dessa dimensão na guerra ocorreu durante a campanha de Napoleão em 1812 em direção à Rússia, onde as tropas do Czar forçaram Napoleão a conduzir uma guerra de ocupação, consequência da necessidade de redução de aldeias particulares e lotes de terra, “em suma, toda a periferia”, a fim de atingir seus objetivos.[xxvi] É claro que ele nunca foi capaz de atingir uma meta global tão massiva como a subjugação da Rússia.

Esses foram os princípios orientadores pelos quais Engels conduziu suas análises do conflito europeu mais tarde naquele século. Estes últimos desenvolvimentos do caráter de massa nacional da guerra como elaborado por Napoleão encaixou diretamente dentro de seu conceito de mobilização de classe para um conflito revolucionário. Em geral, ele estava enojado com a conduta dos generais europeus nos poucos casos de guerra regular que ocorreram. O nadir do generalato europeu nessas circunstâncias foi a Guerra da Crimeia. Ele começou seus comentários sobre a guerra esperando ansiosamente por um conflito que iria eventualmente envolver todos os exércitos europeus e que seria realizado com base nos princípios napoleônicos e teria um profundo influxo para uma guerra de classes europeia.[xxvii] O perigo de tal conflagração aumentou seriamente por meio das ações do homônimo de Napoleão, o Imperador da França Luís Napoleão III, cuja compreensão dos assuntos militares era insignificante na opinião de Engels.[xxviii] Engels gradativamente ficou desiludido com essa visão, pois a condução da guerra não correspondia aos padrões dos conflitos meio século antes. Mesmo a França, a quem Engels tinha mais respeito que outros participantes do conflito, deu um passo para trás e conduziu a guerra em direção contrária à maneira como Napoleão o fazia em suas campanhas.[xxix] Na sua totalidade, Engels acreditava que “o todo dessa guerra tem sido, na aparência, uma guerra de fortificações e cercos, e aos olhos de observadores superficiais aniquilou completamente o progresso feito pela rápida manobra de Napoleão, levando assim a arte da guerra de volta para os dias da Guerra dos Sete Anos.”[xxx]

Na avaliação do progresso da guerra moderna desde o tempo de Napoleão, Engels acreditava seguramente que a natureza do conflito não havia mudado e que os princípios que tiveram seu proveito nas guerras da Revolução Francesa e tinham sido concluídos por Napoleão permaneceram completamente válidos. Essa compreensão forneceu aos praticantes da guerra revolucionária uma firme estrutura não só para a guerra revolucionária em si, mas também para a guerra irregular que necessariamente acompanhou os movimentos revolucionários de classe. Somente duas coisas haviam mudado entre a Batalha de Waterloo em 1815 e os eventos que aconteceram durante a vida de Engels e que impactaram as operações militares – a importância das fortificações e o advento do vapor como motriz.[xxxi] Engels fez a primeira dessas observações baseado na sua avaliação da Guerra da Crimeia, particularmente do Cerco de Sebastopol. O uso das fortalezas não era novo, mas a composição e utilização desses sistemas haviam mudado drasticamente. Engels viu que as leis da guerra moderna fizeram o sistema Vaubaniano (Sébastien Le Prestre, marquês de Vauban) de fortificação obsoleto e de pouco valor em uma guerra em massa. Eventos mais tarde naquele século provariam o seu ponto.[xxxii] A segunda observação de Engels, notando a importância do vapor, adapta-se ao advento da guerra industrial durante o curso do séc. XIX. Embora Engels não utilizasse o significado amplo desse tipo de guerra baseado na fábrica até quase o fim de sua vida, seu reconhecimento das inovações tecnológicas para a condução de operações militares era uma visão de futuro para o seu tempo.[xxxiii] Como um elemento final, com a última derrota de Napoleão, uma nova era alvoreceu na trajetória da história Europeia. Com a volta da paz, o crescimento industrial se iniciou na Europa, trazendo consigo problemas sociais e econômicos específicos daquele desenvolvimento. Essa expansão industrial, posta sobre a fundação de uma nova ordem na Europa, foi o elemento-chave para a definição da guerra de classe dentro da sociedade europeia e a raiz do conflito social nas próximas décadas.[xxxiv] Dessa maneira também, os eventos da Revolução Francesa e as guerras de Napoleão possuíram os elementos críticos de estruturação das relações entre guerra e revolução e entre exércitos e revoluções, duas interações que continuaram mantendo uma posição central ao longo dos anos em que Engels viveu.[xxxv] Essas relações asseguraram que com essa redefinição da guerra, a própria sociedade se tornou mais intimamente vinculada com os conflitos militares e a violência que a guerra acarretou.

À Barbárie e à Guerra Social

A sociedade de hoje, que reproduz hostilidades entre um homem e qualquer outro, produz assim uma guerra social de todos contra todos que, inevitavelmente, em casos individuais, principalmente entre pessoas sem instrução, assumiu uma forma brutal e barbaramente violenta – a criminosa.[xxxvi]

Uma das menores, porém, brilhantes contribuições de Engels trataram da natureza e da intensidade da guerra revolucionária. Quase desde de seus primeiros escritos como um jornalista iniciante, Engels cuidadosamente e repetidamente demonstrava as diferenças entre o caráter de uma guerra revolucionária popular (ao longo das linhas marxistas) e o caráter de uma guerra convencional travada dentro dos parâmetros de um paradigma napoleônico. A guerra durante as Revoluções de Meados do Século tomou um rumo mais bárbaro do que as guerras europeias realizadas há muitos séculos atrás. A guerra na metade do século em diante, particularmente no caso de revoltas e movimentos nacionalistas, incorporou muito mais atrocidades e atos de barbárie do que a Europa havia testemunhado em muitas gerações. Isso, é claro, de acordo com Engels, era de se esperar como parte integrante de um movimento revolucionário. O estilo burguês de guerra para o qual a Europa foi acostumada era, ele inferiu, um tipo mais gentil e nobre de guerra que raramente via atos de crueldade direcionados à população em geral, ou conduzidos pela população, em condições normais. Como a guerra daí em diante envolvia não só as forças armadas fixas de um Estado, mas também a população como um todo, qualquer tipo de conflito revolucionário agora precisava focar, pelo menos em algum nível, na moral de um inimigo.[xxxvii] A guerra agora se trata de uma “força social com uma dinâmica inerentemente própria”.[xxxviii] Como escreve Gallie, tal sociologia marxista, embora crua, era “a primeira sociologia da guerra já imaginada”.[xxxix] Com essa conduta de guerra de classe e o destino de todos os estilos de vida de todas as classes em jogo, a guerra retrocedeu à barbárie. Dois eventos intimamente relacionados claramente definiram essa transição na natureza da guerra no começo do séc. XIX: as guerras da Revolução Francesa e a ascensão do sistema de guerra de Napoleão.

Engels focou em duas áreas específicas ao discutir os atributos e os exemplos de desumanidade na guerra contemporânea. O primeiro desses casos ocorreu durante as Revoluções de Meados do Século, onde Engels observou uma quantidade considerável de crueldade executada dentro da esfera de influência de quase todos os combatentes. O único antagonista que pareceu mais humano que seus oponentes foram as forças húngaras e, a este respeito, detecta-se uma boa quantidade de parcialidade na escrita de Engels. O segundo exemplo levou Engels para fora do quadro continental ao discutir sobre as guerras coloniais em Ásia e África. É particularmente interessante notar como Engels faz um esforço claro para separar as guerras “civilizadas” do continente das violências brutais do mundo “não iluminado”. Engels, no entanto, não exime as forças europeias de conduta semelhante. Ele frequentemente condenou os exércitos do Ocidente, proeminentemente os ingleses, por suas ações injustificadas contra as populações locais. O ponto-chave é que Engels traçou fronteiras moralistas entre a guerra dentro e fora da Europa.

Engels viu os primeiros exemplos de tamanha brutalidade em guerra durante os dias de Junho de 1848. As ações da Guarda Nacional e das forças do General Louis-Eugene Cavaignac enviadas para suprimir a insurgência foram ordenadas não por uma lógica lei de guerra, mas ao invés disso por um grau de ódio de classe que infectou as forças à mando da burguesia no poder. Em resposta a isso, os trabalhadores de Paris não tiveram outro recurso senão combinar esse ódio com ódio semelhante e empreender atos de terrorismo para combater essas ações.[xl] Tamanho grau de ódio, viu Engels, não foi igualado em nenhum outro país europeu daquele tempo – Engels interessantemente selecionou a Alemanha de ser incapaz de tais ações – e nem tinha sido o caso na Europa por dois séculos, desde a Guerra dos Trinta Anos que terminou em 1648.[xli] Mesmo depois dos eventos de Paris se exaurirem, Engels viu neles, e nos consequentes eventos através da Europa, o início de um tipo de conflito ainda mais desumano do que havia sido na Europa em muitos séculos. Esta revolução consistiu, no início de setembro de 1848, “nos massacres e barbáries em Posen, no incendiarismo assassino de Radetzky, nas ferozes crueldades cometidas em Paris pelos vencedores do Junho de 1848 e nas carnificinas em Cracóvia e Praga, o domínio da brutal das tropas em toda parte – enfim, todos os ultrajes que constituem a ‘atualidade’ desta revolução hoje”.[xlii]

Essa brutalidade se alastrou facilmente para outros cenários por toda a Europa durante o curso das revoluções. Em nenhum outro lugar as ações assumiram uma forma mais corrosiva do que nas terras dos Habsburgos e, em particular, na Hungria. A razão primária para isso foi porque na Hungria não houve uma única revolta, mas muitos movimentos insurrecionais diferentes, todos se agarrando a objetivos e vontades semelhantes e alimentados pelos mesmos sentimentos de ódio nacionalista em vários níveis. Durante um período de dois anos, Engels apresentou aos seus leitores inúmeras formas de brutalidade praticadas por todos os lados no cenário húngaro. Entre janeiro de 1849[xliii] e o fim do verão de 1850,[xliv] ele se referiu a nove específicas atrocidades executadas por membros de várias unidades armadas, tanto regulares quanto irregulares. O general sérvio Kusman Todorovich, servindo aos Habsburgo, tirou a vida de mais de 400 civis em fevereiro de1849.[xlv] O austríaco nascido na Croácia Josip Jelačić incendiou mulheres e crianças vivas em suas próprias vilas três semanas depois.[xlvi] Os russos e os húngaros do general Josef Bem negociaram as execuções de prisioneiros durante as operações na Transilvânia em abril.[xlvii] Na conclusão das revoluções, quando ele escreveu seu famoso panfleto “A Guerra Camponesa Alemã”, a predileção de Engels frente à discussão das ações bárbaras durante esses tempos de conflito pode ser vista do mesmo modo como ele citou atividades similares que ocorreram três séculos antes.[xlviii]

O conflito na Crimeia forneceu à Engels um interlúdio militar relativamente “civilizado”, embora mal combatido e, portanto, maçante, com o qual ele se ocupou consideravelmente. Logo após sua conclusão, porém, ele começou a escrever uma série de artigos com relação às lutas europeias para dominar nações “não civilizadas” à margem do mundo conhecido. Durante esses conflitos, dez anos após as Revoluções de Meados do Século e alguns anos depois da Guerra da Crimeia, Engels demonstrou a maneira na qual o caráter da guerra retornou às formas nacionalistas e brutais de dez anos antes. Nessas circunstâncias – na Índia, na China, na Pérsia e na Argélia – as forças europeias foram compelidas a uma situação que era diferente de qualquer outra experiência que os prepararam para encontrar. Em tal situação, eles encararam inimigos que, no relato de Engels, aderiram a estranhos e apavorantes costumes, como afogar suas próprias famílias antes da batalha.[xlix] Desafiados por esses novos costumes e morais estrangeiros, os exércitos europeus poderiam deixar de devolver na mesma moeda. Engels retornou a este ponto frequentemente, comentando sobre as ações dos ingleses sobre a Ásia que “desde que os britânicos os trataram como bárbaros, eles não podiam negá-los o pleno benefício da sua barbárie”.[l]

Nessas passagens, Engels ficou preso entre atitudes conflitantes de guerra de classes baseadas em estruturas econômicas e sua arrogância eurocêntrica e atitude condescendente frente à não europeus. Logo, ele elogiou a “máfia asiática” por utilizar o método de guerra que eles estavam familiarizados e que os permitiu alcançar a vitória contra um inimigo com foco mais estreito, enquanto ele simultaneamente rebaixou a mentalidade ignorante e simplória que levou a essas táticas.[li] Igualmente na Índia, embora Engels reconheça a habilidade dos britânicos lutando contra os Sipaios insurgentes, ele repreendeu severamente os amotinados por sua incompetência nas habilidades militares básicas, uma deficiência que ele relacionou à falta de instrução.[lii] Mas houve uma dimensão adicional, certamente da perspectiva indiana, que os ingleses estavam conduzindo uma guerra social que visava a total destruição dos costumes culturais (tanto dos hindus quanto dos muçulmanos) da Índia, o que somente adicionou mais ferocidade à batalha. Mesmo que alguns relatórios vindos da Índia sejam exagerados, não pode haver dúvidas de que a brutalidade continuou demasiada nesse episódio. Em um relato,

Os indianos foram baleados e enforcados, queimados vivos e fuzilados pelos britânicos. Por sua vez, os rebeldes massacraram mulheres e crianças britânicas. Como se isso não bastasse, as histórias foram embelezadas por ambos os lados para apelar às suas próprias formas nacionais particulares de ultraje moral: do lado britânico, por relatos de que suas mulheres foram “desonradas” antes de serem assassinadas; do lado rebelde, há relatos de que os muçulmanos foram contaminados e costurados em peles de porco antes da execução.[liii]

Aqui novamente, porém, Engels notou que ao invés de fazer esforços para reduzir os excessos desumanos que ocorreram nesse ambiente, ele notou que a tendência dos ingleses era de imitar seus inimigos na condução de uma guerra brutal. A natureza revolucionária e a guerrilheira nesse conflito levaram a mais massacres de civis “do que em todas as guerras dos ingleses na Europa e na América juntas”.[liv] O escopo da guerra expandiu rapidamente durante  o começo do séc. XIX. Clausewitz teceu uma conclusão, que anda de mãos dadas com as observações de Engels sobre o assunto, de que as novas revoltas populares deveriam ser “consideradas como uma consequência do modo com o qual as barreiras convencionais têm sido varridas em nossa geração pela violência elementar da guerra”.[lv]


[i] Friedrich Engels, “Conditions and Prospects of a War of the Holy Alliance Against France in 1852”, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 10:550.

[ii] Henderson, vol. 2, 422.

[iii] G. D. H. Cole, A History of Socialist Thought, vol. 1, The Forerunners, 1789-1850 (London: Macmillan & Co., LTD, 1955), 6, 159-164.

[iv] Friedrich Engels, “The Agreement Debates”, Neue Rheinische Zeitung #45, 15 July 1848, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 7:228.

[v] McLellan, 202-3. McLellan está se referindo principalmente a Marx neste contexto, mas Marx e Engels possuem plena concordância em tal posição.

[vi] Friedrich Engels, “The Magyar Struggle”, Neue Rheinische Zeitung #194, 13 January 1849, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 8:227-8.

[vii] Friedrich Engels, “The Defeat of the Piedmontese”, Neue Rheinische Zeitung #261 (2nd edition), 1 April 1849, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 9:173.

[viii] Engels, “Conditions and Prospects”, 10:552-3.

[ix] Ibid., 10:556.

[x] Friedrich Engels, “Army”, The New American Cyclopaedia, vol. 2, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 18:114.

[xi] Semmel, 9-10.

[xii] Friedrich Engels, “Mountain Warfare in the Past and Present”, New York Daily Tribune #4921, 27 January 1857, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 15:167-8.

[xiii] Engels, “Army”, 18-114.

[xiv] Engels, “Conditions and Prospects”, 10:542, 543-5.

[xv] Ibid., 10-545-6.

[xvi] Importante notar que são semelhantes as concepções de Engels sobre “caráter de massa” e de Clausewitz sobre “caráter nacional”. Cf. em Carl von Clausewitz, Sobre a Guerra, trad. e ed. por Michael Howard e Peter Paret (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1984), 480.

[xvii] in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 2.

[xviii] Ibid., 10:551-3.

[xix] Ibid., 10:545.

[xx] Ibid., 10:547.

[xxi] Engels to Friedrich Graeber, Bremen, 1 February 1840, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 2:491; Engels to Marie Engels, Bremen, 6 December 1840, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975),2:517; Friedrich Engels, “The True Socialists”, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 5:553-4.

[xxii] Engels, “Conditions and Prospects”, 10:550.

[xxiii] Ibid., 10:545; Friedrich Engels, “The Battle of Inkerman”, New York Daily Tribune #4261, 14 December 1854, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 13:532; Engels, “Mountain Warfare”, 15:171; Friedrich Engels, “Po and Rhine”, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 16:221-2, 232.

[xxiv] Engels, “Conditions and Prospects”, 10:556; Friedrich Engels, “The Battle of the Alma”, New York Daily Tribune #4219, 26 October 1854, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 13:496.

[xxv] Friedrich Engels, “Blücher”, The New American Cyclopaedia, vol. 3, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 18:187.

[xxvi] Friedrich Engels, “The American Civil War”, Die Presse #85, 27 March 1862, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 19:193-4.

[xxvii] Friedrich Engels, “The Military Power of Russia”, New York Daily Tribune #4223, 31 October 1854, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 13:504; Friedrich Engels, “The European War”, New York Daily Tribune #4316, 17 February 1855, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 13:613.

[xxviii] Mayer, 145.

[xxix] Friedrich Engels and Karl Marx, “Criticism of the French Conduct of the War”, Neue Oder Zeitung #133, 20 March 1855, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 14:91.

[xxx] Friedrich Engels, “Crimean Prospects”, New York Daily Tribune #4508, 1 October 1855, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 14:528.

[xxxi] Friedrich Engels, “The Campaign in Italy”, Das Volk #4, 28 May 1859, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 16:346-7.

[xxxii] Engels, “Po and Rhine”, 16:247-8.

[xxxiii] Engels, “Campaign in Italy”, 16:347.

[xxxiv] Steven Marcus, Engels, Manchester, and the Working Class (New York: Random House, 1974), 14.

[xxxv] Berger, 63.

[xxxvi] Friedrich Engels, “Speeches in Elberfeld”, 8 February 1845, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 4:248.

[xxxvii] Gallie, 83.

[xxxviii] Ibid., 93.

[xxxix] Ibid., 136.

[xl] Friedrich Engels, “The 24th of June”, Neue Rheinische Zeitung #28, 28 June 1848, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 7:376.

[xli] Friedrich Engels, “German Foreign Policy and the Latest Events in Prague”, Neue Rheinische Zeitung #42, 12 July 1848, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975),7:212.

[xlii] Friedrich Engels, “The Frankfurt Assembly Debates the Polish Question”, Neue Rheinische Zeitung #93, 3 September 1848, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 7:376.

[xliii] Engels, “The Magyar Struggle”, 8:227.

[xliv] Friedrich Engels, “The Peasant War in Germany”, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 10:466.

[xlv] Friedrich Engels, “The War in Hungary”, Neue Rheinische Zeitung #219 (2nd edition), 11 February 1849, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 8:352.

[xlvi] Friedrich Engels, “Speech from the Throne”, Neue Rheinische Zeitung #235, 2 March 1849, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 8:447.

[xlvii] Friedrich Engels, “From the Theater of War”, Neue Rheinische Zeitung #263, 4 April 1849, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 9:188-90.

[xlviii] Engels, “The Peasant War”, 10:440, 446.

[xlix] Friedrich Engels, “A New English Expedition to China”, New York Daily Tribune #4990, 17 April 1857, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 15:245.

[l] Friedrich Engels, “Persia-China”, New York Daily Tribune #5032, 5 June 1857, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 15:281.

[li] Ibid., 15:280-2.

[lii] See Chapter 3, Section III.

[liii] Porter, 30.

[liv] Friedrich Engels, “Details of the Attack on Lucknow”, New York Daily Tribune #5333, 25 May 1858, in Marx and Engels Collected Works (New York: International Publishers, 1975), 15:529.

[lv] Clausewitz, 479.

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